Há muitos tipos de perguntas. Há as perguntas
comuns e as investigativas; as abertas e as fechadas. Há, também, as perguntas
de esclarecimento (o que você quer dizer com...), as perguntas que questionam
suposições (qual é a sua suposição...), as perguntas que questionam razões e
evidências (por quais critérios você fez esse julgamento...), as perguntas
sobre pontos de vista ou perspectiva (de que outra forma se poderia expressar
isso...), as perguntas sobre perguntas (como essa pergunta vai me ajudar...).
Os animais formulam perguntas? Não, eles não
precisam perguntar porque têm respostas para todas as suas necessidades. Com
fome, dirigem-se ao mato para caçar a sua presa; com sede, vão ao rio; com
frio, escondem-se debaixo de uma árvore. O homem, ao contrário, pergunta porque
tem necessidade de buscar conhecimento. Nesse mister, o perguntar por perguntar
não é produtivo, pois deixa-nos atolados em nossa superficialidade. Para ir à
profundidade do saber, temos de cavoucar muita terra, ou seja, fazer perguntas
cada vez mais relevantes.
Observe Allan Kardec à época da codificação da
Doutrina Espírita. Conta-se que ele começou a frequentar as reuniões
mediúnicas, em que o Espírito Zéfiro respondia às perguntas – geralmente
levianas – dos seus frequentadores. De início, levava um caderno, sentava-se no
fundo da sala e anotava tudo o que lhe chamava a atenção. Depois de algumas
sessões, perguntou à médium que recebia este Espírito: há possibilidade de se
formular perguntas ao Espírito Sócrates? Não é preciso dizer que a partir dessa
pergunta, os fins e objetivos da reunião tomaram outra direção, e propiciaram a
publicação de O Livro dos Espíritos.
Às vezes somos convidados para expor um assunto
muito batido. Uma boa técnica é tratá-lo como um questionamento. Se, por
exemplo, o tema sugerido foi "O Consolador Prometido", poderíamos
enfocá-lo com a seguinte pergunta: o Espiritismo é o Consolador Prometido? Sim?
Não? Por que? Com isso, teremos de argumentar a favor do Espiritismo, ou seja,
fazer suposições que o caracterizam como o consolador enviado por Jesus. Ao
mesmo tempo, podemos anotar os contra-exemplos, isto é, o conteúdo doutrinal
daquelas religiões que se arvoram como sendo o Consolador Prometido e não se
encaixam nos paradigmas do mesmo.
Esses questionamentos levam-nos a pensar sobre o
tema, não para amontoar conhecimentos sobre conhecimentos, mas para formar uma
linha de raciocínio, um pensamento sólido, em que as nossas palavras expressem
a essência da Doutrina Espírita. Não há necessidade de ficarmos citando, a todo
o momento, esta ou aquela fonte; o mais importante é sabermos divulgar a
Doutrina no seu tríplice aspecto. Aí, sim, vamos adquirindo confiança e
determinação em nossa fala, tendo plena consciência de que não sabemos tudo,
mas o pouco que sabemos, sabemo-lo criteriosamente.
Uma pergunta, muitas vezes, provoca o surgimento de
outras perguntas. Isso é muito bom, porque vamos adquirindo um cabedal de
conhecimentos, sem o perceber. Perseveremos, pois, neste árduo trabalho de tudo
questionar, pois a mente que não investiga acaba adquirindo a preguiça de
raciocinar.
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