O exercício filosófico estimula-nos
a tratar objetivamente todos os temas que se nos apresentam. A técnica
utilizada é a mesma que apregoa Kant, ou seja, não devemos ser espectador de
frutas em vitrine, mas operadores conscientes do nosso próprio pensar. Quer
dizer, se somos apenas receptores passivos do conhecimento, não entramos
propriamente no ato de filosofar; porém, se passarmos à "ação
filosofante", apropriando-nos da ideia, da questão, do juízo dados, eles
farão sentido para nós, pois, em vez de deixá-los do lado de fora, o nosso
pensamento se apodera deles.
A análise filosófica deve ser o
ponto de partida para adquirir o hábito de pensar por nós mesmos. De acordo com
a etimologia grega a palavra análise significa não só decompor
e discernir as diferentes partes de um todo, como também reconhecer as
diferentes relações que elas mantêm entre si, quer com o todo. Em outras
palavras, analisar é ousar refletir, questionar e pôr em
dúvida o conhecimento vigente tal qual sugeriu Descartes na sua
obra O Discurso do Método. Precisamos, pois, sem precipitação,
cruzar, descruzar, comparar e buscar o máximo de aprofundamento que a nossa
mente possa alcançar.
Perguntas e respostas fundamentam a análise filosófica. Nesse sentido,
cada tipo de pergunta requer uma resposta específica. Com "o que é",
pergunta-se qual a natureza de, portanto, busca-se uma definição.
"Pode-se" ou "pode..." ou "é possível..." verbo e
locução que concentram três ideias: possibilidade lógica, física e
moral. "Em que" ou "como" ou "em que medida"
pede-se para justificar o enunciado, explicar em virtude do
que ele é justo. "É preciso" ou "deve-se" ou "é
forçoso..." interroga-se sobre a questão da necessidade,
da exigência. "É justo afirmar que..." ou "será
verdade que..." ou "o que você acha de..." não se pede a nossa
opinião, como se estivéssemos sendo entrevistados, mas uma reflexão sobre
um juízo.
E quando o pensamento entra em pane? O que fazer? 1.º) decompor a palavra
em todas as suas formas: verbo, adjetivo, substantivo, advérbio etc.; 2.º)
fazer uso dos sinônimos e dos antônimos; 3.º) nada rejeitar a priori,
pois somente após um confronto com o enunciado do problema é que teremos
condições de aceitar ou não; 4.º) utilizar a técnica do "em outras
palavras", a qual permite reformular a mesma ideia; 5.º)
somente recorrer a um autor se o mesmo tratar do tema em questão.
A reflexão filosófica deve ser de
fundo e não de forma. Muitas vezes direcionamos a nossa energia mental para
assuntos que só servem para preencher o tempo. Lembremo-nos de que esta atitude
não representa o verdadeiro exercício filosófico. Este, para ser verdadeiro,
deve atender à nossa necessidade interior de construção do conhecimento.
Percebamos, pois, que é somente com esse esforço hercúleo que o aprendizado
torna-se propriedade do ato de pensar.
Estejamos sempre prontos para recomeçar. Quer
queiramos ou não, a vida se nos apresenta eternamente de forma criativa, pois
todo o momento é sempre único na passagem do tempo.
Fonte de Consulta
ARONDEL-ROHAUT, M. Exercícios Filosóficos.
São Paulo, Martins Fontes, 2000.
Nenhum comentário:
Postar um comentário