A violência caracteriza-se pelo autoritarismo na
educação, pelo monopólio do poder nas esferas governamentais, pela corrupção
dos homens de Estado, pela posse de coisas ilícitas, pelos esforços de
santidade, pelo egoísmo material, pelo consumismo exacerbado, pelo
individualismo etc.
O autoritarismo na educação, uma das formas de violência
apontada, pode ser observado na conduta de alguns educadores que, tendo o dever
de intervir em vidas através de um convite ao conhecimento, acabam por invadi-las através de um diálogo doutrinante.
Agindo desta forma, nada mais fazem do que estender suas próprias confusões
mentais. A verdadeira educação, por outro lado, tem como paradigma central
ensinar o educando a pensar com a própria cabeça, inclusive estimulando-o a
contradizer sempre que sentir que os outros não estão expressando a verdade dos
fatos.
Os meios de comunicação social têm papel relevante na
disseminação da violência, uma vez que dá valor ao extraordinário (assalto, brigas, sequestro) em
detrimento do cotidiano (trabalhar, divertir-se, estudar).
Observe, por exemplo, o estímulo de compra: a imagem veiculada pode ser a
sugestão ao consumo de bebida, sexo, divertimento etc. Suponha que o receptor
da mensagem veiculada não tenha recursos para usufruir do referido bem. O que
ele fará, uma vez que o imaginário tornou-se, depois de veiculado, uma
necessidade real? Muitos que não têm força moral elevada acabam por aderir ao
crime, à violência.
O individualismo e o consumismo são outras formas de
violência. É que na atualidade há um processo de reificação (coisificação), em
que os indivíduos estão se transformando em coisas, inclusive em coisas
descartáveis quando já não mais produzem. Confundimos o ter com o ser; por isso a ênfase que damos à posse, ao status social, à
riqueza, ao utilitarismo. Nesse sentido, o efeito demonstração da economia
assume papel relevante no destaque dos atos violentos. Pensamos: se o meu
vizinho tem por que eu não posso ter? Se ele sobressaiu-se na vida, por que eu também
não posso? As coisas estimulam-nos a ter, preterindo o ser, bom, amável, atencioso, prestimoso.
Distingamos razão e emoção. Desde que surgiu Descartes, e
com ele o racionalismo, a razão tornou-se um mito, que nos dizeres de Alceu
Amoroso Lima, é tomar o absoluto pelo relativo. Foi isso mesmo o que aconteceu
com a razão; elevamo-la à condição de deusa, em detrimento da fé, da emoção e
do sentimento. O anseio pelo tecnicismo, pela posse, pelo consumo faz-nos
esquecer de que o século XXI, que ora se inicia, será um século de luzes
espirituais, em que prevalecerão as coisas do espírito e não as da matéria.
A violência apresenta-se tanto de forma ostensiva como de forma
sutil. Saibamos detectá-las onde quer que se encontrem, procurando o caminho
inverso, ou seja, o caminho da paz, da confraternização e da cooperação mútua.
Fonte de Consulta
MORAIS, R. Violência e Educação. Campinas, SP, Papirus, 1995.
(Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico).
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