02 julho 2008

Personalidade: Motivação e Tensão

A tradição lockeana, em que nihil est in intellectu quod non fuerit in sensu (nada pode estar no intelecto que antes não tivesse passado pelos sentidos), e a contrapartida leibniziana, em que o intelecto era perpetuamente ativo em si mesmo, voltado para a solução de problemas racionais, fundamentam esta nossa análise do desenvolvimento da personalidade, quando refletida sob a ótica do par motivação-tensão.

De acordo com a teoria lockeana, que preconiza a reação do intelecto aos estímulos externos, a motivação é encarada como um estado de tensão que nos impele a procurar o equilíbrio, repouso, ajustamento ou homeostase. Deste ponto de vista, a personalidade nada mais é do que o nosso modo habitual de reduzir tensão. Quer dizer, não nos arriscamos nada além do equilíbrio da tensão e motivação. Em outras palavras, reduzimos ao máximo o nosso sofrimento

De acordo com teoria contrária (leibniziana), a fórmula acima citada, aplicável em alguns ajustamentos particulares, é inteiramente incapaz de representar a natureza dos esforços do eu. A tensão é mantida e não reduzida. Nesse caso, a personalidade se molda quando o indivíduo busca novos desafios, depois de ter vencido os antecedentes. É o anseio natural do ser humano por novas experiências e novos conhecimentos.

Os dados biográficos, dos grandes vultos da humanidade, dão respaldo à teoria leibniziana, pois notamos que quanto mais aumentavam as dificuldades (tensões) para eles, mais se empenhavam no objetivo a ser atingido. Nesse mister, observe a figura de Paulo de Tarso: ele abandonou a vida política e os familiares, humilhou-se no trabalho do tear, conviveu com a pobreza, o desprezo, as prisões e toda a sorte de sofrimentos. Tinha um único objetivo em mente: divulgar os ensinamentos evangélicos de Jesus Cristo aos povos gentios.

A personalidade é um processo e nunca está acabada. É por isso que na sua auto-realização o ser humano projeta-se sempre a novos riscos e desafios, em que acaba tendo sempre mais tensão. Mas por que faz isso? Não seria mais fácil abandonar o intento e acomodar-se ao menor esforço? É que o desenvolvimento da personalidade exige a variedade, a contrariedade, a busca do desconhecido. Assim sendo, o indivíduo aplica-se com denodo nesse empreendimento, porque, no fundo, espera alguma recompensa futura.

Empenhemo-nos com afinco naquilo que julgarmos útil ao nosso crescimento pessoal. A felicidade reside em vencer os obstáculos do caminho.

Fonte de Consulta

ALLPORT, G. W. Desenvolvimento da Personalidade – Considerações Básicas para uma Psicologia da Personalidade. São Paulo, Herder, 1962.

 

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