A admiração, já
apregoada pelos primeiros filósofos gregos da antiguidade, é um dos requisitos
fundamentais na arte de pensar. Ela pode ser vista sob dois aspectos: passivo e
ativo. Na admiração passiva, captam-se contemplativamente os
estímulos da realidade; na admiração ativa, exige-se o uso da
dialética, pois esta obriga-nos a perguntar e responder, tal qual fazia
Sócrates, com a sua ironia e a sua maiêutica. Cabe-nos estabelecer uma relação
equilibrada entre essas duas formas de construção do conhecimento.
A invenção é o
arcabouço teórico do pensamento. É a partir dela que o nosso pensamento se
exercita. A maioria das vezes é expressa pela fórmula "lucem demonstrat umbra", ou seja, é a
sombra que nos faz conhecer a luz. Pensar, muitas vezes, é suplantar uma
situação confusa, nebulosa e irracional. Assim, o pensamento parte sempre do
falso para o verdadeiro, do erro para a verdade, da sombra para a luz. Sobre a
invenção, Napoleão dizia: "desenvolvo sempre o meu tema de muitas
maneiras".
Escolher é excluir.
Quando pensamos em algo, recusamos tudo o mais. Para que possamos desenvolver
plenamente a arte de pensar, há necessidade de abandonarmos aquilo que não nos
interessa, aquilo que não faz parte do nosso projeto de vida. Para tal, o
procedimento correto seria: escolha de um assunto de nosso interesse,
aprofundando-o o máximo possível, para daí extrair os sucos saborosos do
aprendizado. O diaphora eidopois (a diferença
que especifica) deve ser muito enfatizada, para entendermos o uso correto das
palavras.
A distinção dos
termos é outra faceta na arte de pensar. Sob esse mister, não são poucas as
palavras que apresentam dubiedades. Para isso, precisamos dar às palavras o seu
sentido exato, e se não for possível, o mais próximo de um perfeito
entendimento. Usamos constantemente as palavras amor, humildade, egoísmo e
orgulho. Será que consideramos os dois lados da questão, como por exemplo, o
egoísmo virtuoso e o vicioso? Dentro desse contexto, podemos afirmar que há
muitos ateus que são mais religiosos do que os próprios religiosos, porque ter
uma religião não significa necessariamente que a pessoa seja religiosa.
A contradição é o
esgrima do pensamento. Santo Tomás, em sua Suma Teológica, usava constantemente o sed contra est (mas em
contrário se diz). Isso quer dizer que deveríamos rejeitar todo o pensamento
que parece correto, a fim de adquirir um conhecimento mais próximo da verdade.
As frases, "supor que o impossível exista é um dos preceitos da arte de
inventar" e "a arte de pensar consiste em supor, por um momento, que
as coisas poderiam ser o contrário do que são", servem perfeitamente para
ilustrar essa questão.
O pensamento sempre
precisa de combustível. Se não lhe dermos o alimento de que necessita, ele pode
se atrofiar. A solução: nunca estejamos de todo ociosos: ora lendo, ora
escrevendo, ora refletindo, eis o exercício por excelência.
Fonte de Consulta
GUITTON, J. Nova Arte de Pensar. 2. ed. São
Paulo: Paulinas, 1966.
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