01 julho 2008

Imanência e Transcendência

Imanência — lugar onde fica. Im-manere é deter-se em — ficar aquém de um limite, perante uma vedação, numa fronteira. Transcendência — do lat. transcendentia é, antes de tudo, a ideia de um exceder, de um além referido a um aquém. Em grego, meta. Transcender é ultrapassar, subir além de, estar além de.

Sabedoria é a busca incessante dos conhecimentos superiores do espírito. O sábio não é o indivíduo que se prende à questiúncula; procura, sim, os voos da consciência para a absorção plena da verdade. Não quer dizer que foge das pessoas, do trabalho e da convivência familiar; apenas pelo seu modo de ser e de pensar transcende tudo isso, ou seja, quer haja concordância, discordância ou arrogância, mantém a serenidade de espírito.

O sábio, à semelhança do cristão, deve viver no mundo sem ser do mundo. Significa dizer que deve alimentar-se, vestir-se e trabalhar como todos os outros mortais, porém com a condição de estar acima de tudo isso. Este é o grave problema que terá de solucionar, porque o corre-corre, as opiniões e os afazeres diários estão sempre o arrastando para o imanente, o trivial e o corriqueiro. Nesse sentido, o sábio deve ser suficientemente forte para não se deixar levar pelo sensacionalismo do momento que passa.

Transcender não é sairmos de nós e irmos para o exterior. É suplantarmo-nos, ou seja, vencermos a nós mesmos. Estamos sempre querendo vencer o mundo, planejando adquirir mais propriedades, mais poder. Pergunta-se: somos senhores de nós mesmos? Eis a grande dificuldade que se nos apresenta ao nos depararmos com esse mundo extremamente alicerçado nos valores materiais. O mérito não está nas facilidades, e sim nos tormentos que se sofre para que sejamos donos de nós mesmos, do nosso pensamento e de nossa atitude frente a uma situação.

O ser transcendental é basicamente um ser intuitivo. Busca, em primeiro lugar, Deus. Age de acordo com seus insights e não precisa a todo momento estar demonstrando as verdades evidentes. Nem por isso deixa de lado a razão, mas a utiliza muito mais para verificar se não ouve nenhum erro no aporte das ideias do que a essência de um pensamento racional. Ele sabe que os poderes da mente são infinitos e por isso deixa-se levar por uma onda mental que o faz emergir deste mundo para trazer novos conhecimentos de outras esferas do saber.

Sejamos imanentes na transcendência. Construamos um mundo cheio de luz, de sabedoria, de felicidade e procuremos permanecer nesse status quo.

Fonte de Consulta

VIALATOUX, J. A Intenção Filosófica. Coimbra, Portugal. Livraria Almedina, 1979.

 


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