05 outubro 2023

Filosofia Concreta

Filosofia Concreta, é o título de um livro de Mário Ferreira dos Santos, e diz respeito ao volume X da sua “Enciclopédia de Ciências Filosóficas e Sociais”. Sua primeira edição é de 1957. Seus capítulos são: “O ponto arquimédico”, “Refutação do atomismo adinâmico”, “Teses dialéticas”, “O ser infinito”, “Os possíveis e o ser”, “Da criação”, “Comentários aos postulados”, “Da matéria”.

Este livro contém 258 teses. Eis três delas:

Tese 1 — Alguma coisa há, e o nada absoluto não há...

Tese 256 — A ciência busca o “como” e o como do “porque” próximo das coisas, mas a filosofia é um afainar-se pelo “porque” do “como” e pelos últimos “porquês” dos “porquês”.

Tese 257 — Se a filosofia tem vários métodos para alcançar a sua meta, uns são indubitavelmente mais hábeis que outros, e um há de haver que será o mais hábil para ser usado pelo homem.

Normalmente, o concreto é entendido como a representação de um ser real, captado pela intuição sensível. Contudo, podemos vê-lo sob outro ponto de vista, bastando fazer uso de sua etimologia. Concreto vem de concretum, particípio passado do verbo crescior, com o aumentativo cum, que lhe dá o significado simples do que cresce junto, do que cresce com outros.

Nesse sentido, a filosofia concreta, para Mário Ferreira dos Santos, é "uma filosofia que dê uma visão unitiva, não só das ideias como também dos fatos, não só do que pertence ao campo propriamente filosófico como também do que pertence ao campo da Ciência, deve ela ter capacidade de penetrar nos temas transcendentais. Deve demonstrar as suas teses e postulados com o rigor da Matemática, e deve justificar os seus princípios com a analogia dos fatos experimentais”.

Eis a última tese do livro, a tese 258 — Filosofar é ação.

"Filosofar é a ação que consiste em conexionar, de certo modo, um fato ou fatos à totalidade do universo, e transcendê-los ou não, ao refletir sobre eles, e sobre os diversos nexos hierárquicos que têm com os outros fatos e entidades antecedentes e consequentes, inclusive transcendentais, a fim de alcançar uma visão humana da Verdade.

A Filosofia é ação; é o afainar-se para alcançar a Mathesis Suprema.

Se essa é ou não alcançável pelo homem, este, como um viandante (homo viator), deve buscá-la sempre, até quando lhe paire a dúvida, de certo modo bem fundada, de que ela não lhe está totalmente ao alcance.

Esse afainar-se acompanhará sempre o homem, e estabelecido um ponto sólido de esteio, devemos esperar por melhores frutos".

Observação do autor: Em todos os tempos se considerou que o ponto de partida deve ser um ponto arquimédico, apodítico, de validez universal. Assim sendo propôs um que é de validez universal ("alguma coisa há"), sobre o qual não se pode pairar nenhuma dúvida.