Zoroastro
(660-580 a.C.) é o suposto autor do Zend-Avesta, livro sagrado do mazdeísmo,
cujo dogma essencial é o dualismo de dois deuses em luta: o da luz e o das
trevas. O Zaratustra (ou Zoroastro) de Nietzsche é a antítese do Zoroastro
histórico, pois as suas teses têm uma mensagem não-dualista. De posse desse
princípio, adquirido em seus 10 anos de reclusão no topo de uma montanha,
critica todo o tipo de ideia — religiosa, científica e filosófica —, que se
fundamenta numa acepção dualista.
No prólogo de Assim Falou Zaratustra, critica Jesus e Platão. Aos 30 anos Zaratustra
deixa a sua terra natal e vai meditar no topo da montanha. É uma contraposição
a Jesus que, aos 30 anos, saiu para pregar a sua doutrina. Zaratustra convida o
sol a entrar na caverna para iluminá-la. É uma tese oposta a Platão que, na sua
teoria das ideias, expõe que um dos escravos, que ele chamou filósofo, deixa a
caverna e vai ter com o sol (conhecimento). O livro todo versará sobre essa
percepção dualista do ser humano.
A ideia central do livro é a morte de Deus. De acordo com
Nietzsche, a morte de Deus pode ser vista: a) para o Homem, a morte de Jesus
Cristo expiando na cruz os pecados dos homens; b) o Fato do desaparecimento de
Deus de nossa cultura; c) para o Último Homem, supressão de um senhor demasiado
exigente; d) para o Homem Superior, um desaparecimento que ele se recusa a
levar em conta; f) para o Criador, uma etapa na criação do super-homem, etapa
destruidora, necessária, com a qual ele se alegra, e cuja realização acelera,
mas apenas uma etapa, à qual sucede uma etapa de reconstrução.
A meta a atingir é o super-homem. O super-homem é a linha de
chegada do último homem, completamente reconstruído, em que a razão e a crença
no além-túmulo estão superadas. É um homem que vive o "aqui e o
agora", não se importando com o que há de vir, porque a conquista da sua
felicidade se resume em aproveitar o dia que passa. Pode-se dizer que o
super-homem já superou todas as etapas que o crescimento espiritual requer.
Enfim, ele soube vencer toda a sorte de preconceitos e ideias dualistas que lhe
foram passadas ao longo do tempo.
Para que o homem se torne um super-homem, ele necessita da vontade
de potência. A vontade de potência é intenção profunda de um sair de uma
potência; o que esse ser ou essa potência quer; é a vontade de superar a si
mesmo; transcender. Nesse sentido, todo ser humano é vontade de potência, pois
está sempre querendo ou negando alguma coisa.
A potência, a realidade mais profunda de todos os seres deve, em
última análise, vencer o niilismo, que é a desvalorização do mundo em nome de
um além-mundo ou, ainda, a depreciação do além-mundo e deste. A sua ênfase no
aqui e no agora mostra que ser humano deverá envidar muitos esforços para se
libertar dos apelos religiosos da recompensa futura. Ele terá que se esforçar
para viver o presente, com bastante coragem para agir e sofrer em benefício da
verdade.
Assim Falou Zaratustra é um bom exercício para
a edificação do nosso pensamento. Sopesemos cada uma de suas afirmações, procurando
separar o joio do trigo, no sentido de uma construção racional de uma nova
moral.
Fonte de Consulta
HÉBER-SUFFRIN, Pierre. O "Zaratustra" de Nietzsche. Tradução de Lucy Magalhães. Rio
de Janeiro: Zahar, 2003.
2 comentários:
Queria ter contato com o autor deste blog, os conteúdos são fascinantes, mas vejo que há relativamente poucas pessoas com quem ter uma dialética sobre, o próprio blog ainda mostra tão poucos a falar sobre, embora boa quantia de leitores, os comentários são sempre vazios.
Caso queira entrar em contato, basta enviar um e-mail para sbgregorio@gmail.com
Postar um comentário