01 julho 2008

A Política e o Governo Segundo Maquiavel

Antes de Maquiavel, o governante de um país era comparado ao piloto de um navio. São Tomás de Aquino (1227-1274), por exemplo, no seu tratado De Regno (Do Reino), dizia que ao piloto de um navio cabem duas funções: a) preservar o navio para que não se afunde e sofra avarias; b) conduzir o navio ao porto. Do mesmo modo é o governante de uma República, ou seja, deve conduzir o povo, no sentido de não haver dispersão e, ao mesmo tempo, encaminhá-lo para a prática da virtude.

Maquiavel (Nicolò machiavelli, 1469-1527), em O Príncipe, pensa o governo de forma inédita: aceita a primeira função, que é a de preservar o governo das avarias, porém faz silêncio sobre a condução do povo à virtude. Cabe ao governante deixar a República intacta, não resta dúvida; quanto ao realizar a justiça, tem suas dúvidas. O Príncipe retrata o descontentamento do seu autor por ter sido banido da vida pública. O que está por detrás do livro é a aparência do bom e do virtuoso que o condutor do povo deve ter. Não importa se o ser humano é virtuoso, mais vale parecer virtuoso.

Até a vinda de Maquiavel, os manuais de política procuravam dizer ao príncipe o que ele deveria fazer para bem conduzir o seu povo. Para Maquiavel, o governante tem que saber resolver conflitos. A experiência mostra, segundo ele, que a vida social é constituída por um conflito fundamental entre dois grupos sociais – os grandes e o povo. O desejo dos grandes é governar e oprimir o povo; o desejo do povo é não ser oprimido pelos grandes. No capítulo IX de O Príncipe, escreve: "Em todas as cidades se encontram estas duas tendências diversas".

O livro de Maquiavel pode ser dividido em duas grandes partes: do capítulo 1.º ao 15.º, trata dos diversos tipos de principados e de como administrá-los. Nesses capítulos exalta-se que a força é um elemento constitutivo de poder político. Além disso, essa força deve ser uma mediadora de conflitos, porque não se pode agradar a todos em todos os momentos. Na segunda parte, trata de como o príncipe pode parecer bom aos outros. Hoje, esse trabalho é feito pelos marqueteiros.

De um lado, diz que o príncipe deve cuidar para ser bem visto para poder governar. Do outro lado, diz que o príncipe deve aprender a não ser bom. Como conciliar essa duas afirmações? Eis a questão proposta por Maquiavel. O príncipe precisa às vezes frustrar as expectativas que se depositam sobre ele. O que está em jogo é que a melhor ação nem sempre é aquela que é vista e avaliada como boa, nem a pior ação é aquela que é vista e avaliada como má. O cenário político é um jogo em que os mais argutos (chamados sofistas na Antiguidade) acabam vencendo os mais justos.

Embora tenha escrito este livro como uma resposta ao seu banimento da vida pública, O Príncipe de Maquiavel é um clássico e, muitas das suas ideias, estão presentes em nossa vida política atual.

Fonte de Consulta

LIMONGI, Maria Isabel. Ética e Política n’O Príncipe de Maquiavel. In FIGUEIREDO, Vinicius de (Org.). Seis Filósofos em Sala de Aula. São Paulo: Berlendis & Vertechia, 2006.

 

 

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