A prudência é a qualidade de quem age com moderação,
comedimento. É uma virtude que nos coloca de sobreaviso sobre tudo aquilo que é
motivo de erro ou de dano ou que pode nos trazer algum constrangimento. Ser
prudente é calcular, desconfiar, frequentemente calar e, às vezes, rastejar, é
imitar a serpente, para melhor se defender das serpentes.
Baltasar Gracian afirma: "Não há sorte e nem
desgraça; o que há é prudência e imprudência". Quer tirar-nos a imagem que
o senso comum forma sobre o êxito de uma pessoa, ou seja, que ele é devido à
sorte ou aos bons ventos. Acontece que o bom êxito não vem por acaso. Ele é
fruto de um trabalho árduo, de uma perseverança sem fim naquilo que se tem em
mente, no objetivo a ser atingido. Compará-lo à sorte é uma comodidade dos
espíritos levianos e pouco afeitos aos esforços do pensamento.
Uma das regras da prudência é não gerar
expectativas nos outros. Despertar a curiosidade tem mais eficácia. Por que?
Quando as pessoas exageram nas expectativas, elas não estão sendo coerentes com
a realidade das coisas. O resultado, quase sempre, é a decepção. Observe os
comentários da mídia com relação ao selecionado brasileiro: o melhor futebol do
mundo, o favorito para ganhar a copa do mundo. A realidade: os atletas jogam
abaixo dessa projeção, daí a crítica e a exigência de mudança.
É prudente não se revelar totalmente aos outros. Um
certo grau de mistério é sempre preferível. O alimento deve ser dado quando o
apetite estiver com fome. Por que forçar uma situação, quando o grupo ainda não
aglutinou forças para tal realização? Saber esperar o momento certo para uma
repreensão, para uma advertência, para um ensinamento. Jesus disse-nos para não
colocar a candeia debaixo do alqueire, ou seja, sugeria-nos que falássemos de
acordo com o interesse e a compreensão do interlocutor.
Estamos mais sujeitos a ouvir do que a ver.
Significa dizer que a nossa vida se pauta muito mais pelas notícias do jornal,
da televisão, do rádio etc. Não fomos ao local do evento para tirar as nossas
próprias conclusões. Acabamos sempre tomando conhecimento pela visão dos
outros, a qual agrega subjetividade, opinião pessoal. Por isso, é preciso
desconfiar do enfoque televisivo, principalmente das propagandas
governamentais. E se houver algum interesse por detrás de tudo isso? Como fica o
nosso perfeito conhecimento da verdade?
Diante das contradições e incertezas de nossa
vivência neste Planeta, conservemos sempre as nossas forças para o dia
seguinte, pois quem se precata corre menos perigo.
Fonte de Consulta
GRACIAN, Baltasar. A Arte da Prudência: Aforismos
Selecionados. Tradução de Davina Moscolo de Araújo. Rio de Janeiro:
Sextante, 2006.
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