O ser humano, no seu dia-a-dia, age de acordo com a lei do menor
esforço. Ele prefere atividades que lhe proporcionem prazer, bem-estar e
ausência de contradição. Se algo lhe traz perturbação — obrigando-o a pensar —
tem logo o desejo de deixar aquilo de lado e ocupar-se de outra coisa como, por
exemplo, entretecer-se com jogos, buscar companhia e chafurdar-se na bebida.
Ele não tem o hábito de pensar, amar e deleitar-se com a dificuldade. Só o faz
quando se vê impossibilitado de fugir.
O nosso agir está preso
a um imaginário social, a um estado utópico. Observe o trabalho dos
marqueteiros em época de eleição: sabedores de que a emoção comanda a ação da
maioria dos viventes, eles elaboram a propaganda política de forma a exaltar um
candidato super-homem, que irá resolver todos os problemas da nação. Diante
dessas imagens temos a impressão de viver em dois mundos, um real em que
predomina o desemprego, a insegurança e o medo, e o outro, imaginário, em que
tudo é pintado de verde a amarelo.
O sonho, a utopia, o vir
a ser faz-nos desviar do que é. O que é é mais difícil, porque nos faz debruçar sobre os problemas,
pensar em como resolver questões, em como arranjar dinheiro para pagar as
contas no final do mês. É nesse sentido que se fala que o homem, por estar preso
a um passado delituoso e a um futuro florido, esquece de viver o único momento
que é real, ou seja, o momento presente. É justamente sobre esse momento, sobre
essa realidade que deveríamos envidar todos os nossos esforços de compreensão.
O que é mostra-nos que devemos perceber a realidade,
tal qual ela é, isto é, sem subterfúgios. E quais são esses subterfúgios?
Pode-se contar às pencas: é a leitura de um livro, a ida ao cinema, o ligar o
rádio, o assistir à televisão, o conversar com os amigos, as conversas ociosas,
as tagarelices das rodinhas do fim de semana, a maledicência, a crítica e
tantos outros. Essas distrações contribuem para a perda de tempo, tempo esse
que poderia ser empregado na compreensão do que está acontecendo conosco.
Quais são os frutos de
enfrentar o que é? Quais são as consequências desse auto percebimento? Paz de
espírito, plenitude da vida e compreensão. Aqueles que se aceitam tais quais
são acabam por diminuir o conflito interior. Eles não lutam a favor do que
devia ser, eles simplesmente refletem sobre o que está acontecendo aqui e
agora. Eles não dizem: "vou deixar para amanhã"; eles afirmam:
"aproveitemos o dia de hoje, porque as horas que passam não voltarão
jamais".
O auto percebimento
traz-nos um ensinamento valioso. Faz-nos tomar consciência do nosso egoísmo, de
nossa fraqueza, do nosso medo. E uma vez tomado consciência, o processo de
transformação torna-se mais fácil.
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