As Ideias têm
Consequências é o título do livro de Richard M. Weaver (1910-1963), traduzido por Guilherme Araújo Ferreira, copyright 1984. Weaver — historiador, intelectual e
filósofo conservador do século XX — analisa a causa e o efeito do declínio da crença em regras e valores.
Este declínio se dá pelo abandono do transcendental, dos universais, e a ênfase no particular.
Richard M. Weaver considera
Guilherme de
Ockham o principal representante dessa mudança, pois este propôs a doutrina do
nominalismo, que nega a existência real dos universais. O resultado prático da
filosofia nominalista é o banimento da realidade percebida pelo intelecto e o
postular como realidade aquilo que é percebido pelos sentidos. E a negação de
tudo quanto transcenda a experiência significa a negação da verdade.
Aos poucos a humanidade foi perdendo os esforços hercúleos
que os pensadores da Idade Média, os escolásticos, fizeram com o objetivo de
preservar uma visão de mundo universal. Os escolásticos compreenderam que o
debate universalia ante rem (universal
antes do fato) versus universalia post
rem (universal depois do fato) livrava-nos do péssimo recurso à justificação
pragmática. Aí se encontra o princípio do autocontrole, que é uma vitória da transcendência.
Ao longo do livro vai
situando alguns problemas triviais que, analisados com profundidade deixam-nos
cada vez mais distantes das verdades universais, pois o homem pragmático está
preocupado com o egoísmo, o poder, os prazeres fáceis. Não havendo limite da
filosofia nem da religião, tudo lhe é permitido.
O capítulo que trata
da Grande Lanterna Mágica, cuja função
é projetar imagens selecionadas da vida, na esperança de que aquilo que é visto
possa ser imitado, é muito valioso, pois faz uma crítica da imprensa, cinema e rádio,
destacando o modo como fazem cabeça dos menos avisados: quanto mais uma expressão
é estereotipada, mais digna de crédito ela é. Há, inclusive, a estereotipagem
de frases inteiras para que não estimulem a reflexão, mas a evocação de
respostas prontas do sim ou do não.
Algumas frases extraídas capítulo que trata da
Grande Lanterna Mágica:
“Os operadores da Grande Lanterna Mágica têm
especial interesse em manter as pessoas afastadas das realidades mais profundas”.
“Confirmam assim a observação de Sócrates de que a
sociedade não se preocupa com a presença de um sábio, mas se mostra inquieta
quando ele começa a transmitir sua sabedoria a outros”.
“Grande Lanterna Mágica impede que o cidadão comum
perceba a “o caráter fútil de sua contabilidade e a vacuidade de sua felicidade
doméstica””.
“Grande Lanterna Mágica é a versão contemporânea da
célebre imagem da caverna platônica”.
Conclui o seu livro da seguinte forma:
“Pode ser que estejamos aguardando uma grande
mudança; pode ser que os pecados de nossos pais recaiam ainda sobre as gerações
futuras até que nos apercebamos novamente da realidade do mal e então
sobrevenha uma reação impetuosa como aquela que floresceu no cavalheirismo e na
espiritualidade da Idade Média. Se isso é o que de melhor podemos esperar,
precisamos, pois, preparar tal renascimento com reflexões e atos volitivos
nesse ocaso do Ocidente”.
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Pensamentos Extraídos do Livro
"Pois se todas as coisas tivessem surgido de modo automático, em vez de resultarem do intelecto, todas elas seriam uniformes e sem distinção." (Santo Atanásio)
“O conforto se torna um fim quando as distinções de posição são abolidas e os privilégios, destruídos.” (Tocqueville)
"Todas as ideias estão em Deus e, na medida em que se referem a Deus, são verdadeiras e adequadas. Portanto, nenhuma ideia é inadequada ou confusa, salvo quando se referem ao pensamento individual de alguém." (Spinoza)
“Na verdade, o excessivo amor de si é em cada homem a fonte de todas as ofensas; pois o amante fica cego em relação ao amado, de modo que julga erroneamente o justo, o bem e o honrável e crê que deve sempre preferir seu próprio interesse à verdade." (Platão)
“Os assuntos que têm perturbado o país são a autoridade da magistratura e a liberdade do povo. Vós nos escolhestes para esse cargo; mas, depois de escolhidos, nossa autoridade passa a vir de Deus. É um mandado de Deus e tem Sua imagem impressa nele; e o desprezo por essa autoridade, Deus já o vingou com terríveis manifestações de Sua ira.” (Declaração de John Winthrop dada na assembleia legislativa de Massachusetts em 1645)
“Eu sou diferente de todos os homens que já vi. Se não sou melhor, ao menos sou diferente.” (Rousseau, quando escreveu no início de suas Confissões, estava expressando sem rodeios a marca da sensibilidade egoísta)
"Enfermos estão sempre; vomitam sua bile e a chamam de periódico." (Nietzsche)
Certa vez, Jefferson afirmou que seria preferível ter jornais e prescindir do governo a ter um governo e viver sem jornais. Mas quando tinha setenta anos escreveu a John Adams: “Troquei os jornais por Tácito e Tucídides, por Newton e Euclides, e agora sou muito mais feliz”.
"Santos e beberrões nunca são progressistas." (Yeats)
Algumas Frases Latinas do Livro
Homo sapiens (Um homem sábio).
Homo faber (Um homem é um carpinteiro).
Ultima ratio (Pensamento final).
Abeste profani (Abstenha-se do profano).
Universalia ante rem versus universalia post rem (Universais antes da coisa versus universais depois da coisa).
Hortus siccus (Jardim seco).
Ad hoc (Para isso).
Ab extra (De fora).