"Há algo de identidade no diferente".
Dê um tema para ser desenvolvido, apresente um
problema para ser resolvido, sugira um assunto para ser discutido, elabore uma
questão para ser debatida... Depois, observe o resultado: cada pessoa irá
expressar a sua ideia de um ponto de vista diferente, embora se tratando do
mesmo assunto. Uns darão ênfase ao lado afetivo, outros ao lado científico,
outros ao lado filosófico, outros ainda ao lado religioso.
A tese do diferente na identidade está em Metafísica, de
Aristóteles, que diz: "... O que é diferente de alguma coisa é sempre
diferente por qualquer coisa, e tanto assim que deve necessariamente haver algo
de idêntico, pelo que são diferentes". Há, também, citações de outros
pensadores: Empédocles falava que "Os vértices dos discursos acabavam por
percorrer um único caminho"; Pascal dizia que "A nossa natureza é
sempre movimento, pois o repouso é a morte"; Heráclito afirmava que
"O caminho para cima e para baixo é um e o mesmo".
Para o bom senso comum, a oposição é detestável,
pois as pessoas que assim pensam são avessas ao diálogo, à discussão, à
elaboração dos prós e dos contras. Os grandes pensadores, contudo, pensam de
forma diferente. Sócrates, por exemplo, era um grande incentivador da arte de
discutir. No contexto histórico, a dialética de Hegel ficou famosa. Segundo
este filósofo, a tese (posição), a antítese (oposição)
e síntese (conclusão) são os elementos básicos para a
construção do conhecimento. Esse processo, por sua vez, nunca termina, porque a
síntese encontrada torna-se tese para um novo ciclo, e assim sucessivamente.
O par de termos uno/múltiplo, finito/infinito,
simples/complexo, todo/parte, abstrato/concreto, identidade/diferença etc. é o
símbolo da metáfora da enciclopédia. Quer-se, com isso, obter uma noção da
realidade total. Elaborar uma enciclopédia prende-se a esse fim. Observe, por
exemplo, a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Em cada
verbete há explicações religiosas, científicas, filosóficas e outras que se
fizeram necessárias. Com isso, tem-se uma visão geral do termo analisado,
incluindo-se os seus vários significados e aplicações práticas.
Para o ser humano de mente aberta, as coisas se
ajustam melhor. Como tudo está em movimento, ele irá enfrentar cada situação
como se fosse a primeira. Não se prenderá aos chavões, à tradição ou ao
desânimo. Sabe que tudo se modifica: o que ontem era ídolo, hoje ninguém presta
mais homenagem; por isso, não se importa quando este ou aquele não pensa pela
sua cabeça. Ao contrário, até incentiva que os outros pensem de forma
diferente, no sentido de não criar adeptos ou mesmo fazer proselitismo.
Krishnamurti, filósofo indiano, era um mestre em fazer a pessoa pensar pela
própria cabeça.
Enfrentemos serenamente as oposições e as
contradições que se nos apresentarem. Sem elas não seríamos capazes de tomar
consciência de nossos defeitos e das nossas limitações.
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