Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em
1844, no vilarejo de Röecken, na Alemanha. A educação religiosa, recebida nos
primeiros anos de sua vida, marcou sua filosofia. Em 1864 ingressa na faculdade
de Bonn, onde é orientado para a filologia, matéria que trata de textos
antigos, especialmente os gregos e os latinos. Tinha a incumbência de
interpretá-los, editá-los e compreendê-los a ponto de conseguir analisar e
comparar o desenvolvimento das línguas e das gramáticas. Pouco valorizado em
vida, ele previu que o tempo para a sua filosofia ainda estava por chegar.
Hoje, é um dos filósofos mais citados, tanto em obras literárias quanto em sala
de aula. Foi influenciado pelo pensamento de Schopenhauer e pela amizade do
compositor Wagner. Em 1869, torna-se professor de Filologia na Universidade de
Basiléia, onde ficou até 1879. Posteriormente, passa a ser um filósofo errante,
vivendo em diversos países. Em 1899, depois de ver um homem bater num cavalo,
sofreu um colapso e perdeu o equilíbrio mental até a sua morte em 1900.
As publicações de Nietzsche, grande
parte em forma de aforismos, são inúmeras: O Nascimento da Tragédia (1872); Considerações
Extemporâneas (1873-1876); Humano, Demasiado Humano (1878-1879); Aurora (1881); A
Gaia Ciência (1882-1886); Assim Falou Zaratustra (1882-1885); Para Além do
Bem e do Mal (1886); Para a Genealogia da Moral (1887);
O Caso Wagner, O Crepúsculo dos Ídolos, O Antricristo, Ecce Homo (1888).
A ideia fundamental de Nietzsche é a
reconstrução da história da filosofia, não pela simples reconstrução, mas para
extrair dela os elementos necessários para a sua análise filosófica. O que ele
realmente quer é combater Platão ou o platonismo. As suas conclusões não são
nada animadoras: acha que o mundo caminha para o niilismo - descrença no valor
de todos os valores, de todas as crenças e da própria existência humana - em
que se chega a um verdadeiro tédio. A sua intenção é derrotar este status
quo.
Para ele, a teoria das formas de
Platão, o racionalismo de Descartes e o pessimismo de Schopenhaeur são os
elementos de sua história. Quer derrotá-los, quer repensar a harmonia dos
helenos, que viveram antes de Sócrates, e cultuar o otimismo. Na harmonia dos
helenos, há a contraposição de duas forças: 1) apolínea (formas);
2) dionisíaca (volição). A força apolínea diz respeito à razão; a dionisíaca, à
arte, ao sentimento. Sua intenção é derrotar o mundo dominado pela razão, pois
esta nos tornou tediosos.
Hoje, fala-se da legalização do aborto
e do uso de células-tronco para pesquisa de terapias de doenças. A religião é
contra; a ciência, a favor. Quem está certo e quem está errado? Esta é a
questão formulada por Nietzsche, uma questão estritamente moral. Daí, também,
perguntar o que é moral? Que é ciência? A ciência tem razão? Nietzsche percebeu
que por trás dessas disputas está a compreensão do vocábulo, da linguagem.
Acrescenta que, antes de buscarmos o conceito do termo proposto, devemos
investigar as causas que o tornaram o centro dos debates.
Em suas análises filosóficas, critica a
deusa razão, enaltecida pelos seus antecessores, especialmente Descartes com o
seu "penso, logo existo". Para ele, a razão tem a sua utilidade, pois
precisamos calcular, prever, fazer contas e nos relacionarmos em sociedade. A
comunicação do pensamento exige uma linguagem, de preferência lógica e bem
estruturada. Assim, a razão é apenas um processo, uma "faculdade" do
homem, uma hipóstase: o que era mero instrumento transforma-se, com o auxílio
da linguagem, em critério.
Para justificar um conceito, há sempre
uma postura moral vinculada à linguagem, diz Nietzsche. Estes preceitos morais
podem advir tanto da filosofia como da religião. Condena, assim, a negação do
que vivemos, apregoada pela ideia cristã do "paraíso" e pela ideia
platônica do "topus uranus". O conteúdo das suas críticas à
moral pode ser encontrado no livro Para a Genealogia da Moral, em
que procura distinguir a moral do escravo e a moral do nobre.
A moral do nobre é a moral ativa; a do escravo, reativa, reage ao
que os nobres determinam.
A crítica da razão e da moral, feita
por Nietzsche, mostra-nos que esses temas são sempre atuais, pois deles sempre
podemos extrair um novo aprendizado.
Fonte de Consulta
BRANDÃO, Eduardo. Nietzsche e a
Crítica da Civilização. In: FIGUEIREDO,
Vinicius (org.). Filósofos na Sala de Aula. São Paulo: Berlendis
& Vertecchia, 2007, vol. 2.
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