No século XIII, a relação ensino-aprendizagem baseava-se, inicialmente, na lectio, na disputatio e na praedicatio. Pierre de Chantre compara essas três atividades dos teólogos à construção de um edifício: a lectio corresponderia à fundação, a disputatio, às paredes e a praedicatio, ao teto que protege do calor e das tempestades de vícios.
A lectio reflete
o quanto o ensino da filosofia medieval era dependente de livros.
A disputatio,
disputa ou discussão, surgiu como um desenvolvimento da quaestio.
Poder-se-ia entender como encerramento de um lectio. A disputatio começa
com o mestre propondo um tema. Seguia-se a proposição de teses corroborando tal
posição. Em seguida, surgia o oponente (opponens), que propunha objeções
à tese. Depois disso, entrava em cena o respondedor (respondens), cuja
função era opor contra-objeções à medida que o opponens apresenta
suas objeções. Uma vez compreendidos os diversos matizes do problema, o
mestre voltaria à cena fornecendo, de maneira argumentada, a solução (determinatio).
"A quaestio,
a lectio e as disputationes são formas orais
de exposição e de debates de ideias. Elas receberam uma expressão escrita
responsável pela preservação do que nos resta da produção escolástica. Assim,
as quaestiones quodlibetales são, em princípio, a transcrição
das disputas dirigidas por um mestre e reunidas por temas ou por gênero.
Frequentemente, um ou mais ouvintes transcreviam tanto as disputas quanto a
solução fornecida pelo mestre no dia seguinte. O conjunto era publicado com o nome
de reportatio, tendo obviamente um grau de fidelidade não muito
confiável. Quando o mestre as corrigia, utilizando suas próprias anotações para
suprir algumas passagens, o resultado ganhava o nome de ordinatio".
A partir do século XII, surgem
as sententiae, summa ou mesmo summa
sententiarum, formas manuais ou resumos de temas teológicos, em que as
citações de autoridades são acrescentadas de opiniões de
mestres contemporâneos mediante a introdução de questões (quaestiones)
suscitadas pelo conflito de interpretações. A Suma de
teologia de Tomás de Aquino é um exemplo característico do uso do
método da quaestio e de um certo distanciamento das
autoridades praticado pela escolástica.
"A Suma de
teologia é composta de três partes, a segunda subdividida em duas, e
estruturada em questões e artigos. Cada artigo é introduzido por uma
interrogação dialética, iniciada por um “se” (utrum). Por exemplo: “Se a
existência de Deus pode ser demonstrada”. Os dois lados da alternativa são
apresentados por meio de citações bíblicas e de autoridades, argumentos
filosóficos, noções comuns etc. A primeira série de argumentos apresenta
normalmente a alternativa negativa e é introduzida por um “parece” (videtur):
“Parece que a existência de Deus não pode ser demonstrada”. Vem após um “mas em
contrário” (sed contra), geralmente mais breve, que serve de contrapeso
à discussão e anuncia a linha a ser seguida pelo autor. Vem então a solução,
anunciada por um “eu respondo” (respondeo), e que inicia pela retomada
do problema, prossegue com a introdução de distinções e termina com a conclusão
do autor. O artigo acaba com uma série (introduzida por um dicendum)
na qual ou se refutam as opiniões opostas, ou se tenta uma solução de compromisso
entre as partes".
Extraído de STORCK, Alfredo. Filosofia Medieval. Rio de Janeiro: Zahar,
item "A Escolástica Latina Medieval"