A solidão,
segundo o dicionário, significa pessoa que vive só; isolamento. Daí surge a
questão: a solidão é isolamento? Em realidade, a solidão não é fuga da
sociedade; ela é uma forma de meditação e reflexão para que o ser humano possa
alcançar uma nova visão de mundo. Para muitos, ela incomoda; contudo, somente
ela é capaz de nos dar subsídios para uma boa convivência com os demais seres
humanos.
O filósofo precisa de
solidão? Sim. Segundo Novalis, "A filosofia significa, em sentido próprio,
nostalgia do lar, impulso a estar, por toda parte, em casa". E, de acordo
com Buzzi, "Quem deseja aprender a filosofar vai para a solidão. Solidão é
tarefa e esforço de conviver com as coisas na escuta do obscuro de seu estar-aí. Um
conviver desarmado, um confrontar-se com a experiência sem os recursos de
qualquer conhecimento, um encontrar-se corpo a corpo. Feliz quem pode com essa
solidão. Dela nascerá um novo mundo, um respeito diferente às coisas que nos
cercam".
Para bem filosofar, devemos
ir ao deserto e esvaziar o pensamento dos preconceitos, inclusive da própria
ciência. Por que o deserto? No deserto não há muitos atrativos como os
encontramos nos grandes centros urbanos. Lá não há o desejo consumista de alimentos,
roupas e diversões várias. Somos, por força da natureza, obrigados a
voltarmo-nos para dentro de nós mesmos. Sem a influência de qualquer pessoa,
somos abandonados ao nosso próprio pensamento. Em contato com o nosso centro,
refletimos mais detalhadamente sobre os nossos pontos fracos e os nossos pontos
fortes. Enfim, exercitamos o preceito áureo deixado por Sócrates: "Uma
vida sem exame não merece ser vivida".
A solidão propicia-nos
vislumbrar um mundo totalmente diferente daquele que se nos apresenta os meios
de comunicação. Entrando num estado de meditação profunda, podemos elevar os
nossos pensamentos a Deus e receber Dele, ou dos Espíritos superiores,
inspirações sobre a profundeza da vida, instruções sobre a conduta em sociedade
e noções mais detalhadas sobre a lei do amor, da justiça e da caridade. Nesse
êxtase, esquecemo-nos de nós mesmos e o nosso "eu espiritual"
desprende-se momentaneamente do corpo físico e vai visitar outros mundos em que
reina a paz e harmonia universal.
Nietzsche dizia que onde
cessa a solidão, aí começa a feira. A feira representa o alarido dos grandes
comediantes e o zunido das moscas. Filosoficamente considerada, é o estado da
superficialidade do homem, que vive somente para o seu ganha-pão, útil para o
sustento físico, mas que não acrescenta muito ao "eu" mais profundo.
Na solidão, entretanto, o homem vai buscar a lenta experiência de todos os
poços profundos. É longe da feira e da fama que se constroem os novos e
verdadeiros valores morais.
Não temamos a solidão. O que,
a princípio parece pesadelo, com o tempo, torna-se um refúgio para a percepção
das grandes verdades, as quais serão muito úteis para o nosso desenvolvimento
moral e espiritual.
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