Karl Marx (1818-1883), natural da
Alemanha, tem ligação com: um programa revolucionário, uma ideologia
de Estado e uma teoria social, coisas
diferentes entre si. O Manifesto do Partido
Comunista, de 1848, identifica-se com o programa revolucionário. Esse
panfleto termina com o seguinte apelo: "Proletários de todos os países,
uni-vos". A ideologia de Estado pode ser vista em seus estudos sobre o
materialismo histórico. Em O Capital, desenvolve mais
detalhadamente a sua teoria social.
Marx surgiu num contexto histórico
favorável à prática da liberdade. A implantação do parlamentarismo na
Inglaterra, em 1688, a proclamação da independência dos Estados Unidos, em
1776, e a Revolução Francesa, em 1789, robusteceram a liberdade das pessoas e
dos países. Marx pode, assim, pensar, escrever e colocar em prática o seu inconformismo sobre
a política, a religião e o Estado capitalista. Embora as idéias marxistas
estejam esquecidas, especialmente depois da queda do muro de Berlim, em que o
comunismo transformou-se em consumismo, ainda vale a pena estudar as razões de
sua teoria social.
Para uma melhor compreensão da teoria
social de Marx, pensemos no poder reducionista de uma frase, nem sempre
verdadeiro. "O Homem é lobo do Homem", de Hobbes, "o Homem nasce
bom; a sociedade o corrompe", de Rousseau, e "o Homem veio do
macaco", de Darwin, mostram que essas frases, ditas fora de seu contexto
original, perdem totalmente o sentido. Foi-nos passado, ao longo do tempo, que
a intenção de Marx era a de explicar tudo (política, religião, direito, arte,
filosofia etc.) através do que acontece na economia.
Marx disse que "O modo de produção
da vida material condiciona o processo da vida social, política e
espiritual". Em outros termos, a economia influencia todas as outras
partes da sociedade. É um reducionismo que se transforma num mecanicismo.
Contudo, quando procura explicar essa tese, os propósitos anunciados, a
linguagem empregada e as possíveis ideias cogitadas pelo autor dão uma outra
direção ao seu pensamento. Quer dizer, a frase de que economia influência tudo
o mais deve ser revista, ou analisada segundo o contexto escrito por Marx.
Marx nos deixou a seguinte lição:
o inconformismo diante de um certo status quo.
Para ele, o filósofo não deve apenas interpretar o mundo; sua função precípua é
transformá-lo. Quer dizer, o filósofo deve recusar o mundo como é, pensando-o
como deve ser. Nesse sentido, observe que várias revoluções, no século 20,
reclamaram o seu vínculo com a teoria social de Marx. Entre elas, a Revolução
Russa, de 1917, e a Revolução Chinesa, de 1951. Nesses países, contudo, os
preceitos e princípios marxistas serviram muito mais para dar respaldo à
ditadura de um partido único do que a transformação do capitalismo em
comunismo.
Saibamos desconfiar das frases feitas.
Elas, muitas vezes, revelam um reducionismo que pode nos levar ao erro.
Fonte de Consulta
CODATO, Adriano. Marx: a
política, o poder e o Estado capitalista. In: FIGUEIREDO, Vinicius
(org.). Filósofos na Sala de Aula. São Paulo: Berlendis &
Vertecchia, 2007, vol. 2.
Nenhum comentário:
Postar um comentário