“Deve-se aprender a
viver por toda a vida e, por mais que tu talvez te espantes, a vida toda é um
aprender a morrer.” (Sêneca)
Em Sobre a Brevidade da Vida, a obra
mais difundida do filósofo Lúcio Anneo Sêneca (4 a.C.? - 65 d.C.) e um dos
textos mais conhecidos de toda a Antiguidade, o autor reporta-se a Paulino, um
funcionário da alta corte imperial romana, para lhe fazer compreender que a
única coisa útil na vida é o estudo da filosofia. Quer convencê-lo, através da
exortação filosófica e do discurso claro e objetivo, que sem a filosofia a vida
se esvai improdutivamente. Parte da opinião comum de que a vida é breve.
Contraria-a, porém, estabelecendo uma perfeita distinção entre a ocupação e o
ócio.
A ocupação diz respeito à execução
de uma tarefa, ao exercício de uma profissão e à busca de riquezas; o ócio,
ao cuidado com a alma imortal. O afã empregado em conquistar fama ou riqueza
rouba-nos tempo precioso, que poderia estar sendo utilizado na obtenção dos
valores morais. Para Sêneca, "Os ocupados não vivem a verdadeira vida,
eles simplesmente deixam-se existir e calculam o tempo apenas pelo relógio, e
não pela vida interior". Para ele, o único conhecimento válido é o da
filosofia, cuja finalidade é o aperfeiçoamento moral do homem.
Sêneca escreve: "O homem vive preocupado em
viver muito e não em viver bem, quando na realidade não depende dele o viver
muito, mas sim o viver bem". O que é viver bem? É estar sem fazer nada? É
estar imerso nas inutilidades das visitas de fim de semana? É estar a par de
toda a novidade? Será que assim procedendo não estaremos vivendo nas sombras,
descritas por Platão, em seu Mito da Caverna? Sêneca, por seu
turno, pretende convencer Paulino a desprender-se das suas atividades do
cotidiano. Incentiva-o a filosofar sobre o sentido de sua própria existência.
Baseando-nos nesses ensinamentos, perguntaríamos:
como estamos refletindo sobre nós mesmos? Será que estamos sendo realmente senhores
de nós mesmos? Sabemos dizer sim quando aceitamos uma ordem
e não quando discordamos dela? Qual o grau de influência que o
pensamento dos outros tem sobre a nossa conduta? Estamos preocupados em dar
explicações sobre o nosso modo de vida? Será que a nossa maneira de viver
interessa tanto aos outros, como a supomos?
Se a vida é breve, tenhamos em mente que o minuto
que passa não volta jamais. Assim, aproveitemo-lo da melhor forma possível. Que
ele seja a perfeita vontade de Deus em nossas almas. Aquele que tem a
consciência tranquila estará sempre bem, inclusive na prisão, porque estará em
paz com o seu pensamento. Aquele, porém, que tem a consciência tisnada, não
estará bem em lugar nenhum, porque "o criminoso sempre retorna ao lugar do
crime". Quer dizer, a nossa consciência estará sempre remoendo aquilo em
que contrariou as Leis Divinas.
A vida nada mais é do que a viagem da alma rumo ao
seu progresso moral e espiritual. Façamos sempre uma avaliação serena de tudo
aquilo que se apresenta aos nossos olhos. Nada de emoção descabida, nem de
racionalismo excessivo. A virtude está no meio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário