A tradição lockeana, em que nihil est in
intellectu quod non fuerit in sensu (nada pode estar no intelecto que
antes não tivesse passado pelos sentidos), e a contrapartida leibniziana, em
que o intelecto era perpetuamente ativo em si mesmo, voltado para a solução de
problemas racionais, fundamentam esta nossa análise do desenvolvimento da
personalidade, quando refletida sob a ótica do par motivação-tensão.
De acordo com a teoria lockeana, que preconiza a
reação do intelecto aos estímulos externos, a motivação é encarada como um
estado de tensão que nos impele a procurar o equilíbrio, repouso, ajustamento
ou homeostase. Deste ponto de vista, a personalidade nada mais
é do que o nosso modo habitual de reduzir tensão. Quer dizer, não nos
arriscamos nada além do equilíbrio da tensão e motivação. Em outras palavras,
reduzimos ao máximo o nosso sofrimento
De acordo com teoria contrária (leibniziana), a
fórmula acima citada, aplicável em alguns ajustamentos particulares, é
inteiramente incapaz de representar a natureza dos esforços do eu. A tensão é
mantida e não reduzida. Nesse caso, a personalidade se molda quando o indivíduo
busca novos desafios, depois de ter vencido os antecedentes. É o anseio natural
do ser humano por novas experiências e novos conhecimentos.
Os dados biográficos, dos grandes vultos da
humanidade, dão respaldo à teoria leibniziana, pois notamos que quanto mais
aumentavam as dificuldades (tensões) para eles, mais se empenhavam no objetivo
a ser atingido. Nesse mister, observe a figura de Paulo de Tarso: ele abandonou
a vida política e os familiares, humilhou-se no trabalho do tear, conviveu com
a pobreza, o desprezo, as prisões e toda a sorte de sofrimentos. Tinha um único
objetivo em mente: divulgar os ensinamentos evangélicos de Jesus Cristo aos
povos gentios.
A personalidade é um processo e nunca está acabada.
É por isso que na sua auto-realização o ser humano projeta-se sempre a novos
riscos e desafios, em que acaba tendo sempre mais tensão. Mas por que faz isso?
Não seria mais fácil abandonar o intento e acomodar-se ao menor esforço? É que
o desenvolvimento da personalidade exige a variedade, a contrariedade, a busca
do desconhecido. Assim sendo, o indivíduo aplica-se com denodo nesse
empreendimento, porque, no fundo, espera alguma recompensa futura.
Empenhemo-nos com afinco naquilo que julgarmos útil
ao nosso crescimento pessoal. A felicidade reside em vencer os obstáculos do
caminho.
Fonte de Consulta
ALLPORT, G. W. Desenvolvimento da
Personalidade – Considerações Básicas para uma Psicologia da Personalidade. São
Paulo, Herder, 1962.
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