A metodologia filosófica nada mais é do que a
transformação da reflexão espontânea em pensamento filosófico. Na realidade,
ela aplica o que a própria Filosofia prega desde tempos remotos, ou seja, pede que
suspendamos as opiniões imediatas e nos mantenhamos afastados das discussões
espontâneas, na medida em que estas só nos remetem a nossos preconceitos e a
nossas crenças irrefletidas. As etapas da metodologia filosófica são: leitura,
explicação, comentário e dissertação. Analisemos cada uma delas.
A leitura de textos é a primeira das etapas, pois sem o alimento
não se constrói o conhecimento filosófico. Na verdade, é lendo textos que se aprende a ler os filósofos, não de
outro jeito. Na condição de aprendizes de filosofia, devemos nos colocar
como vampiros, pois à semelhança destes, devemos sugar os conhecimentos
veiculados pelos grandes pensadores da humanidade. Na absorção do conhecimento
filosófico, façamos uso tanto da leitura rápida, que tende a ser de superfície, como da leitura profunda, que tende a ser explicativa.
Da leitura (1.ª etapa) passa-se à explicação (2.ª etapa). Mas o
que se entende por explicação? Explicar é enunciar o que há num texto dado, nem mais nem menos.
É desdobrar, mostrar o que está exposto, pressuposto, implicado. Aquele que
explica deve, assim, ficar no texto e somente nele. Deve colocar-se de forma ingênua, sem preconceitos de nenhuma espécie. Para
ser fecundo e produtivo na explicação, deve assinalar os termos e questões
importantes, ser explícito e evitar a paráfrase.
O comentário é a etapa seguinte. Convém não o confundirmos com a explicação. Na explicação do texto buscamos saber o que o autor verdadeiramente
disse numa dada passagem, enquanto no comentário procedemos a uma interrogação armada sobre o que ele
verdadeiramente disse. Nesta etapa devemos procurar estabelecer um diálogo com o autor, concordando ou refutando os
seus argumentos. Como o comentário é uma fase mais avançada de compreensão,
devemos fazê-lo de modo pausado e, se possível, fundamentando-nos em
conhecimentos anteriores precisos, lentamente adquiridos e bem assimilados.
Depois da leitura, da explicação e do comentário chegamos à quarta
etapa que, em termos escolares, denomina-se dissertação. A dissertação filosófica é um exercício à parte, mas é o exercício
filosófico por excelência. Por que? Por que é nesta fase que o
aprendiz tem a oportunidade de apresentar um trabalho por escrito, o qual será
lido, avaliado e corrigido pelo professor, pois essas fases constituem as
condições elementares da compreensão do exercício, de suas regras e de sua
razão de ser.
Aprofundar metódica e filosoficamente o pensamento não é tarefa
fácil. Exige um estado de atenção e concentração peculiar e uma disciplina
bastante exemplar.
Fonte de Consulta
FOLSCHEID, Dominique e WUNENBURGER, Jean-Jacques. Metodologia Filosófica. Tradução de
Paulo Neves. 2. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2002. (Ferramentas)
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