23 janeiro 2013

Gnosticismo

O gnosticismo centra-se na busca da perfeição através da gnose

Gnosticismo, uma corrente particular do pensamento, ainda não bem conhecido na época presente, deriva de grego gnosis, e significa “conhecimento”, não um conhecimento conceitual, mas intuitivo, reservado somente a alguns iniciados. É uma corrente de pensamento que surgiu a partir do século II de nossa era, na qual se combinam elementos cristãos e pagãos. (1)

No começo da era cristã, havia a tradição grega, baseada no deus da razão, e a tradição cristã, baseada na fé sobrenatural.  O problema principal era conciliar Deus e a Alma do Mundo. Deus é o invisível, o Bem; a Alma do Mundo, a matéria, o Mal. Não foram somente os cristãos que quiseram dar uma solução para a dualidade entre o bem e o mal. Na época, havia duas correntes: o gnosticismo e o neoplatonismo. (1)

Segundo o neoplatonismo, o real é constituído de três hipóstases - o Uno, a Inteligência (Nous) e a Alma, sendo que as duas últimas procederiam da primeira por emanação. As suas teses podem ser assim resumidas: absoluta transcendência do ser divino, a emanação e o retorno do mundo a Deus pela interiorização progressiva do homem.

Para defender a pureza angélica, os gnósticos de todos os tempos inventaram teorias que davam sustentação aos seus anseios. Muitos gnósticos negaram a corporeidade de Jesus, imputando-lhe um corpo astral. Valentim (c. 160 d.C.) dizia: “Jesus comia e bebia de forma especial, sem excretar a comida. Tão grande era a força de seu poder de evitar a excreção que os alimentos não apodreciam nele, pois ele mesmo era indefectível e incorruptível”.

autoconhecimento, que é a premissa básica do gnosticismo, não passa de um escapismo, como nos ensina Martin Burckhardt, em “Pequena História das Grandes Ideias”. Para ele, a gnose passa a ser um escapismo, quando se torna uma religião da razão. Platão falava de um mundo além deste; o gnósticos queriam a felicidade aqui e agora. A dificuldade estava em entender a descida do ser humano ao vale de lágrimas: como pressupunham que a carne era fraca, encontraram um vilão para todos os pecados: o demoníaco, diabolon, antítese da divindade.  

No início da era cristã, o gnosticismo surge como uma reunião da alma oriental e da alma ocidental. Depois, a gnose seguirá o seu próprio curso, fundamentada na revelação cristã e na racionalidade grega. No decorrer da história, porém, nem todo o pensamento assentou-se na fé cristã e na racionalidade grega. Entram em cena as doutrinas enigmáticas do Orfismo (transmigrações sucessivas das almas) e o hermetismo (que está relacionada com a astrologia e a alquimia). (Temática Barsa)

O gnosticismo busca o encontro com Deus, o Uno. Esta busca está centrada no conhecimento de si, base da gnose. Para tanto, utiliza-se de tudo o que possa facilitar a interiorização do ser humano: preceitos cristãos, as retortas alquímicas e a astrologia. O objetivo maior é diminuir a distância que há entre o homem (limitado) e Deus (o onipotente). 

(1) TEMÁTICA Barsa - Filosofia.

BURCKHARDT, Martin. Pequena História das Grandes Ideias: Como a Filosofia Inventou nosso Mundo. Tradução de Petê Rissatti. Rio de Janeiro: Tinta Negra Bazar Editorial, 2011.