"[...] para
o conhecimento de absolutamente qualquer verdade o homem precisa de ajuda
divina." (Suma teológica)
Tomás de
Aquino (1225-1274)
viveu num século em que duas correntes de ideias se opunham: a) um evangelismo radical
do movimento de pobreza, ligado à obra de São Francisco, que renova e aprofunda
a piedade e "redescobre" a Sagrada Escritura; b) um mundalismo inspirado
em Aristóteles, que confere à razão natural e ao mundo material uma importância
e uma independência jamais vistas. Tomás aceita, sem tomar partido, essas duas
posições antagônicas. Depois, pela reflexão, ultrapassa-as ao desvendar a
verdade de cada uma delas.
Tomás dirige sua
busca filosófico-teológica ao ser, em abertura para a máxima totalidade. Opta,
não por uma lucubração artificiosa, mas pela linguagem simples, a linguagem do
povo. Para ele essa linguagem é depositária de grande sabedoria, quando bem
garimpada. Dizia que o homem é um ser que esquece. E o filosofar é, em boa
medida, uma tentativa de lembrar, de resgatar os grandes insights de
sabedoria que se encontram encerrados na linguagem comum.
Todo pensamento
medieval estava dominado pelo pensamento de Santo Agostinho que, por sua vez,
baseava-se em Platão. Platão dizia que as essências estão fora do mundo, no topus uranus.
Santo Agostinho complementou essa teoria, afirmando que as essências estão
todas na mente de Deus. Tomás de Aquino, por seu turno, trata do ser
existencial, ou seja, daquilo que ele está observando aqui e agora. Assim, ele
realiza uma revolucionária descoberta baseada na distinção aristotélica entre
potência e ato: a do ato de ser. Potência e ato são noções
básicas e intuitivas: "potência" é o que pode vir
a ser real, mas de fato não o é.
A concepção de
Tomás de Aquino sobre a ética não é aquela que temos hoje em dia, ou seja, uma
moral repressiva e punitiva. Para ele a moral é
o ser do homem, doutrina sobre o que o homem é e está chamado a ser. É um
processo de auto-realização do homem, um processo levado a cabo livre e
responsavelmente e que incide sobre o nível mais fundamental do ser homem. A
moral de Aquino refere, exclusivamente, à totalidade do ser homem. Por isso,
distingue a realização (todo) das realizações parciais,
como as profissionais, as artísticas e as religiosas.
Na Teologia de
Tomás de Aquino não encontramos novidades. Coloca em pauta os temas já tratados
pelos seus antecessores: Santíssima Trindade, Encarnação, Graça, Sacramento,
Pecado etc. A única diferença é que aprofunda o seu significado. No que se
refere à Graça, diz que há uma participação do ser em Deus. A Santíssima
Trindade, por exemplo, expressa um Deus que é o Verbo, o qual se fez carne,
através de seu Filho Jesus. Procura explicar tudo isso em termos de um
raciocínio lógico, ou seja, nós participamos da natureza de Deus, mas não somos
Deus.
Enfim, Tomás de
Aquino é o último dos grandes clássicos que soube sintetizar o conhecimento
aristotélico com a universalidade do Cristianismo.
Fonte de Consulta
LAUAND, L.
J. Tomás de Aquino, Hoje. São Paulo, GRD, Curitiba, Champagnat,
1993.
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Sobre a questão
da razão versus fé, Tomás de Aquino acreditava se tratar de
elementos separados mas complementares; o primeiro era subserviente em ser
subordinado. O mundo está cheio de coisas reais que podemos ver e imaginar,
porém, por trás delas, há uma causa primeira. A existência de Deus podia ser
demonstrada por meio da razão, ao passo que doutrinas específicas, como a
Santíssima Trindade e a encarnação de Cristo, eram reveladas por meio da fé. (LEVENE, Lesley. Filosofia para Ocupados: dos Pré-Socráticos aos Tempos Modernos. Tradução de Débora
Fleck. Rio de Janeiro: LeYa, 2019.)
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