02 julho 2008

Revolução Científico-Tecnológica

A revolução científica do século XVI e XVII tinha um caráter cognitivo. O mundo estava se libertando da influência dogmática da religião, principalmente da Escolástica, que desdenhava o trabalho empírico. Com o aparecimento de Francis Bacon, Galileu e outros, o conhecimento deixou de ser dogmático para se tornar teórico-experimental. Isso quer dizer que toda a teoria deveria passar pelo crivo da experiência. Há uma lei: o calor dilata o metal. Para a sua comprovação, vamos aumentando a temperatura até constatarmos o seu ponto de ebulição, quando então se funde.

Com essa revolução científica veio a formulação de teorias, idealmente expressas em termos matemáticos, testáveis por observações empíricas, obtidas, onde possível, a partir de experimentos. Posteriormente, procurou-se transferir essas descobertas para as ciências sociais. Hoje, na sociologia, na economia, na psicologia, vemos muitas fórmulas matemáticas darem guarida à teoria. Em Economia, quando se faz o estudo da preferência do consumidor, o seu desejo pela aquisição de um bem recebe um valor numérico.

O uso da fórmula matemática deu às ciências um grau relevante de racionalidade. A partir daí, as relações entre ciência e sociedade se modificaram. A postura da busca da inovação, da descoberta, como víamos num Einstein, cedeu lugar aos apelos da pesquisa em tecnologia. O que se vê são equipes de cientistas trabalhando num único projeto, contrastando radicalmente com o sistema anterior em que um único cientista ficava vários anos elaborando o seu próprio projeto. Hoje, mede-se a produção intelectual pelo número de citações, de artigos publicados em revistas e jornais e não pela descoberta em si.

A ênfase das ciências em tecnologia está ligada ao consumo de massa. A população, sempre crescente, exerce, cada vez mais, uma pressão desenfreada sobre os recursos naturais, obrigando a sociedade a produzir mais e mais para atendê-la. O tema da produtividade, produzir mais por unidade de mão de obra, é um dos mais ventilados no meio econômico e social. Quando se fala em infraestrutura dos portos, compara-se o número de trabalhadores num país com o número de trabalhadores no outro.

Nessa linha de pensamento, o pesquisador meramente voltado ao "amor à ideia" é desprezado. Isto não acontece por problemas pessoais de quem administra, mas é uma condição natural do próprio capitalismo, onde tudo gira em torno da produção utilitária. Se o que fizermos não aumentar a produtividade, não der lucro, então não serve ao conjunto das relações comerciais. Pode-se dizer que esta postura é fruto da concepção materialista do mundo, construída ao longo do tempo. Os que não se comportam segundo esta visão, são considerados idiotas e marginalizados do sistema econômico.

Mas onde está a verdade? Na tecnologia ou no amor às ideias? Difícil de responder, pois nossas necessidades falam mais alto. O que nos cabe é refletir sobre essas dificuldades, levando-se em conta os anseios da emancipação do Espírito.

Fonte de Consulta

OUTHWAITE. W. e BOTTOMORE, T. Dicionário do Pensamento Social do Século XX. Rio de Janeiro, Zahar, 1996.

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