Saint-Exupéry, em O Pequeno
Príncipe, observa que as pessoas crescidas adoram números. Se lhes
dissermos: "Eu vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, com gerânios nas
janelas e pombos nos telhados...", elas não conseguem nem imaginar essa
casa. É necessário dizer-lhes: — "Eu vi uma casa de cem mil francos".
Então elas exclamam — "Como é bonito!". Do mesmo modo, cada um
procede com os demais: ter boa voz, gostar de pássaros, amar a natureza têm
pouco valor. Para a grande maioria, conhecer alguém é saber que profissão
exerce e quanto ganha.
Os números evocam vida e mistério. Na
Bíblia, Deus ordenou todas as coisas "segundo o número, o peso e a
medida". Para Pitágoras, "Todas as coisas eram números e qualquer
número era uma divindade". De acordo com Leibniz, "Enquanto Deus
calcula e exerce o seu pensamento, o mundo se faz". Os escolásticos
definiam a verdade como adequatio rei et intellecto, isto é, uma
perfeita correspondência entre o intelecto e os objetos observados. Descartes,
mais tarde, afirma: "Eu não incluo, em minha física, outros princípios que
não aqueles que aceito em matemática"; e Hegel: "Nada há de real além
do racional e nada há de racional além do real".
Hegel (1770-1831) sistematizou o
desenvolvimento do pensamento em três tempos: TESE, ANTÍTESE E SÍNTESE. Como
ilustrá-lo? Tomemos dois pontos de vista: A e B. Um ponto C se desloca de A
para B. Segundo o ponto de vista A, C se afasta; segundo o ponto de vista B, C
se aproxima. A e B são inconciliáveis. A verdade integral surge com o ponto de
vista C, que não percebe senão um movimento único na
trajetória AB. A distância AC se "dilata", a distância BC se
"contrai": é a imagem de um fenômeno yin e de um
fenômeno yang gerado por um princípio único.
As cartas Zener, tão popularizadas por
Rhine em seus testes parapsicológicos, baseiam-se em números. As cartas são
representadas pelo círculo, pelo sinal de mais, pelas ondas, pelo quadrado e
pela estrela. O círculo é o número 1; o sinal de mais, o número 2; as ondas, o
número três; o quadrado, o número 4; a estrela, o número 5. Como há 5 cartas de
cada naipe, temos um baralho com 25 cartas. Mediante diversos testes
estatísticos, pode-se comprovar se uma pessoa possui percepção extra-sensorial:
clarividência, telepatia, pós e pré-cognição.
Dizem que os números não mentem, mas as
pessoas podem mentir com os números. É preciso, pois, desconfiar das armadilhas
da matemática. Às vezes, ouvimos no rádio ou na televisão a divulgação da taxa
de crescimento do PIB, da taxa de crescimento das despesas e de outras taxas
mais. Dependendo da base de cálculo para comparação, a taxa de crescimento pode
ser alta ou baixa. Exemplo: pegue um PIB de crescimento expressivo e compare-o
a um PIB de crescimento negativo. O resultado será muito maior do que se
tivéssemos comparado dois PIBs de crescimento expressivo.
Saibamos raciocinar com os números. Que
eles sejam nossos aliados, e não os nossos opositores, para a descoberta da
verdade.
Fonte de Consulta
CHABOCHE, François-Xavier. Vida
e Mistério dos Números. Tradução de Luiz Carlos Teixeira de Freitas. São Paulo:
Hemus, s.d.p.
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