09 maio 2023

Bachelard, Gaston

Gaston Bachelard (1884-1962). Filósofo e epistemologista francês, começou a sua carreira como funcionário dos correios, antes de conquistar seus títulos universitários: professor de colégio, depois da faculdade de Dijon, tornando-se catedrático de História e de Filosofia das Ciências na Sorbonne.

Bachelard renovou a epistemologia, definindo as características de um novo espírito científico.  Ele condena a doutrina das naturezas simples e absolutas, defendida por Descartes, e observa que o racionalismo não deve mais ser imobilizado na universalidade dos princípios. A nova filosofia das ciências só pode ser mista: teórico e experimental.

Segundo ele, a verdade (provisória) será polêmica, na medida em que o progresso do conhecimento científico só pode se exprimir pelos obstáculos, a princípio inerente a nosso pensamento comum: “conhece-se contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos malfeitos”. O conhecimento profundo exige uma psicanálise dos mitos e ilusões que podem perturbá-lo.

A filosofia do não (1940). Nesta obra, Bachelard propõe a constituição de uma filosofia capaz de satisfazer ao mesmo tempo filósofos e sábios e que leve em conta a evolução do saber; na medida em que o último só progride superando o que adquiriu, essa filosofia só poderá ser aberta, dialética, em ruptura com qualquer forma de dogmatismo, qualquer concepção congelada da razão.

O conceito de massa pode ser explicado em cinco etapas. As duas primeiras são pré-científicas (a massa é percebida segundo as qualidades sensíveis do objeto). Depois vem o empírico (assimila-se massa ao peso). Em seguida a racional (definido pelas relações matemáticas: mecânica de Newton), que depois se torna mais complexo (na teoria da relatividade). Por fim, o dialético (mecânica de Dirac: aparecimento de uma massa “negativa”. Em síntese: qualquer teoria se forma englobando a precedente.

Outras obras: O novo espírito científico (1934); A psicanálise do fogo (1937); A formação do espírito científico (1938); A água e os sonhos (1941); O ar e os devaneios (1943); A terra e os devaneios da vontade (1948); A terra e os devaneios do repouso (1948); O racionalismo aplicado (1948); O materialismo racional (1953); A poética do espaço (1957); A poética do devaneio (1960).

Fonte de Consulta

DUROZOI, G. e ROUSSEL, A. Dicionário de Filosofia. Tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP: Papirus, 1993.

Frases de Gaston Bachelard

“O pensamento puro deve começar por uma recusa da vida. O primeiro pensamento claro, é o pensamento do nada.” (Gaston Bachelard)

"Entre a imagem e o conceito, nenhuma síntese. Tampouco essa filiação, sempre dela, jamais vivida, pela qual os psicólogos fazem o conceito emergir da pluralidade das imagens. Quem se entrega com todo o seu espírito aos conceitos, com toda a sua alma às imagens, sabe bem que os conceitos e as imagens se desenvolvem em linhas divergentes da vida espiritual." (Gaston Bachelard)

O pensamento lógico tende a apagar sua própria história. Parece, de fato, que as dificuldades da invenção deixam de aparecer a partir do momento em que se pode fazer seu inventário lógico." (Bachelard. A atividade racionalista da física contemporânea)

"A história das ciências é a história das derrotas do irracionalismo." (Bachelard, A atividade racionalista da física contemporânea)

"As grandes paixões preparam-se em grandes devaneios." (Bachelard, A poética e o devaneio)

"Sempre se pretende que a imaginação seja a faculdade de formar imagens. Ela é antes a faculdade de deformar as imagens fornecidas pela percepção, é sobretudo a faculdade de nos liberar das imagens primeiras, de mudar a imagem." (Bachelard, O ar e os sonhos)





03 maio 2023

Bérgson e o Esforço

Bergson afirma que o trabalho é doloroso e cansativo, mas o esforço despendido é muito valioso, talvez mais valioso que o sucesso, os agradecimentos ou os elogios. Por quê? Graças ao trabalho, acabamos nos elevando acima de nós mesmos, encontrando recursos inesperados de que nem suspeitávamos.

Sem as dificuldades, a superação não seria possível. Vencer as dificuldades não é se livrar das coisas que nos incomodam, mas enfrentá-las de bom ânimo, ou seja, buscar dentro de nós mesmos aqueles recursos esquecidos da criatividade.

Bergson incita-nos a perceber a beleza dos obstáculos. A felicidade não reside apenas no fato de vencer uma dificuldade, mas no orgulho de termos criado algo, de sermos uteis à sociedade em que vivemos. A riqueza tem sua importância, mas a criação de algo supera-a infinitamente.

A razão de nossa vida fundamenta-se em criar, fazer surgir alguma coisa que nunca existiu. Por meio do trabalho, ampliamos nossa personalidade, aumentamos o esforço, triunfamos e, no final, além de criar uma sociedade, criamos a nós mesmos, porque moldamos nossa personalidade.

Em síntese:

O esforço é doloroso, mas nos permite alcançar a alegria, é graças a ele que nos superamos.

A criação é a razão de ser da vida. Na criação, todos os esforços se justificam.

Trabalhando, criamos a nós mesmos, descobrimos a nós mesmos e, assim, temos acesso à nossa própria felicidade.

Fonte de Consulta

ROBERT, Marie. Não sabe o que fazer? Pergunte aos filósofos! [livro eletrônico]. Tradução de Karina Barbosa dos Santos. São Paulo: Planeta do Brasil, 2021.

02 maio 2023

Dizer ou não a Verdade?

John Stuart Mill, filósofo, lógico e economista britânico, é um pensador que pode nos ajudar a estabelecer em que circunstâncias devemos ou não dizer a verdade. No caso em voga, está a preocupação com a diplomacia e a necessidade de honestidade.

Em sua obra Utilitarismo, de 1863, John Stuart Mill expressa seu parecer sobre a importância da verdade nas relações humanas. Ele se baseia em seu conceito de "utilidade", ou seja, o que é mais útil, mais benéfico para a maioria, afirmando que a mentira enfraquece a confiança. Quando mentimos, tornamos as palavras mais frágeis, tendo como consequência relações mais precárias com as pessoas.

Para Mill, mentir é ameaçar o bem-estar social, é prejudicar a implantação da felicidade, ou seja, é criar barreiras para a confiança recíproca entre os indivíduos. Por outro lado, contar a verdade aumenta a confiança, amplificando a felicidade entre os indivíduos.

Lembremo-nos de que a moralidade de Mill tem muito a ver com a vivência, a experiência. Nesse sentido, o que é útil para a felicidade de todos os homens é moral. A mentira quebra essa confiança, e por isso é inútil e imoral.

Há, para Mill, casos extremos em que se pode mentir: a situação em que devemos omitir a verdade, para não revelar o paradeiro de um amigo procurado por um malfeitor ou aquela em que alguém mente a uma pessoa com uma doença grave.

Em síntese

O que é útil é o que traz mais felicidade para a sociedade.  

Dizer a verdade é útil porque aumenta a confiança entre as pessoas. E a confiança é uma das bases da felicidade na sociedade. 

Mentir prejudica a felicidade, exceto em algumas exceções, nas quais só a mentira pode preservar uma pessoa. É essencial medir bem as palavras.

ROBERT, Marie. Não sabe o que fazer? Pergunte aos filósofos! [livro eletrônico]. Tradução de Karina Barbosa dos Santos. São Paulo: Planeta do Brasil, 2021.