O Mestre Ignorante é o título de um livro de Jacques Rancière,
filósofo francês, que foi desafiado a ensinar francês aos holandeses. Os
holandeses nada sabiam de francês e ele nada sabia de holandês. Como foi
possível a comunicação sem um meio comum, a decodificação da mensagem? Para
atingir tal desiderato, valeu-se do Telêmaco, uma espécie de
dicionário francês que serve para quase tudo. Pode, assim, exercitar-se na arte
de ensinar e de aprender.
A questão central do livro: como um
ignorante pode ensinar outro ignorante? A sua experiência — os alunos
holandeses aprenderam com ele — colocou em dúvida a figura do professor
explicador, aquele que sabe e ensina aquele que não sabe. Para ele, esse
professor explicador causa mais mal do que bem à educação. Acha que aqueles que
recebem esse tipo de educação acabam não tendo a curiosidade de buscar o
conhecimento por si mesmo, pois quando tiverem dúvida, terão a quem perguntar.
E assim não fazem o esforço da busca.
Em vista disso, desenvolve o tema do
professor embrutecedor, ou seja, do professor que faz o aluno entender. É
aquele que, a cada dia, procura novas formas de ensinar, novas técnicas, a fim
de ter certeza de que o aluno está compreendendo. Esses professores acabam
criando uma situação dual para a inteligência: os que sabem ficam de um lado e
os que não sabem do outro. Esta dicotomia é ruim, não só para a educação, como
também para o próprio processo da inteligência. Acredita que todo educador
deveria partir do pressuposto de que todos somos igualmente inteligentes.
Ranciére adota a tese do ensino
universal. O ensino universal é aquele que pressupõe a igualdade da
inteligência. Assim sendo, não existe um explicador que sabe e um ignorante que
não sabe. Importa mais saber relacionar o conhecimento com o todo do indivíduo.
Nada pode entrar na vida do sujeito se não tiver uma ligação com o seu todo.
Somente unindo a parte com o todo é que podemos dizer que o sujeito está
realmente aprendendo. É a esse esforço que ele se dedica em toda a sua obra.
A experiência mostrou a Jacotot que
alguns estudantes se ensinaram a falar e escrever em francês, sem o socorro de
suas explicações. Eles haviam aprendido sozinhos e sem o mestre explicador, mas
não sem mestre. Como um ignorante pode ensinar outro ignorante? Pode-se ensinar
o que se ignora, desde que se emancipe o aluno, isto é, que se force o
aluno a usar a sua própria inteligência. Para emancipar há um requisito, ou
seja, ser emancipador.
O pensamento deve pensar para que possa
cada vez mais continuar a pensar no sentido de transcender o que pensa para se
tornar o que poderia ser.
Fonte de Consulta
RANCIÈRE, J. O Mestre Ignorante:
Cinco Lições sobre a Emancipação Intelectual. Tradução de Lílian do Valle. Belo
Horizonte: Autêntica, 2002 (Coleção: Experiência e Sentido)
Um comentário:
Excelente texto dessa obra importantíssima nos nossos dias atuais.
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