O que é um texto? Há duas dimensões a
considerar: a da produção; a da leitura. Na produção do texto, passa-se da
forma lógica para a literária; na leitura, o processo se inverte e passamos da
forma literária para a lógica. Todo o texto, quando é escrito, é escrito num determinado
contexto, pois o leitor universal é uma utopia. Assim, um texto filosófico é
escrito para os filósofos; um texto matemático, para os matemáticos; um texto
histórico, para os historiadores.
Como
sabemos se o texto foi entendido? Para tal, é preciso fazer uma análise dele. E
na análise, que é a decomposição das partes, não se deve esquecer da gramática.
A mesma preocupação se deve ter quando se escreve. Nesse sentido, convém
verificar a concordância entre as partes de uma oração, a colocação de pronomes,
a conjugação do verbo etc. Depois de escrito, deve-se esperar algum tempo e ler
como se fosse uma pessoa estranha, ou seja, fazer de conta que o texto foi
escrito por outra pessoa e não nós mesmos.
O
entendimento do texto pressupõe a repetição, a paráfrase e a imitação. Contudo, o produto final não deve ser nenhuma dessas
operações, mas algo que se mostra novo. Quer dizer, quando apenas
parafraseamos, não conseguimos sair da superfície do aprendizado. É preciso focalizar bem a questão, para que se faça
concomitantemente um exercício de reconstrução. A filosofia não consiste em saber muitas coisas, mas em
saber se aprofundar, focalizar e buscar a essência daquilo que se está
estudando.
Para
uma boa compreensão da filosofia, convém nos lembrarmos do philosophical way of thinking. O que isto significa?
Significa buscar o status quaestionis, ou seja, o estado da questão, que é tudo
aquilo que já foi escrito sobre o tema. É buscar a sua bibliografia, mas não
qualquer bibliografia e sim aquela que forma uma linha hierárquica dos seus
pensadores. Nesse mister, os pensamentos de Platão, Aristóteles, Descartes,
Kant, Hegel e outros seriam de inestimável valor.
A
leitura eficaz de um texto consiste em procurar a pergunta que o autor fez a si
mesmo, pois um texto filosófico não é contar histórias, mas processar o
pensamento através dos argumentos, da tese e da questão. Quando soubermos
formular boas questões, estaremos bem próximo de desenvolver a capacidade de
aprender, pois o conhecimento construído vai depender, não só do interesse pelo
assunto, como também pelo tipo de pergunta que se fizer a seu respeito.
Lembremo-nos de que o sábio é aquele que tem a capacidade de transformar uma
simples pergunta num processo profundo de reflexão.
Estejamos
com o nosso pensamento sempre em atividade. Uns ruminam aqui; outros procuram
flertar adiante. Quanto a nós, saibamos edificar o pensamento na luz radiosa da
verdade.
Fonte de Consulta
PORTA,
Mario Ariel Gonzalez. A Filosofia a Partir de seus Problemas. São Paulo: Loyola, 2002.
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