O Segredo é o título da teoria
e prática desenvolvida pela australiana Rhonda Byrne, de 55 anos. Com 50 anos,
sem marido, as filhas crescidas e seu negócio (produzir séries para a TV
australiana) afundado em dívidas, teve um insight ao ler, por acaso, o livro A
Ciência de Enriquecer, publicado em 1910. Disse:
"Incrédula, me perguntei: como é possível que isso não esteja ao alcance
de todas as pessoas? Fui consumida por um premente desejo de dividir O
Segredo com o mundo".
Para fundamentar o seu desejo, buscou na história
da religião e da filosofia respaldo para as suas ideias. Há citações de Buda,
Jesus, Emerson e tantos outros. Em termos operacionais, leu
"centenas" de livros e artigos que tratam do pensamento positivo.
Depois, foi ao encontro dos luminares da área "melhore já a sua
vida", nos Estados Unidos. Cada um deles deu o seu depoimento num vídeo
sobre a lei da atração, lei esta com tinturas de "ciência
quântica". Se Heisenberg fala da incerteza, nós falamos da certeza.
O livro, o DVD e o filme tratam de um único tema,
ou seja, a lei de atração. É uma espécie de lavagem cerebral, em que verdades
são misturadas com meias verdades, no sentido de enganar a mente menos avisada.
O Segredo ensina a barganhar com o universo. Para tanto, busca
respaldo na sabedoria religiosa. Cita, por exemplo, um aforismo de Buda:
"Tudo o que somos é resultado do que pensamos", mas nada fala do
desapego às coisas materiais explicitadas pelo budismo. Com relação a Jesus,
lembra a frase: "Tudo quanto pedirdes em oração, crendo, recebereis".
Transforma Buda e Jesus em gurus do pensamento positivo.
Do começo ao fim do filme, há uma tese central, a
lei de atração, vista sob diversos ângulos: há apelo ao ganho monetário, ao
êxito, à cura de uma doença, ao perfeito relacionamento entre os seres humanos.
Basta que você pense em algo que aquilo se expande. Por isso, é proibido pensar
negativamente, tem que pensar sempre positivamente. Há o caso da mulher que
tinha detectado um câncer no seio. Não lhe deu atenção, reagiu como se não
tivesse o câncer. Resultado: o câncer foi curado.
Como interpretar a lei da atração, evocada
constantemente no filme, com a lei de ação e reação, veiculada pela Doutrina
Espírita? De acordo com o Espiritismo, as causas do sofrimento na vida presente
podem estar tanto no passado recente como num passado longínquo (encarnações
passadas). Se, para o ressarcimento da dívida, o ser humano tem que viver na
pobreza, por mais que ele tente ser rico não o conseguirá tão facilmente, dada
a sua necessidade de progresso espiritual. O pensamento mágico cai por terra.
Façamos uma comparação entre o
"cientificismo" individualista do pensamento mágico — se eu
enriqueci, você também pode — e a filosofia dos antigos. A moral primitiva
implicava a regulamentação do comportamento de cada um de acordo com os
interesses da coletividade. O indivíduo era mero suporte, auxiliar na
concretização dos objetivos do grupo. Além disso, como se explica o voto de
pobreza de um Francisco de Assis? De uma Tereza de Calcutá?
Saibamos separar o joio do trigo. Não nos deixemos
guiar pela palavra fácil, pelo discurso cômodo, pelos efeitos especiais da
imagem cinematográfica. A verdade está no fundo e poucos estão interessados em
descobri-la.
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