O "verdadeiro filósofo", nos primeiros séculos de
nossa era, designava aquele que se opunha ao sofista, ou seja, àquele que
falava bem, mas não agia de acordo com o que dizia. Seu principal empenho não
era especular ou buscar erudição, mas diminuir a distância entre aquilo que
dizia e o modo como agia. Procurava também uma perfeita sintonia entre o ser o
pensamento. Em outras palavras, pensava como era, falava como pensava e agia
como falava.
O
"verdadeiro filósofo" dava pouca importância à erudição e à especulação.
Eles não estavam preocupados em criar teorias, doutrinas e sistemas
filosóficos. Agiam mais como terapeutas, porque as suas prédicas tinham por
objetivo a saúde de alma. A erudição e a especulação por si mesmas não visam a
uma transformação do homem. Na maioria das vezes, incham-no. O verdadeiro
filósofo, por sua vez, não procura transformar os outros nem mundo todo, mas
transformar-se a si mesmo, um trabalho muito mais complicado, porque exige a
renúncia dos prazeres mundanos.
Os
Padres da Igreja são catalogados como verdadeiros filósofos. Mas o que se
entende por Padres? O termo Padres, no começo de nossa era, não tinha a mesma
conotação que se empresta aos padres de hoje. Eles devem ser entendidos como
"Pais" da Igreja. E o pai é uma pessoa que vela pelos seus filhos.
Assim, qualquer um que ensina ao outro o caminho para deus, torna-se pai e, o
outro, filho. Nesse sentido, todos somos filhos desses padres. E por extensão,
todos somos filhos de Jesus, porque Ele é o guia espiritual do Planeta Terra.
Há
diversos Padres da Igreja. Façamos um resumo de suas contribuições. Orígenes
(185-254) trata o martírio como a "verdadeira filosofia"; Clemente de
Alexandria (150-215) escolhe a gnose como a "verdadeira filosofia";
Evágrio Pôntico (345-399) elege praxis e gnosis como elementos da "verdadeira filosofia"; João
Crisóstomo (344-407) recomenda a contemplação e a liturgia como
"verdadeira filosofia"; João Cassiano (365-435) aborda a vida
monástica como refúgio dos "verdadeiros filósofos"; Gregório de Nissa
(331-395) indica a "busca" sem fim do "verdadeiro filósofo".
Anotemos
alguns ensinamentos desses Padres da Igreja. "O pregador deve ser não só
um sábio, mas também um homem de oração" (Orígenes). "A gnose foi
transmitida a um pequeno número de pessoas desde os apóstolos, através da
sucessão dos mestres e sem escrituras (Clemente de Alexandria).
"Bem-aventurado o intelecto que, durante a oração, torna-se imaterial e
completamente despojado" (Evágrio Pôntico). "Meu sacerdócio consiste
em pregar e anunciar o Evangelho" (João Crisóstomo). "A amizade é um
bem tão precioso que deve ser preferido a qualquer coisa de material"
(João Cassiano).
Equilibremos
a admiração passiva (contemplação) e a admiração ativa (pesquisa, procura, leitura), a fim
de que possamos captar totalmente a mensagem dos "verdadeiros
filósofos".
Fonte de Consulta
LELOUP,
Jean-Yves. Introdução aos "Verdadeiros Filósofos": os Padres
Gregos: Um Continente Esquecido do Pensamento Ocidental. Tradução de Guilherme
João de Freitas Teixeira. Petrópolis, RJ: Vozes, 2003.
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