02 julho 2008

Possuir de Fato e de Direito

O que precisamos para a nossa transcendência espiritual? O que estamos adquirindo de direito contribui para essa finalidade? O que diferencia a posse de direito da posse de fato? Eis aí um tema interessante para exercitar o nosso pensamento na busca de novas verdades.

Em essência, deveríamos ser refletores fiéis da vontade divina. Por que não o somos? É que não estamos dispostos a renunciar à nossa personalidade, ao nosso status quo? A história, porém, está repleta de exemplos dos que souberam atender à vontade divina e não às suas. Citemos dois: 1) Paulo de Tarso deixou a vida de doutor da lei e passou a pregar os ensinamentos de Jesus, depois que fora abençoado na estrada de Damasco; 2) São Francisco de Assis deixou as riquezas de nascença e aderiu à pobreza, servindo o Cristo em Espírito e Verdade.

Refletir a vontade divina é colocar em prática a "lei áurea", que é "Fazer aos outros o que gostaríamos que nos fosse feito, caso estivéssemos no lugar deles". Quem assim procede já não rouba mais o seu próximo e, por conseguinte, a sociedade. Há, contudo, muitos roubos que passam despercebidos, mas que não resistem a uma avaliação mais acurada de nossa consciência, quando esta busca saber o que lhe pertence de fato e o que foi adquirido de direito, ao longo de sua vida.

Questão de direito e questão de fato. Podemos possuir um imóvel, passado em cartório, com tudo legalizado, mas de fato imoral, isto porque pagamos uma quantia irrisória, somente porque o seu possuidor estava com sérias pendências financeiras. Conseguimos um bom preço pelo nosso automóvel, em virtude de ele estar parecendo novo, porque estava todo maquiado. Ganhamos um salário e não produzimos pelo que recebemos, alegando doença e problemas particulares.

Muitas vezes, reclamamos de nossa sorte. Como, porém, seria a nossa vida, se tivéssemos adquirido tudo aquilo que havíamos desejado? Será que teríamos a liberdade de pensar que estamos tendo hoje? Ou seríamos escravos de uma outra circunstância qualquer? Há muitas coisas que adquirimos que nada tem a ver com a nossa essência, que nada tem a ver com o nosso desenvolvimento espiritual. Deus, que sabe o que é melhor para o nosso progresso, pode obstruir o nosso desejo. Mesmo assim, é sempre para o nosso bem.

Com relação à distorção das imagens, anotemos a afirmação que Will e Ariel Durant fizeram no início de História da Civilização, uma obra de 11 volumes: "A civilização é um rio com margens. Às vezes, o rio está cheio de sangue que vem de pessoas que estão matando, roubando, gritando e fazendo coisas que os historiadores costumam registrar; enquanto nas margens, sem serem notadas, pessoas constroem casas, fazem amor, criam os filhos que tiveram, cantam canções, escrevem poesias e até esculpem estátuas. A história da civilização é a história do que aconteceu nas margens".

Esforcemo-nos por possuir somente aqueles bens que podem ser úteis ao nosso progresso espiritual. Lembremo-nos da frase evangélica: "Você que roubava, não roube mais".


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