01 julho 2008

O Método Socrático-Agostiniano

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona, escreveu diversas obras. Confissões (400) e A Cidade de Deus (426) são as mais citadas. O livro Sobre a Potencialidade da Alma (De Quantitate Animae) foi escrito em 388, na cidade de Roma. Trata-se de um diálogo entre o professor Agostinho e o aluno Evódio, ambos batizados quase ao mesmo tempo por Santo Ambrósio. A conversa entre os dois mostra a confiança que Santo Agostinho depositou em seu aluno Evódio que, na época, era ainda incipiente na arte de argumentar.

Sobre a Potencialidade da Alma é uma tentativa de Santo Agostinho responder às cinco perguntas formuladas por Evódio: De onde se origina a alma? O que ela é (qualis sit)? Como ela é (quanta sit)? Como se une ao corpo? Como procede unida ao corpo, e quando separada dele? Ao longo das perguntas e respostas, Santo Agostinho vai paulatinamente construindo um vasto conhecimento sobre a relação entre a alma e a matéria. No momento, interessa-nos muito mais o método adotado por Santo Agostinho do que os ensinamentos veiculados acerca da alma e da matéria.

O método utilizado por Santo Agostinho é o mesmo de Sócrates, ou seja, de perguntas e respostas. Sua intenção é desenvolver a capacidade intelectual de Evódio. Em uma dessas conversas, Santo Agostinho diz a Evódio: "Não seja escravo da autoridade alheia, principalmente a minha que não vale nada. Oriente-se pela racionalidade, jamais pelo medo". Para exemplificar o conteúdo doutrinal dessa frase, ele cita o poeta Horácio, que diz: "Atreva-se a saber". Em outras palavras, ele incentiva o aluno a não ficar preso à autoridade alheia, mas à autoridade da razão.

É um verdadeiro treino retórico, chamado por Santo Agostinho de circuitum nostrum (círculos concêntricos), uma série de perguntas e respostas acerca de um determinado tema. Há a tese, a antítese, o jogo de oposições ou de contrários e o uso de figuras geométricas. Quer com isso levar o aluno a utilizar a indução e a dedução, cujo fim último é a busca da verdade. Para ele, o melhor método é aquele que faz o aluno pensar, que o obriga a andar com os próprios pés e que o incentiva a usar o raciocínio lógico. Para atingir tal objetivo, ele exige a total atenção do seu discípulo.

O livro se desenvolve neste emaranhado de perguntas e respostas. No final, contudo, mostra-se o grande pensador que é, concluindo-o de forma magistral, em que não há nem aluno e nem professor, mas um discurso profundo sobre os vários graus da ascese da alma humana. Isso foi bastante produtivo porque Evódio, mais tarde, faria parte da comunidade monacal fundada por Agostinho em Tagaste, sendo, também, nomeado e ordenado bispo de Uzala, na Numídia, em 396.

Aproveitemos o momento presente para acrescentarmos novos conhecimentos ao nosso passivo espiritual. Não os deixemos para amanhã, pois o tempo perdido não se recuperará jamais.

Fonte de Consulta

AGOSTINHO, Santo. Sobre a Potencialidade da Alma (De Quantitate Animae). Tradução de Aloysio Jansen de Faria. 2.ed., Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2005.

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