11 setembro 2023

Krishnamurti, Jiddu

Jiddu Krishnamurti (1895-1986) foi um filósofo e orador indiano que discorria sobre autoconhecimento, disciplina e espiritualidade. A partir dos treze anos de idade passou a ser educado pela Sociedade Teosófica, que o considerava o veículo para o “Instrutor do Mundo”. Já, nessa idade, viajava pelo mundo para participar de debates filosóficos. Discutiu sobre desapego e autodisciplina mais do que quaisquer outros temas.  

Repudiando a imagem messiânica que lhe queriam impor, em 1929 dissolveu a grande e rica organização que havia sido criada à sua volta, e declarou ser a verdade “uma terra sem caminhos”, à qual nenhuma religião formalizada, filosofia ou seita daria acesso. A partir de então, por quase sessenta anos até sua morte em 17 de fevereiro de 1986, viajou pelo mundo conversando com grandes audiências e indivíduos sobre a necessidade de uma mudança radical na humanidade.

Krishnamurti não expôs nenhuma filosofia ou religião, mas tratou dos diversos problemas que nos afetam, ou seja, violência, corrupção, segurança, felicidade. Realçava sempre a necessidade de a humanidade se libertar dos fardos internos do medo, raiva, mágoa e tristeza. Em suas palestras, afirmava que organização religiosa, seita ou país são fatores que dividem os seres humanos, pois provocam conflitos e guerras. Não falava como um guru, mas como um amigo.

Krishnamurti deixou um grande corpo de literatura na forma de palestras públicas, escritos, discussões com professores e alunos, com cientistas e figuras religiosas, conversas com indivíduos, entrevistas de rádio e televisão e cartas. Muitos deles foram publicados como livros e gravações de áudio e vídeo.

Frases

“A forma mais elevada de inteligência humana é dirigir a atenção desprovida de julgamento.”

The truth is a pathless land. (“A verdade é uma terra sem caminhos”)

“A curiosidade não é o caminho da compreensão. O entendimento vem com o autoconhecimento.”

“É somente quando o processo de pensamento cessa que pode haver amor.”

“Não há professor, não há aluno, não há líder, não há guru, não há mestre, não há salvador. Você mesmo é o professor, o aluno, o mestre, o guru, o líder, você é tudo.”

“Não há caminho para a verdade: ela que deve vir até nós.”

Alguns títulos de seus livros

A Mente Imensurável

A Primeira e a Última Liberdade

Liberte-se do Passado

Nossa Luz Interior: o Verdadeiro significado da Meditação

O Livro da Vida

Seu Universo Interior: Você é a História da Humanidade

Fonte de Consulta

https://laparola.com.br/jiddu-krishnamurti

https://krishnamurti.org.br/wp/biografia/


Fragmentação e suas Consequências

"Os que creem na verdade afirmam que as coisas de valor mais elevado não são afetadas pela passagem do tempo."

O grande problema do ser humano é a fragmentação em que a sociedade o colocou. E a própria ciência tem contribuído para isso, principalmente ao formar seres cada vez mais especializados, aqueles que conhecem "quase tudo do quase nada". O que se espera de um homem de ação que, nos seus quarenta anos de exercício de uma profissão, ficou sempre repetindo os mesmos atos? Não resta dúvida que se tornou mais eficaz em sua especialidade. Mas, como se relaciona com o todo da vida? Como irá enfrentar, por exemplo, o problema da morte?

A fragmentação pode ser entendida de várias formas, conforme o contexto em que for colocada. Refere-se à quebra de algo em partes menores. Em se tratando da filosofia, há os valores universais e os valores particulares. Quando damos muita ênfase ao particular, relegamos o geral, que deveria ser o mais importante para nós, porque dizem respeito aos princípios. 

Platão, em sua época, descortinou-nos o mundo das ideias, dando ênfase ao transcendental, ao centro. Com o passar do tempo, fomos nos afastando desse centro em direção à sua periferia. Foi a partir da Idade Média que este movimento em direção ao particular começou a tomar força, pois o surgimento da ciência enveredou-nos para a especialização. Platão, porém, nos lembra que em qualquer fase de uma pesquisa é importante saber se estamos nos aproximando ou nos distanciando dos princípios.

De acordo com Weaver, em seu livro As Ideias têm Consequências, o ponto de reverso dessa atitude filosófica foi a aparecimento do nominalismo de Guilherme de Ockham, que nega a existência real dos universais. Nesse sentido, o cientista, o técnico e o acadêmico, que trocaram o Um pelo Muito são tipos cheios de vaidade. Ainda: a obsessão pelos meios pode deixar alguém cego para a realidade.

Com a fragmentação, começamos a dar valor ao superficial, ao entendimento sem o mínimo de esforço, tal como nos adestram as mídias jornalísticas e televisivas. Em geral, oferecem-nos ideias estereotipadas, cujas respostas exigem apenas um sim e um não. O homem moderno não tem mais tempo de se aprofundar no conhecimento, não busca o seu anelo com o transcendental, visto que o apelo material oblitera todas as suas pretensões.

O espírito em evolução necessita de fazer esforços hercúleos para vencer as atrações do mundo, pois tudo gira em torno do egoísmo, da vaidade, da posse, do "tornar-se". Contudo, os objetivos reais de nossa existência é "ser". 

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A Faculdade de Teologia em Sorbonne podia ser consultada em assuntos relativos a operações financeiras, algo que em nossa época de fragmentação seria considerado competência exclusiva do banqueiro. (Capítulo 3 — "Fragmentação e Obsessão" de As Ideias têm Consequências, de Richard M. Weaver)


 

 

 

10 setembro 2023

Ideias têm Consequências, As (Livro)

As Ideias têm Consequências é o título do livro de Richard M. Weaver (1910-1963), traduzido por Guilherme Araújo Ferreira, copyright 1984. Weaver — historiador, intelectual e filósofo conservador do século XX  analisa a causa e o efeito do declínio da crença em regras e valores. Este declínio se dá pelo abandono do transcendental, dos universais, e a ênfase no particular. 

Richard M. Weaver considera Guilherme de Ockham o principal representante dessa mudança, pois este propôs a doutrina do nominalismo, que nega a existência real dos universais. O resultado prático da filosofia nominalista é o banimento da realidade percebida pelo intelecto e o postular como realidade aquilo que é percebido pelos sentidos. E a negação de tudo quanto transcenda a experiência significa a negação da verdade.

Aos poucos a humanidade foi perdendo os esforços hercúleos que os pensadores da Idade Média, os escolásticos, fizeram com o objetivo de preservar uma visão de mundo universal. Os escolásticos compreenderam que o debate universalia ante rem (universal antes do fato) versus universalia post rem (universal depois do fato) livrava-nos do péssimo recurso à justificação pragmática. Aí se encontra o princípio do autocontrole, que é uma vitória da transcendência.

Ao longo do livro vai situando alguns problemas triviais que, analisados com profundidade deixam-nos cada vez mais distantes das verdades universais, pois o homem pragmático está preocupado com o egoísmo, o poder, os prazeres fáceis. Não havendo limite da filosofia nem da religião, tudo lhe é permitido.

O capítulo que trata da Grande Lanterna Mágica, cuja função é projetar imagens selecionadas da vida, na esperança de que aquilo que é visto possa ser imitado, é muito valioso, pois faz uma crítica da imprensa, cinema e rádio, destacando o modo como fazem cabeça dos menos avisados: quanto mais uma expressão é estereotipada, mais digna de crédito ela é. Há, inclusive, a estereotipagem de frases inteiras para que não estimulem a reflexão, mas a evocação de respostas prontas do sim ou do não.

Algumas frases extraídas capítulo que trata da Grande Lanterna Mágica:

“Os operadores da Grande Lanterna Mágica têm especial interesse em manter as pessoas afastadas das realidades mais profundas”.

“Confirmam assim a observação de Sócrates de que a sociedade não se preocupa com a presença de um sábio, mas se mostra inquieta quando ele começa a transmitir sua sabedoria a outros”.

“Grande Lanterna Mágica impede que o cidadão comum perceba a “o caráter fútil de sua contabilidade e a vacuidade de sua felicidade doméstica””.

“Grande Lanterna Mágica é a versão contemporânea da célebre imagem da caverna platônica”.

Conclui o seu livro da seguinte forma:

“Pode ser que estejamos aguardando uma grande mudança; pode ser que os pecados de nossos pais recaiam ainda sobre as gerações futuras até que nos apercebamos novamente da realidade do mal e então sobrevenha uma reação impetuosa como aquela que floresceu no cavalheirismo e na espiritualidade da Idade Média. Se isso é o que de melhor podemos esperar, precisamos, pois, preparar tal renascimento com reflexões e atos volitivos nesse ocaso do Ocidente”.

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Pensamentos Extraídos do Livro

"Pois se todas as coisas tivessem surgido de modo automático, em vez de resultarem do intelecto, todas elas seriam uniformes e sem distinção." (Santo Atanásio)

“O conforto se torna um fim quando as distinções de posição são abolidas e os privilégios, destruídos.” (Tocqueville)

"Todas as ideias estão em Deus e, na medida em que se referem a Deus, são verdadeiras e adequadas. Portanto, nenhuma ideia é inadequada ou confusa, salvo quando se referem ao pensamento individual de alguém." (Spinoza)

“Na verdade, o excessivo amor de si é em cada homem a fonte de todas as ofensas; pois o amante fica cego em relação ao amado, de modo que julga erroneamente o justo, o bem e o honrável e crê que deve sempre preferir seu próprio interesse à verdade." (Platão)

“Os assuntos que têm perturbado o país são a autoridade da magistratura e a liberdade do povo. Vós nos escolhestes para esse cargo; mas, depois de escolhidos, nossa autoridade passa a vir de Deus. É um mandado de Deus e tem Sua imagem impressa nele; e o desprezo por essa autoridade, Deus já o vingou com terríveis manifestações de Sua ira.” (Declaração de John Winthrop dada na assembleia legislativa de Massachusetts em 1645)

“Eu sou diferente de todos os homens que já vi. Se não sou melhor, ao menos sou diferente.” (Rousseau, quando escreveu no início de suas Confissões, estava expressando sem rodeios a marca da sensibilidade egoísta)

"Enfermos estão sempre; vomitam sua bile e a chamam de periódico." (Nietzsche)

Certa vez, Jefferson afirmou que seria preferível ter jornais e prescindir do governo a ter um governo e viver sem jornais. Mas quando tinha setenta anos escreveu a John Adams: “Troquei os jornais por Tácito e Tucídides, por Newton e Euclides, e agora sou muito mais feliz”. 

"Santos e beberrões nunca são progressistas." (Yeats)

Algumas Frases Latinas do Livro 

Homo sapiens (Um homem sábio).

Homo faber (Um homem é um carpinteiro).

Ultima ratio (Pensamento final).

Abeste profani (Abstenha-se do profano).

Universalia ante rem versus universalia post rem (Universais antes da coisa versus universais depois da coisa).

Hortus siccus (Jardim seco).

Ad hoc (Para isso).

Ab extra (De fora).