A filosofia nada mais é do que o
pensamento que foi cuidadosamente considerado. Quando o ser humano não escolhe
uma filosofia de reflexão, ele necessariamente se desliza para a filosofia de
irreflexão, uma filosofia superficial, baseada exclusivamente em uma enxurrada
de frases feitas, mais conhecida como fraseologia. A verdadeira filosofia deve
se fundamentar na lei de causa e efeito, na argumentação lógica e racional dos
fatos.
Suponha que alguém seja indagado a
respeito do sobrenatural, e ele faça a seguinte observação: "Meu caro
amigo, este é o século XX". Este indivíduo está, por esta frase, querendo
dizer que no passado acreditava-se no milagre e no sobrenatural, mas hoje, não.
Há, nesta colocação, um erro lógico, ou seja, o milagre e o sobrenatural não
deixaram de existir simplesmente porque a Humanidade está no século XX. Se o
milagre existia no século XII, deverá existir ainda hoje.
Como transformar uma resposta
superficial numa resposta baseada na lei de causa e efeito, numa resposta
científica. No século XII, acreditávamos no sobrenatural; no século XX, depois
dos avanços da ciência, muitos fatos que eram tidos como sobrenaturais, não os
são mais, porque as descobertas científicas os enquadraram nos cânones da lei
natural. Há, entretanto, outros que a ciência ainda não conhece, os quais podem
ainda pertencer ao sobrenatural. Mais dia menos dia, estes também poderão passar
para o campo da lei natural
Este é o exercício do pensamento
lógico, do pensamento ponderado. Onde encontrar, porém, o pensamento
fraseológico? Ele aparece nos slogans, no discurso midiático, na
pronunciação de frases feitas. Daí, dizermos com Chesterton (1), que o homem
prático será progressista, dedicar-se-á a feitos, não a palavras, dedicar-se-á
aos negócios, à política, mas não será capaz de conhecer a própria filosofia,
porque estará inteiramente envolto com as coisas práticas da vida e não as que
são essenciais ao seu desenvolvimento mental e espiritual.
(1) Gilbert Keith Chesterton viveu o
final do século XIX e a primeira metade do século XX, na Inglaterra anglicana.
Escreveu 80 livros, centenas de poemas, umas 200 novelas, 4.000 ensaios e
diversas peças teatrais. Chesterton não foi teólogo, apesar de ter nos
deixado a biografia de São Francisco de Assis e de Santo Tomás de Aquino, com
comentários teológicos que demonstram um profundo conhecimento das grandes
questões da doutrina sagrada. Também não foi exegeta, nem economista e nem
filósofo, mas em cada uma dessas áreas brindou-nos com excelentes ideias e
comentários.
Fonte de Consulta
Revista Conhecimento Prático Filosofia, n.º 18.