Em seu avanço, a ciência parece estar sempre lutando contra o senso
comum. Isso acontece porque temos opiniões e queremos que elas sejam
respeitadas. Em assuntos científicos, porém, a opinião da maioria não importa,
pois muitas de suas verdades são contraintuitivas e seu progresso independente
de nossa maneira de ver o mundo. A ciência não é democrática.
No âmago da ciência, há um elemento denominado acaso. Muitas de suas
descobertas surgiram como um insight, a ponto de Luis Pasteur, o
pai da teoria dos germes e um dos criadores do método de pasteurização, dizer:
"O acaso favorece quem está intelectualmente preparado". Não basta
ter sorte; o importante é estar no lugar certo e na hora certa.
Em algumas dimensões da realidade, além da personalidade do cientista,
as pressões financeiras exerceram papel preponderante. No estudo dos astros, o
uso do telescópio por Galileu foi em grande parte movido por dinheiro.
"Quando ouviu os primeiros rumores sobre o novo e maravilhoso invento, o
"óculo espião", ele se entusiasmou e agiu porque estava em difícil
situação financeira — ele era um professor de matemática de meia-idade, sem
muitas perspectivas, e precisava melhorar de status e de finanças".
Kepler, no início do século XVII, trabalhando sozinho em Praga,
descobriu as leis do movimento planetário. Sem a Reforma, que abalou a sua
crença nas autoridades estabelecidas, e sem o apoio financeiro e político do
imperador do Sacro Império Romano, Rodolfo II - obcecado por horóscopo, ele não
teria a oportunidade de coletar os dados acerca do Universo. Durante cinco
anos, preencheu centenas de páginas de cálculos até ver concluída a sua
obra. Mais tarde, escreveu: "Se você, caro leitor, se aborrece com
estes cálculos enfadonhos, tenha pena de mim, que tive de repeti-los 70
vezes."
Fonte de Consulta
MOSLEY, Micahel e LYNCH, John. Uma História da Ciência:
Experiência, Poder e Paixão. Tradução de Ivan Weisz Kuck. Rio de Janeiro:
Zahar, 2011.