24 dezembro 2022

Descartes, René

René Descartes (1596-1650) nasceu em La Haye, França, pertencendo a uma família de prósperos burgueses. Estudou no colégio jesuíta de La Fléche, na época um dos mais conceituados estabelecimentos de ensino europeu. Foi soldado, esteve sob as ordens de Maurício de Nassau. Participou de várias campanhas militares. As obras de Descartes são de considerável extensão. As mais importantes são: Regras para a Direção do Espírito (1628), O Discurso do Método (1637) e Meditações Filosóficas (1641). (1)

Um gênio maligno pode tentar me fazer acreditar em coisas falsas.

Não há nada do qual posso ter certeza.

Mas quando digo "Eu sou, eu existo", não posso estar errado sobre isso.

Um gênio maligno poderia tentar me fazer acreditar nisso se eu realmente existir.

Penso, logo existo. (2)

O ponto de partida para Descartes é a busca pelas certezas, o que nunca é uma questão fácil, como ele percebe, uma vez que os sentidos podem ser enganados. O método que ele propõe é conhecido como dúvida hiperbólica - "hiperbólica" no sentido de "extrema". Assim, para testar o quanto o nosso chamado "conhecimento" está fundamentado na razão, é preciso suspender o julgamento sobre qualquer proposição cuja verdade possa de alguma forma ser questionada. Por meio de um processo eliminatório, Descartes chega à sua célebre conclusão: Cogito, ergo sum ("Penso, logo exito"). Ele tem certeza da sua própria existência, pois caso contrário não estaria pensando.

Descartes então se detém sobre o que está pensando, identificando entre outras coisas a ideia de um Ser Perfeito ou Deus. Ele tem certeza de se tratar de uma verdade e de ela existir fora de sua mente, pois de outro modo o cogito em si não seria verdadeiro. Embora isso soe novamente como escolástica, dessa vez o Ser Perfeito ajuda a provar a solidez do raciocínio humano: ele é Deus "em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da ciência". Como Deus leva Descartes a acreditar que as coisas no mundo externo são materiais, é porque devem mesmo ser, visto que um Deus perfeito jamais o enganaria. Esse dualismo - nada menos que dualismo cartesiano: a divisão entre mente pensante, não material, e o corpo mecânico, material - é algo que continua a provocar interesse até hoje.

Descartes sofreu críticas desde o início, mas quando a rainha Cristina da Suécia decidiu, em 1649, que queria ter aulas de filosofia, acabou por convocá-lo. Infelizmente, para ele a empreitada não foi bem-sucedida. Para início de conversa, Cristina gostava de começar o estudo às cinco da manhã, apesar de estarem em meados de inverno, ao passo que o tutor preferia uma manhã tranquila na cama, para ler e refletir um pouco mais. O resultado é que apenas seis meses após a chegada ele morreu de pneumonia. (3)

(1) JERPHAGNON, L. Dicionário das Grandes Filosofias. Lisboa, Edições 70, 1982.

(2) VÁRIOS COLABORADORES. O Livro da Filosofia. Tradução de Rosemarie Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011.

(3) LEVENE, Lesley. Penso, Logo Existo: Tudo o que Você Precisa Saber sobre Filosofia. Tradução de Debora Fleck. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.

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Origens do cogito [Caixa]

Cogito ergo sum talvez seja a mais conhecida de todas as frases filosóficas, mas sua origem precisa não é certa. Embora esteja inextricavelmente ligada a Descartes, a ideia por trás do cogito é anterior a ele. No início do século V d.C., por exemplo, Santo Agostinho escreveu que podemos duvidar de tudo, exceto da dúvida da própria alma, e essa ideia o precede. (Dupré, Ben. 50 ideias de filosofia que você precisa conhecer / Ben Dupré; tradução Rosemarie Ziegelmaier. - 1. ed. - São Paulo: Planeta, 2015.