02 julho 2008

Sentimento: uma Forma de Ver

O sentimento é a maneira como nós percebemos. É uma espécie de sexto sentido, que engloba e dá direção aos outros cinco. É a resposta aos estímulos do meio ambiente. É a reação mais direta à nossa percepção. O pensamento é muito mais um modo indireto de enfrentarmos a realidade do que o sentimento. Desta forma, o fato não é exatamente o que ele é, mas, sim, o reflexo dos olhos que o observam.

O ódio e o amor, a dor e o prazer, a ansiedade e a serenidade são, dentre muitos, alguns dos nossos mais corriqueiros sentimentos. Como vemos, há sentimentos negativos e sentimentos positivos. A própria sociedade é contraditória na ordenação dos nossos sentimentos: uma hora diz-nos para confiarmos em nós mesmos, para irmos em frente, para fazermos o nosso próprio destino; ao mesmo tempo, fala para nos conformarmos com a realidade das coisas, para nos submetermos às circunstâncias.

Anotemos o significado de alguns tipos de sentimento: 1) mágoa é sentimento de perda de alguma coisa. Quanto mais importante a perda, mais profunda a mágoa; 2) ansiedade é o medo de ser magoado ou de perder alguma coisa. Quer o medo seja real ou imaginário, a sensação é a mesma; 3) raiva é o sentimento de ser irritado, ofendido, posto de lado, molestado, importunado; 4) culpa é sentimento de ser indigno, mau, ruim, cheio de remorsos, auto censurável, detestando-se a si mesmo; 5) depressão é o sentimento de estar "esquisito", infeliz, melancólico, "na fossa".

Para uma vivência plena, os sentimentos devem ser conscientizados, sem a ideia de defesa, de esquivamento, de sonegação. Para isso, forçoso nos é tornarmo-nos uma pessoa franca e aberta, expressando-nos tais quais somos sem subterfúgios de espécie alguma. Nesse sentido, todo o assunto, todo o fato é passível de discussão, de análise: tanto a dor quanto o prazer devem ser tratados de modo semelhante. Se assim fizermos, vamos nos distanciando do nosso egocentrismo e aproximando-nos do cristocentrismo.

A transcendência do espírito fundamenta-se na sensibilidade ao novo. O passado, o presente e o futuro fazem parte do nosso consciente. Do passado recebemos a memória de nossas boas e más ações. Do futuro recebemos a intuição sobre o medo do "inferno" e a felicidade plena no "céu". Acontece que o único tempo real é o presente. Desta forma, convém não nos chafurdarmos no passado delituoso, nem vivermos com o pensamento voltado para as beatitudes do paraíso.

Respondamos total e globalmente a cada estímulo recebido. Não deixemos que a mágoa, a raiva e o ressentimento consumam as nossas forças criativas. Vivamos o momento presente com total independência de espírito, e esperemos os acontecimentos da vida.

Fonte de Consulta

VISCOTT, DAVID STEVEN. A Linguagem dos Sentimentos. Tradução de Luiz Roberto S. S. Malta. São Paulo: Summus, 1982.

 

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