01 julho 2008

O Inconformismo de Marx

Karl Marx (1818-1883), natural da Alemanha, tem ligação com: um programa revolucionário, uma ideologia de Estado e uma teoria social, coisas diferentes entre si. O Manifesto do Partido Comunista, de 1848, identifica-se com o programa revolucionário. Esse panfleto termina com o seguinte apelo: "Proletários de todos os países, uni-vos". A ideologia de Estado pode ser vista em seus estudos sobre o materialismo histórico. Em O Capital, desenvolve mais detalhadamente a sua teoria social.

Marx surgiu num contexto histórico favorável à prática da liberdade. A implantação do parlamentarismo na Inglaterra, em 1688, a proclamação da independência dos Estados Unidos, em 1776, e a Revolução Francesa, em 1789, robusteceram a liberdade das pessoas e dos países. Marx pode, assim, pensar, escrever e colocar em prática o seu inconformismo sobre a política, a religião e o Estado capitalista. Embora as idéias marxistas estejam esquecidas, especialmente depois da queda do muro de Berlim, em que o comunismo transformou-se em consumismo, ainda vale a pena estudar as razões de sua teoria social.

Para uma melhor compreensão da teoria social de Marx, pensemos no poder reducionista de uma frase, nem sempre verdadeiro. "O Homem é lobo do Homem", de Hobbes, "o Homem nasce bom; a sociedade o corrompe", de Rousseau, e "o Homem veio do macaco", de Darwin, mostram que essas frases, ditas fora de seu contexto original, perdem totalmente o sentido. Foi-nos passado, ao longo do tempo, que a intenção de Marx era a de explicar tudo (política, religião, direito, arte, filosofia etc.) através do que acontece na economia.

Marx disse que "O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual". Em outros termos, a economia influencia todas as outras partes da sociedade. É um reducionismo que se transforma num mecanicismo. Contudo, quando procura explicar essa tese, os propósitos anunciados, a linguagem empregada e as possíveis ideias cogitadas pelo autor dão uma outra direção ao seu pensamento. Quer dizer, a frase de que economia influência tudo o mais deve ser revista, ou analisada segundo o contexto escrito por Marx.

Marx nos deixou a seguinte lição: o inconformismo diante de um certo status quo. Para ele, o filósofo não deve apenas interpretar o mundo; sua função precípua é transformá-lo. Quer dizer, o filósofo deve recusar o mundo como é, pensando-o como deve ser. Nesse sentido, observe que várias revoluções, no século 20, reclamaram o seu vínculo com a teoria social de Marx. Entre elas, a Revolução Russa, de 1917, e a Revolução Chinesa, de 1951. Nesses países, contudo, os preceitos e princípios marxistas serviram muito mais para dar respaldo à ditadura de um partido único do que a transformação do capitalismo em comunismo.

Saibamos desconfiar das frases feitas. Elas, muitas vezes, revelam um reducionismo que pode nos levar ao erro.

Fonte de Consulta

CODATO, Adriano. Marx: a política, o poder e o Estado capitalista. In: FIGUEIREDO, Vinicius (org.). Filósofos na Sala de Aula. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2007, vol. 2.

 

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