08 abril 2020

Pensamento

Pensamento. Do latim pensare, pensar, refletir. Atividade intelectual através da qual o espírito humano forma conceitos e formula juízos. 

Os pensamentos estão em tudo, mas o ato de pensar é que os capta. Por isso, precisamos distinguir pensamento, quando é aspecto, relação, dos fatos, e pensamento quando é ato de pensar. O primeiro é sempre o mesmo; mas o ato de pensar pode ser diferente. Nesse caso, há razões para dizer: "Você teve o mesmo pensamento que eu". O pensamento era o mesmo, mas o ato de pensar era diferente.

Observação: a distinção entre esses dois tipos de pensamento nos ajudaria a compreender melhor as coisas, e muitas dificuldades desapareceriam.

Nós mentamos pensamentos. Mente vem de man radical indo-germânico, que significa medir, pesar, daí man (homem em inglês). Mente, menção, mentar e comentar são palavras derivadas. A palavra pensamento vem daí, e indica o que é medido, pesado, valorado. Tudo o que pode ser medido, pesado, valorado pela mente, órgão que mede, é pensamento.

"A natureza está cheia de pensamentos que o homem pode mentar, por isso a Filosofia, sob o seu aspecto dinâmico, é esse invadir a Natureza na cata dos pensamentos que estão nela, buscando-lhe os porquês, os nexos, as relações". (1)

(1) SANTOS, M. F. dos. Convite à Filosofia e à História da Filosofia. 6. Ed., São Paulo: Logos., item "Definição". 




Definição

Definição. Do latim "definitione" que significa uma exposição com precisão. Uma explicação clara e concisa de alguma coisa, é o significado.  

Ao construirmos um juízo, esse juízo aponta para o conteúdo ao qual se refere. Daí, temos uma verdade de fato [adequação do juízo com o fato] e uma verdade lógica [adequação do juízo da pessoa com o fato ao qual se refere].

Observemos a definição do dicionário para a palavra "copo": "vaso para beber, comumente sem asa, e de forma cilíndrica ou alargada para as bordas". Genericamente, copo é um vaso, porém não é qualquer vaso, mas somente o vaso que serve para beber. Vaso para beber é o que diferencia copo de outros vasos.

"A definição define de-fine, dá fins, limita, contorna. E nós, para de-finirmos alguma coisa, temos que dizer primeiramente o que é ela, isto é, a que ordem pertence, mas precisamos, depois ver também o que a diferencia. E o gênero mais próximo de copo é vaso, porque vaso também é um gênero, porém mais distante. Para darmos contornos mais definidos, procuramos o gênero mais próximo vaso, e a diferença que o especifica: para beber. Os outros aspectos, como ter asa ou não, ser alongado ou não, variam de um copo para outro, mas ser vaso, o servir para beber pertence a todos os copos". (1)

Nem toda palavra pode ser definida. Caso isso ocorresse, teríamos as definições ad infinitum, ou seja, toda a palavra usada para definir outras, teria, também, de ser definida. Quer dizer, o processo de definição deve acabar em alguma dado momento. Daí, surge a dúvida: quando uma palavra precisa ser definida? Uma palavra tem de ser definida se: 1) é usada em sentido técnico e não se pode supor que o público conheça esse sentido; 2) for uma palavra comum usada num sentido não comum. (2)

(1) SANTOS, M. F. dos. Convite à Filosofia e à História da Filosofia. 6. Ed., São Paulo: Logos., item "Definição". 

(2) MARTINICH, A. P. Ensaio Filosófico: o que é, como se faz. Tradução de Adail U. Sobral. São Paulo: Loyola, 2002.



05 abril 2020

Gênero e Espécie

Os nossos sentidos são a base da abstração: eles captam apenas uma parte da realidade: a vista apreende a forma dos objetos; o ouvido, os sons; o olfato, os odores. A razão, por seu turno, não só elabora os conceitos; ela os compara, encaixa-os uns nos outros, dá-lhes uma hierarquia quantitativa, os reduz a conteúdo e continente, classificando-os.

A razão ordena os objetos singulares nas espécies, estas nos gêneros mais vastos, até atingir o gênero supremo, o abstrato mais abstrato de todos os abstratos, que é o conceito lógico do ser. Na classificação, há ordem, clareza, simplicidade e unidade. Daí, a afirmação de que toda classificação é uma redução à unidade. Nota: o conceito lógico do ser não deve ser confundido com o conceito ontológico. Se o primeiro é uma abstração, o segundo tem outra realidade, a máxima realidade.

Em se tratando dos conceitos, os mais vastos contêm os mais singulares. À proporção que subimos dos singulares às espécies, e destas aos gêneros, aumentamos a compreensão, mas diminuímos os conteúdos. Em outros termos, a compreensão é o conjunto de caracteres de um objeto; a extensão, o maior ou menor número de objeto a que o conceito pode ser aplicado. Daí o princípio: quanto maior a compreensão, menor é a extensão, e inversamente. Exemplificando: a compreensão do cão (animal domesticado) deve estar relacionada com a extensão do simples animal.

Razão e visão têm as suas semelhanças: tentando ver mais coisas, perdemos delas os pormenores; do mesmo modo a razão: tentando abranger mais conceitos deixa os pormenores em segundo plano. Estabelecida a hierarquia pela classificação, segue a razão um caminho inverso: do mais geral ao menos geral, e deste ao singular. Temos, então, a definição. (1)

Toda realidade pode ser caracterizada em termos de gêneros e de espécies em virtude de várias diferenças específicas. Eis uma parcela da clássica divisão da realidade, mais conhecida como a Árvore de Porfírio a partir do filósofo neoplatônico Porfírio:



Cada palavra ou expressão em maiúsculas designa um gênero ou espécie. Cada item imediatamente abaixo de outro é uma espécie em relação ao item imediatamente acima de si; e cada item que tem itens imediatamente abaixo de si é um gênero com relação a esses itens. O ser é o mais elevado gênero que existe; ele não é uma espécie de coisa alguma. Os seres humanos [no ramo da extrema esquerda] são uma espécie das mais inferiores; não são gênero de coisa alguma. Logo, os termos gênero espécie são relativos. Um gênero é sempre uma categoria mais geral com relação às espécies. (2)

(1) SANTOS, M. F. dos. Convite à Filosofia e à História da Filosofia. 6. Ed., São Paulo: Logos., item "Gênero e Espécie". 

(2) MARTINICH, A. P. Ensaio Filosófico: o que é, como se faz. Tradução de Adail U. Sobral. São Paulo: Loyola, 2002.



03 abril 2020

Fato e Juízo

Fato. Do latim factum (feito, ato, coisa ou ação feita, acontecimento). O fato é aquilo que se nos apresenta aqui e agora, num lugar, num momento determinado, que inclui as noções de espaço e tempo. Um homem está estendido no chão. Eis o fato. Deste fato, emergem muitos juízos, muitas explicações, muitas indagações, muitas teorias. Foi assassinado? Caiu do andaime? Desmaiou? Para cada pergunta, a teoria subjacente.

Quando dizemos que este fato é um copo, fizemos um julgamento, pronunciamos uma sentença, realizamos um juízo desse fato. Neste caso, o juízo é afirmativo, porque ajunto ao sujeito o predicado como realmente pertence ao sujeito. Entretanto, se disséssemos que este livro não é um copo, estaríamos proferindo um juízo negativo, ou seja, estaríamos recusando predicado ao sujeito.

Se, por outro lado, disséssemos: todos os corpos são fatos, estaríamos universalizando, ou seja, dando uma versão única a todos os corpos. É um juízo positivo, mas diferente daquele que se expressasse na frase: "alguns homens são corajosos". Aqui não se daria uma versão a todos os homens, mas a alguns. O mesmo raciocínio se aplica aos juízos negativos.

Um conceito pode estar incluído em outro. Um é mais geral, daí o gênero; outro mais especial, daí vem espécie. Quando um conceito está plicado (embrulhado) em outro, temos um conceito implicado em outro. O mesmo poderíamos dizer dos juízos. Um juízo pode estar implicado em outro. Assim, quando digo que "todos os homens são mortais", tenho implicado "alguns homens são mortais", como também este homem é mortal.

De um juízo universal, posso tirar alguns que já estão implicados. Quando deduzo, tiro um juízo do outro. Essa atividade do espírito chama-se dedução, que consiste em tirar de um juízo universal um juízo particular. Se fizermos o inverso, ou seja, de particularidades podemos chegar à generalidade, temos a indução.

A Filosofia é, em geral, dedutiva; a Ciência, mais indutiva. A Ciência parte dos fatos particulares para estabelecer juízos universais, dos quais depois deduz outros particulares: indutivo-dedutivo.

Fonte de Consulta

SANTOS, M. F. dos. Convite à Filosofia e à História da Filosofia. 6. Ed., São Paulo: Logos., item "Do Fato ao Juízo". 

 



02 abril 2020

Valor

valor das coisas é um tema sumamente importante, pois só no quadriênio de 1927-1930, houve quem nele catalogasse mais de mil e trezentas obras publicadas sobre este tema. Ele pode ser visualizado da seguinte forma: ao observarmos um copo, notamos a sua forma física: redondo, cilíndrico, transparente. Tudo isso está no copo, mas quando o acho belo, isso não está no copo. Se lhe tirar a forma ele deixa de ser o que é. Mas se deixasse de considerá-lo belo, gracioso, o copo não deixaria de ser o que é.

Desta imensa abordagem do tema, surgiu uma nova disciplina filosófica, que se denomina axiologia (de axiós, em grego, o que é preciso, digno de ser estimado). A partir da axiologia, veio a timologia (de timós, valor em sentido extrínseco, valor por exemplo, da economia). O valor não pode ser transformado em conhecimento, pois este envolve o raciocínio, a lógica, a teoria. Pode-se dizer que o valor está mais ligado à intuição, ao sentimento, uma espécie de sexto sentido que os grandes homens da humanidade têm ao se relacionar com um fato qualquer. Eles captam a essência num piscar de olhos.

Mário Ferreira dos Santos, no livro Convite à Filosofia e à História da Filosofia, destaca as três correntes axiológicas: 1) a realista-platônica, em que os valores são entes ideais, que existiriam em si, e que as coisas, por imitá-los, teriam mais ou menos valor. Assim, há um valor do Bem, que é perfeito, e as coisas que o imitam mais ou menos são melhores ou não; 2) a tendência nominalista, onde os valores são apenas nomes que damos às nossas apreciações, que são apenas subjetivas; 3) a posição realista moderada, meio-termo entre a realista-platônica e a nominalista: tanto uma quanto a outra expressam algo de verdadeiro.

Acrescenta que quando o indivíduo perde algo ele pensa mais sobre esse algo. Observe a crença em Deus. Quando todos sentem Deus em seus corações, eles não pensam muito em sua crença. Ao tomar consciência da perda na crença de Deus, começam a pensar sobre Deus. "A vida moderna, os regimes sociais totalitários que temos conhecido, a falta de respeito à dignidade humana, levaram o homem a pensar sobre a dignidade do homem, e natural e consequentemente, teve de pensar no que valia o valor, em que consistia o valor".

Por fim, expõe as principais características do valor: a) são polares – a um  valor corresponde outro valor contrário, que se lhe opõe — Bem versus Mal; b) os valores apresentam gradatividade — um valor pode valer mais ou menos; 3) os valores apresentam hierarquia — um valor, de uma ordem, pode valer mais que o valor de outra ordem.

Fonte de Consulta

SANTOS, M. F. dos. Convite à Filosofia e à História da Filosofia. 6. Ed., São Paulo: Logos.