A revolução científica do
século XVI e XVII tinha um caráter cognitivo. O mundo estava se libertando da
influência dogmática da religião, principalmente da Escolástica, que desdenhava
o trabalho empírico. Com o aparecimento de Francis Bacon, Galileu e outros, o
conhecimento deixou de ser dogmático para se tornar teórico-experimental. Isso
quer dizer que toda a teoria deveria passar pelo crivo da experiência. Há uma
lei: o calor dilata o metal. Para a sua comprovação, vamos
aumentando a temperatura até constatarmos o seu ponto de ebulição, quando então
se funde.
Com essa revolução
científica veio a formulação de teorias, idealmente expressas em termos
matemáticos, testáveis por observações empíricas, obtidas, onde possível, a
partir de experimentos. Posteriormente, procurou-se transferir essas
descobertas para as ciências sociais. Hoje, na sociologia, na economia, na psicologia,
vemos muitas fórmulas matemáticas darem guarida à teoria. Em Economia, quando
se faz o estudo da preferência do consumidor, o seu desejo pela aquisição de um
bem recebe um valor numérico.
O uso da fórmula matemática
deu às ciências um grau relevante de racionalidade. A partir daí, as relações
entre ciência e sociedade se modificaram. A postura da busca da inovação, da
descoberta, como víamos num Einstein, cedeu lugar aos apelos da pesquisa em
tecnologia. O que se vê são equipes de cientistas trabalhando num único
projeto, contrastando radicalmente com o sistema anterior em que um único
cientista ficava vários anos elaborando o seu próprio projeto. Hoje, mede-se a
produção intelectual pelo número de citações, de artigos publicados em revistas
e jornais e não pela descoberta em si.
A ênfase das ciências em
tecnologia está ligada ao consumo de massa. A população, sempre crescente,
exerce, cada vez mais, uma pressão desenfreada sobre os recursos naturais,
obrigando a sociedade a produzir mais e mais para atendê-la. O tema da
produtividade, produzir mais por unidade de mão de obra, é um dos mais
ventilados no meio econômico e social. Quando se fala em infraestrutura dos
portos, compara-se o número de trabalhadores num país com o número de
trabalhadores no outro.
Nessa linha de pensamento,
o pesquisador meramente voltado ao "amor à ideia" é desprezado. Isto
não acontece por problemas pessoais de quem administra, mas é uma condição
natural do próprio capitalismo, onde tudo gira em torno da produção utilitária.
Se o que fizermos não aumentar a produtividade, não der lucro, então não serve
ao conjunto das relações comerciais. Pode-se dizer que esta postura é fruto da
concepção materialista do mundo, construída ao longo do tempo. Os que não se
comportam segundo esta visão, são considerados idiotas e marginalizados do
sistema econômico.
Mas onde está a verdade? Na
tecnologia ou no amor às ideias? Difícil de responder, pois nossas necessidades
falam mais alto. O que nos cabe é refletir sobre essas dificuldades, levando-se
em conta os anseios da emancipação do Espírito.
Fonte
de Consulta
OUTHWAITE. W. e BOTTOMORE,
T. Dicionário do
Pensamento Social do Século XX. Rio de Janeiro, Zahar, 1996.
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