02 julho 2008

Posição e Oposição

"Há algo de identidade no diferente".

Dê um tema para ser desenvolvido, apresente um problema para ser resolvido, sugira um assunto para ser discutido, elabore uma questão para ser debatida... Depois, observe o resultado: cada pessoa irá expressar a sua ideia de um ponto de vista diferente, embora se tratando do mesmo assunto. Uns darão ênfase ao lado afetivo, outros ao lado científico, outros ao lado filosófico, outros ainda ao lado religioso.

A tese do diferente na identidade está em Metafísica, de Aristóteles, que diz: "... O que é diferente de alguma coisa é sempre diferente por qualquer coisa, e tanto assim que deve necessariamente haver algo de idêntico, pelo que são diferentes". Há, também, citações de outros pensadores: Empédocles falava que "Os vértices dos discursos acabavam por percorrer um único caminho"; Pascal dizia que "A nossa natureza é sempre movimento, pois o repouso é a morte"; Heráclito afirmava que "O caminho para cima e para baixo é um e o mesmo".

Para o bom senso comum, a oposição é detestável, pois as pessoas que assim pensam são avessas ao diálogo, à discussão, à elaboração dos prós e dos contras. Os grandes pensadores, contudo, pensam de forma diferente. Sócrates, por exemplo, era um grande incentivador da arte de discutir. No contexto histórico, a dialética de Hegel ficou famosa. Segundo este filósofo, a tese (posição), a antítese (oposição) e síntese (conclusão) são os elementos básicos para a construção do conhecimento. Esse processo, por sua vez, nunca termina, porque a síntese encontrada torna-se tese para um novo ciclo, e assim sucessivamente.

O par de termos uno/múltiplo, finito/infinito, simples/complexo, todo/parte, abstrato/concreto, identidade/diferença etc. é o símbolo da metáfora da enciclopédia. Quer-se, com isso, obter uma noção da realidade total. Elaborar uma enciclopédia prende-se a esse fim. Observe, por exemplo, a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Em cada verbete há explicações religiosas, científicas, filosóficas e outras que se fizeram necessárias. Com isso, tem-se uma visão geral do termo analisado, incluindo-se os seus vários significados e aplicações práticas.

Para o ser humano de mente aberta, as coisas se ajustam melhor. Como tudo está em movimento, ele irá enfrentar cada situação como se fosse a primeira. Não se prenderá aos chavões, à tradição ou ao desânimo. Sabe que tudo se modifica: o que ontem era ídolo, hoje ninguém presta mais homenagem; por isso, não se importa quando este ou aquele não pensa pela sua cabeça. Ao contrário, até incentiva que os outros pensem de forma diferente, no sentido de não criar adeptos ou mesmo fazer proselitismo. Krishnamurti, filósofo indiano, era um mestre em fazer a pessoa pensar pela própria cabeça.

Enfrentemos serenamente as oposições e as contradições que se nos apresentarem. Sem elas não seríamos capazes de tomar consciência de nossos defeitos e das nossas limitações.

 

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