Em sentido próprio, o mito significa
uma fábula arquitetada pela fantasia humana para personificar entidades do
espírito ou da natureza; a mística, a união do homem com Deus.
Em sentido figurado, o mito é a atribuição de um
valor absoluto a uma entidade relativa; a mística, representa uma
dedicação passional a essa entidade.
Hodiernamente, os mitos e a mística são
tomados no sentido figurado. Para bem entender a sutileza desta significação,
devemos situar os mitos entre a realidade
objetiva e a fantasia.
A realidade objetiva mostra o que a coisa é independentemente da
observação do sujeito; a fantasia, sendo uma criação mental, distancia-se da
realidade. Em outras palavras, os mitos atribuem um valor à realidade: eles não
são como a verdade, que descobre valores.
Os mitos e
a mística podem ser encontrados em todos os setores da
atividade humana: na Política, na Sociologia, na Educação, na Economia, na Religião etc. Isso acontece porque a maioria de nós
prefere uma situação cômoda diante da vida, ou seja, não nos propomos a problematizar
o que se nos aparece diante de nossos olhos. Esta segurança aparente reflete-se
na rotina e na fabulação. Pela rotina, praticamos atos mecânicos; pela fabulação,
criamos imagens mentais destituídas de realidade objetiva.
Em termos filosóficos
e políticos, há que se considerar o existencialismo,
o marxismo e o liberalismo. O existencialismo, por exemplo, atribui um valor absoluto à
existência atual, negligenciando as vidas passadas; o marxismo convida-nos
a conquistar a justiça e a igualdade através da luta de classes; esquecem-se de
que somos desiguais e por isso precisamos de níveis diferentes de renda;
o liberalismo apoiando-se na espontaneidade deixa que cada
um aja de acordo com a subjetividade de sua consciência; esquecem-se de que
devemos agir de acordo com a consciência bem formada.
Em termos práticos, temos o enriquecimento, a tecnologia, o sexo, cultura e a religião. Somos impelidos a enriquecer e
ter posição de destaque; caso não consigamos, somos desprezados pelos que o
conseguiram. A tecnologia possibilitou ao homem o domínio da natureza;
trouxe, porém o inconveniente de colocar a técnica acima de Deus. O sexualismo foi
uma reação contra o puritanismo; descambou, contudo, para o sexo descontrolado.
A cultura desenvolveu a inteligência humana; deslocou,
entretanto, os atributos da inteligência e da potência divina, para a criação
humana. A religião desenvolveu a crença em Deus; criou, contudo,
uma idolatria que deturpou os sentimentos mais nobres da verdadeira mística.
Contra toda espécie de mitologia só há
um remédio: dar à realidade, não os valores que nos agradam, mas o que por
direito lhe são devidos. Ou seja, adquiramos o hábito de ver a realidade como
ela é e não como gostaríamos que fosse.
Fonte de Consulta
LIMA, A. A. O Existencialismo e Outros Mitos do Nosso Tempo. 2. ed., Rio de Janeiro, Agir, 1956 (Obras
Completas XVIII)
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