A grande questão que os estoicos se colocavam é: como pode o homem
aderir falsamente a uma impressão descompassando-se do logos universal,
já que este está presente sempre em si mesmo? Em outras palavras, como é
possível a paixão alterar o tônus vital de um sujeito racional? De onde surge
essa alteração? Ela é boa ou ruim?
A paixão é um movimento alógico da alma humana,
contrário à natureza; uma tendência excessiva, desmesurada. As paixões são
explicadas mediantes três níveis de acepções: físicas, emocionais e
intelectuais. Fisicamente, Zenão as descreve como dilatações ou contrações
do pneuma, reações da bile, ebulição do sangue e outras imagens
tipicamente médicas; emocionalmente, refere-se à cólera, à vingança, ao ódio etc.;
intelectualmente, diz que são julgamentos, os quais expressam uma transformação
do que é naturalmente hegemônico.
Segundo Andrônico de Rodes, o catálogo das paixões
pode ser explicitado através do desejo do ser humano. A cólera, por
exemplo, é o desejo de vingar-se – contrariamente ao que convém – daquele que
parece ter agido de modo danoso. Pode-se analisar a cólera em seu início, a
cólera que infla, a cólera persistente etc. O amor, por seu turno,
é o desejo de união, que pode ser corpórea, que pode ser visto como desejo de
amizades, desejo de comércio com amigo ausente etc.
Zenão, sendo o mestre da Stoa, tem sobre si a
responsabilidade do exemplo. Sua comida era parca e não se deixava dominar
pelos desejos excessivos. Pensava: se não tomasse o devido cuidado, poderia
escravizar-se aos apetites da carne, maculando, assim, a sua alma para sempre.
Na mesma linha de ideias, temos Epicteto, que era escravo na época em que
viveu. Ele, porém, "Não se considerava nem dôulos (escravo)
nem um phâulos (insensato); não era escravo do outro nem de si
mesmo, dentro dos princípios da Stoa".
Hoje, ensina-se a conquistar as coisas, a ter fama,
a ter sucesso. Há, para tal, uma infinidade de livros de autoajuda, de como
fazer para conquistar isso ou aquilo. Seus autores dizem: "Se eu consegui,
você também conseguirá". Para os estoicos, porém, "A virtude, ou a
excelência, estoica não está em atingir o fim mas em exercitar-se para isso. O
viver em homología, em estado de coerência, no mesmo lógos,
eis a prática suprema, a grande virtude. O "exercitar-se para" já é,
em si e por si mesmo, um estado que predispõe à virtude".
Como vemos, a moral nunca está desatualizada. Se
hoje estamos convivendo em uma sociedade cheia de vícios e escândalos, não é
por falta de instruções. É que sempre chegamos tarde às verdades mais simples.
Fonte de Consulta
GAZOLA. Rachel. O Ofício do Filósofo Estoico:
O Duplo Registro do Discurso da Stoa. São Paulo: Loyola, 1999. (Leituras
Filosóficas)
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