Santo
Agostinho (354-430), bispo de Hipona, escreveu diversas obras. Confissões (400)
e A Cidade de Deus (426) são as mais citadas. O livro Sobre
a Potencialidade da Alma (De Quantitate Animae) foi escrito em
388, na cidade de Roma. Trata-se de um diálogo entre o professor Agostinho e o
aluno Evódio, ambos batizados quase ao mesmo tempo por Santo Ambrósio. A
conversa entre os dois mostra a confiança que Santo Agostinho depositou em seu
aluno Evódio que, na época, era ainda incipiente na arte de argumentar.
Sobre a Potencialidade da Alma é uma tentativa de Santo
Agostinho responder às cinco perguntas formuladas por Evódio: De onde se
origina a alma? O que ela é (qualis sit)? Como ela é (quanta sit)? Como se une ao corpo? Como procede unida ao corpo, e
quando separada dele? Ao longo das perguntas e respostas, Santo Agostinho vai
paulatinamente construindo um vasto conhecimento sobre a relação entre a alma e
a matéria. No momento, interessa-nos muito mais o método adotado por Santo
Agostinho do que os ensinamentos veiculados acerca da alma e da matéria.
O método utilizado por Santo Agostinho é o mesmo de Sócrates, ou
seja, de perguntas e respostas. Sua intenção é desenvolver a capacidade
intelectual de Evódio. Em uma dessas conversas, Santo Agostinho diz a Evódio:
"Não seja escravo da autoridade alheia, principalmente a minha que não
vale nada. Oriente-se pela racionalidade, jamais pelo medo". Para
exemplificar o conteúdo doutrinal dessa frase, ele cita o poeta Horácio, que
diz: "Atreva-se a saber". Em outras palavras, ele incentiva o aluno a
não ficar preso à autoridade alheia, mas à autoridade da razão.
É um verdadeiro treino retórico, chamado por Santo Agostinho de circuitum nostrum (círculos concêntricos), uma série
de perguntas e respostas acerca de um determinado tema. Há a tese, a antítese,
o jogo de oposições ou de contrários e o uso de figuras geométricas. Quer com
isso levar o aluno a utilizar a indução e a dedução, cujo fim último é a busca
da verdade. Para ele, o melhor método é aquele que faz o aluno pensar, que o
obriga a andar com os próprios pés e que o incentiva a usar o raciocínio
lógico. Para atingir tal objetivo, ele exige a total atenção do seu discípulo.
O livro se desenvolve neste emaranhado de perguntas e respostas.
No final, contudo, mostra-se o grande pensador que é, concluindo-o de forma
magistral, em que não há nem aluno e nem professor, mas um discurso profundo
sobre os vários graus da ascese da alma humana. Isso foi bastante produtivo
porque Evódio, mais tarde, faria parte da comunidade monacal fundada por
Agostinho em Tagaste, sendo, também, nomeado e ordenado bispo de Uzala, na
Numídia, em 396.
Aproveitemos o momento presente para acrescentarmos novos
conhecimentos ao nosso passivo espiritual. Não os deixemos para amanhã, pois o
tempo perdido não se recuperará jamais.
Fonte de Consulta
AGOSTINHO,
Santo. Sobre a Potencialidade da Alma (De Quantitate Animae). Tradução de Aloysio Jansen de
Faria. 2.ed., Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2005.
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