Zenão é um estrangeiro, um barbarós,
nascido por volta de 330 a.C. Chega na Grécia, em 316, ainda muito jovem. Como
todos os estrangeiros, é visto como pouco civilizado, pois a raça grega é
considerada superior às demais. Ao procurar o oráculo grego — para saber do que
deveria se ocupar —, recebe a seguinte mensagem: "... torna-te... da cor
dos mortos..." Interpreta-a como a necessidade de conhecer toda a cultura
grega, desde Homero. No final de sua vida recebe todas as honras de cidadão
grego, sem nunca ter pretendido tal condição.
Politéia – de polis, cidade, é a constituição de uma
cidade, seu perímetro e suas leis. A politéia de Zenão é proveniente dos
ensinamentos recebidos do estoico Crates, o cínico. A base desses ensinamentos
está na formação do novo homem – integralmente interior – que, seguindo a
nova physis, tornar-se-á o novo cidadão. Para tal finalidade,
contudo, é necessária uma nova psyché. Para Zenão, ser homem é
anterior a ser grego, jônico ou espartano. O importante é ser cosmopolita,
cidadão do mundo, o que significa transcender os limites geopolíticos traçados
pela historicidade.
A estrutura se sua politéia apresenta-se na união
entre lei e natureza. Diz: "devemos considerar todos os homens como
‘démotas’ e cidadãos, e que o modo de vida segue uno e a ordem una, como um
rebanho que numa pastagem se nutre em conjunto, segundo uma mesma lei".
Além disso, afirma que: "não se devem construir templos aos deuses, mas
possuir a divindade só no pensamento"; "não devemos construir a
cidade com monumentos, mas com a virtude dos cidadãos"; "o mundo é
uma verdadeira cidade por oposição às cidades presentes, estas não o sendo
senão no nome".
Em sua Cosmópolis, o diligente é o virtuoso, é o
sábio. A descrição do diligente é extensa: tem superioridade de comando, é
disciplinado, tem vontade férrea, não se abate, tem pensamento correto, é
ativo, tem convicção, é amigo, é fraterno. Zenão, neste particular, difere
substancialmente das ideias de Platão. Para Zenão, todos os cosmopolitas são
amigos, parentes, portanto, não há escravos. Platão, por sua vez, idealizou uma
República em que os sábios governavam, os soldados a defendiam e os escravos a
sustentavam com o trabalho braçal.
O novo homem, a nova physis e um
novo conceito político pressupõem uma nova psyché, que se acomode às novas
estruturas teóricas. Para isso, há que se unificar o físico, o psíquico e o
político em função do par nomos/physis. O ideal monárquico
ancora-se, assim, no comando de um aristós. Este, longe de
pertencer a uma família aristocrática ou ter riquezas deve ser provido do que
os deuses proporcionam a alguns seres humanos, isto é, certas disposições
naturais para o comando.
Como vimos, a virtude do aristós já estava presente
na mente e nos ensinamentos dos filósofos estóicos. Seria bastante útil se,
presentemente, os homens de Estado pudessem se inspirar nesses grandes
pensadores da Antiguidade.
Fonte de Consulta
GAZOLLA, Rachel. O Ofício do Filosofo
Estóico: O Duplo Registro do Discurso da Stoa. São Paulo: Loyola, 1999.
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