02 julho 2008

Platão

"Não espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida." (Platão)

Platão (428-347 a.C.) viveu no final do "século de ouro" da cultura grega, período em que começou a vigorar uma postura mais crítica e autônoma em relação à tradição. Esse período estava associado ao aparecimento da democracia – o novo regime político –, em que foi possível também o surgimento da retórica e da sofística, modos de utilização da palavra intimamente associados à democracia.

Os escritos filosóficos de Platão basearam-se em diálogos e não em tratados. Esses diálogos foram classificados em três tipos: juventude, maturidade e velhice. Os diálogos de juventude ou socráticos representam o questionamento que Sócrates fazia aos sábios da época; nos diálogos de maturidade, Sócrates não aparece interrogando, mas proferindo afirmações que podem ser do próprio Platão; nos diálogos de velhice, Sócrates ainda é personagem, embora nem sempre a principal.

Como todos os outros jovens de sua época, Platão tinha sido introduzido na retórica. Contudo, teve a oportunidade de conhecer Sócrates, chamado por ele o "mais sábio homem de sua época". A morte de Sócrates, de forma injusta, provocou-lhe uma profunda mudança de concepção. Passou, daí em diante, a escrever os ensinamentos de Sócrates e a defender a filosofia como sendo a única que poderia salvar a cidade dos sofistas. Para ele, somente os filósofos eram capazes de conhecer a verdade, o sumo bem, e, com isso, dirigir corretamente os destinos da cidade, porque não agiriam em causa própria, mas segundo o interesse geral.

A premissa básica da filosofia de Platão é a distinção entre a realidade e a ilusão. Essa tese foi lançada em virtude de ter sido discípulo indireto de Heráclito, que afirmara que todas as coisas fluem e que, por isso, não é possível entrarmos duas vezes no mesmo rio, porque tanto nós quanto o rio se modificaram. Para resolver esta questão, queria achar um ponto fixo, uma forma perfeita e imutável. A "Teoria das Formas" seria esse mundo imutável, o mundo real. Em contrapartida, o mundo sensível seria o ilusório. É uma verdadeira inversão do senso comum, que tem por real o que é sensível.

Assim, a "Teoria das Formas ou das Ideias", que aparece no Livro VI de A República, é a trave mestra de sua filosofia. É, ainda hoje, muito comentada. Lembremo-nos de que "Forma" não é silhueta, figura ou contorno e "Ideia" não é gestação mental, pensamento. Para Platão, tudo o que vemos no mundo visível tem sua forma perfeita no mundo das ideias. Exemplificando: há vários tipos de mesa, de cadeira, de automóvel. Esses vários tipos de mesa, cadeira e automóvel têm, cada qual, uma única forma ideal. É uma espécie de modelo mental que identifica um objeto, classificando-o como tal.

Costuma-se dizer que não se sabe quando Platão fala por ele e quando fala pelo Sócrates histórico. Hoje, de acordo com vários estudos hermenêuticos, pode-se distinguir onde começa o Sócrates histórico e onde começa o Platão verdadeiro. Sócrates, por exemplo, não se preocupava com a metafísica e a epistemologia. Ele estava interessado na ética, mas não na ética dos valores; ele queria descobrir o método, o método da refutação, o elencus. A maiêutica, que é fruto da metafísica e da epistemologia, já pertence a Platão.

Platão é um opositor dos sofistas. Os sofistas eram professores de retórica. Eles percorriam as cidades para vender o seu saber, que era o de ensinar a persuadir pela palavra, não importando muito com o caráter moral da questão. A palavra "sofista" assemelha-se à palavra "filósofo", pois ambas têm origem na palavra grega sophia, que significa "sabedoria". O que diferencia um do outro? O sofista é o "sábio", enquanto o filósofo é "aquele que aspira à sabedoria". Platão passa a combater os sofistas, porque achava que estes dificultavam o livre exercício da justiça no regime democrático.

Platão é um filósofo clássico. Muitas de suas ideias permaneceram no tempo, principalmente aquelas que dizem respeito à reencarnação e à imortalidade da alma. Eis aí uma verdade que deve ser sempre propagada.

Fonte de Consulta

BOLZANI, Roberto Filho. Platão: Verdade e justiça na cidade. In: FIGUEIREDO, Vinicius de (Org.). Seis Filósofos em Sala de Aula. São Paulo: Berlendis & Vertechia, 2006.

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Diálogos não Escritos de Platão

Platão se recusa a escrever alguns diálogos. Acha que eles poderiam ser prejudiciais a algumas pessoas que ainda não tivessem capacidade de entendê-los. Assemelha-se ao “não colocar a candeia debaixo do alqueire”, como nos ensina o Evangelho de Jesus. Ele prefere gravar esses discursos não escritos na ALMA do interlocutor, que uma vez compreendidos, jamais poderia esquecê-los. (In Convite a Platão, de Giovanni Reale)

 

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