12 março 2010

Não-Dualidade e Fim do Sofrimento

Aristóteles, na antiguidade, desenvolveu um sistema inteiramente dualista, denominado de “lei do meio excluído”, em que tudo no mundo ou é preto ou é branco, negando qualquer outra possibilidade. Daí, a frase: “Quem não estiver comigo está contra mim”. Bush, presidente dos Estados, também incorreu neste erro, quando disse: “Quem não estiver conosco está com os terroristas”. Esta visão dualista de interpretar a realidade propiciou o aparecimento dos hábitos mentais egocêntricos, a principal causa de todo o sofrimento.

Buda, há 2.500 anos, em suas tentativas de iluminação, já nos alertava para a supressão de todo o sofrimento. Os seus ensinamentos se basearam nas Quatro Nobres Verdades, em que destaca a natureza, a causa, a supressão e o caminho para a supressão do sofrimento. No caminho da supressão do sofrimento, ele enfatiza o Nobre Caminho Óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta e concentração correta.

Buda salientou que os padrões egocêntricos das nossas mentes, tais como o julgamento dos outros e o apego às coisas, são a origem das patologias humanas. Como a humanidade seguiu o caminho aristotélico — certo ou errado, bom ou mau e santo ou pecador — quase todo o sofrimento está na nossa mente: sentimento de culpa por algo feito no passado ou uma grande ansiedade por aquilo que está por vir, o que gera medo e desejo de vingança.

Deduz-se, dos ensinamentos de Buda, que cada um nós deveria transcender a ilusão de uma individualidade separada e penetrar na consciência cósmica, onde inexiste ofensa, ódio e rancor e, consequentemente, o desejo de vingança que desses estados dimana. Essa consciência cósmica só poderá ser alcançada quando toda a humanidade estiver cônscia do pensamento correto, aquele que nos leva à verdade de uma realidade.

Por fim, salienta-se que o desenvolvimento da compaixão é um passo firme no caminho que nos leva ao fim do sofrimento. Não é sem razão que a maioria das religiões evoca esta palavra como a principal bandeira do progresso moral e religioso. Assim, quando a humanidade toda estiver pondo em prática esse código de conduta, estaremos nos aproximando da lei áurea ensinada por povos e culturas de todo o mundo: “Fazer aos outros o que gostaríamos que os outros nos fizessem”.

Extinguindo o ódio, o rancor e a vingança, o sofrimento deixará de existir, pois ele está mente daquele que se sente ultrajado e ofendido.

Fonte de Consulta

HURTAK, J.J. e TARG, R. O Fim do Sofrimento: Vivendo sem Medo em Tempos Difíceis - ou como Sair Livre do Inferno. Tradução da Academia para Ciência Futura. São Paulo: Ícone, 2009.

 

 

09 março 2010

Consciência: Algumas Notas

Consciência é um conhecimento concomitante ou cumulativo. Concomitante significa que se manifesta simultaneamente com o outro; cumulativo, que acrescenta. A consciência se dá no momento em que o indivíduo vivencia uma dada situação. Os sentidos do observador captam o objeto. Ao captar o objeto, ocorre a concomitância e a cumulação

No seu desdobramento, que se dá a certa distância do ato vivenciado, surge a consciência reflexa. Assim, há a consciência direta e espontânea e a indireta ou reflexiva, que é a incidência da reflexão sobre os próprios atos internos. A reflexão não torna consciente o que antes não o era. É muito mais um ato isolado e explicativo

Quando o espírito, pelo poder de reflexão, volta-se para si mesmo e vivencia o seu próprio ato, baseado nos primeiros princípios do ser, da verdade e do bem, temos a consciência moral. Depreende-se, assim, que o verdadeiro conhecimento de si mesmo não é contemplação desinteressada, mas um apelo ao dever pela prática da ação livre e responsável

Há também a liberdade de consciência, que é o direito de professar as próprias convicções morais e religiosas, em que há ausência de toda e qualquer coação externa em matéria de moral e religião

Segundo Manfred Frank, em Self-consciousness and Self-knowledge, a relação entre consciência, autoconsciência e autoconhecimento é a seguinte:

Consciência pressupõe autoconsciência. Não há como alguém estar consciente de alguma coisa sem estar consciente de estar consciente dessa coisa.

A autoconsciência é pré-reflexiva. Se a autoconsciência fosse o resultado da reflexão, então só teríamos autoconsciência após termos consciência de alguma coisa que fosse dada à reflexão. Mas isso não pode ser o caso, pois, como dissemos antes, consciência pressupõe autoconsciência. Logo, a autoconsciência é anterior à reflexão.

Autoconsciência e consciência são distintas logicamente, mas funcionam de maneira unitária.

O autoconhecimento — isto é, a consciência reflexiva ou consciência de segunda ordem — pressupõe a consciência pré-reflexiva, isto é, a autoconsciência

De acordo com o esquema acima, a autoconsciência é o elemento fundamental da consciência. Sem ela não há consciência nem reflexão sobre a consciência

Fonte de Consulta

POLIS - ENCICLOPÉDIA VERBO DA SOCIEDADE E DO ESTADO. São Paulo: Verbo, 1986.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Consciência


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Como é ser Morcego? (1974) [Thomas Nagel]

O estado mental de outro ser só pode ser entendido se for experimentado

De acordo com o filósofo Thomas Nagel (n. 1937), ainda que possamos objetivamente descrever todas as qualidades físicas da existência como o uso do sonar por um morcego, jamais conseguiremos entender completamente a sensação de ser um morcego, porque não somos morcegos. Como é ser morcego? Jamais poderemos realmente saber, porque a consciência é mais do que apenas o processo físico da sensação.

Nagel publicou o seu artigo “Como ser um morcego?” em 1974, em grande parte em resposta ao que denominou “euforia reducionista” dominante na época. Nagel propôs seu argumento do morcego como um antídoto à posição reducionista de que todos os fenômenos mentais, tais como a consciência, poderiam ser explicados em termos puramente físicos.

A pergunta de Nagel vai ao núcleo da natureza experimental, subjetiva, da consciência, ainda que jamais possamos responder a ela. Para alguém completamente cego desde o nascimento, a palavra “cor” tem o mesmo sentido que para a pessoa que enxerga? Como poderia ter? E como uma pessoa poderia entender como é ter sempre vivido sem elas? Para Nagel, é impossível, ou quase, daí a consciência ser mais do que uma compreensão objetiva.

ARP, Robert (Editor). 1001 Ideias que Mudaram a Nossa Forma de Pensar. Tradução Andre Fiker, Ivo Korytowski, Bruno Alexander, Paulo Polzonoff Jr e Pedro Jorgensen. Rio de Janeiro: Sextante, 2014.