A palavra valor é polissêmica, ou seja,
impregnada de diversos sentidos. Linguisticamente falando, ela vem de valere,
que significa ser forte, ter boa saúde. Toma, também, o sentido de qualidade,
de coragem, de virtude. Na matemática, fala-se em valor de uma variável, de uma
função, de uma grandeza. Em Economia, estabelece-se a distinção entre valor de
uso e valor de troca. Em Economia Política, usa o termo valor nominal para designar
as distorções quanto ao poder de compra do consumidor. Em Sociologia, o valor
social é definido em termos de ideias, normas e conhecimentos técnicos.
O valor, em Filosofia, recebeu o nome de axiologia, de axios, em grego, o que é preciso, digno de ser estimado. Expressa a
primazia do querer sobre o inteligir. O valor não pode ser transformado em
conhecimento, pois este envolve o raciocínio, a lógica, a teoria. Pode-se dizer
que o valor está mais ligado à intuição, ao sentimento, uma espécie de sexto sentido
que os grandes homens da humanidade têm ao se relacionar com um fato qualquer.
Eles captam a essência num piscar de olhos.
Em termos de construção do conhecimento, a Ciência explica como
funciona, o que a coisa é, no sentido de buscar as causas mais próximas. À
Filosofia cabe explicar o porquê daquele fato. A ciência é o que é; tem o
condão de ser positiva, ou seja, estabelecer hipóteses e testá-las. A Filosofia
relaciona-se com o que deve ser, emite um juízo de valor. Isto, contudo, não
quer dizer que o cientista não filosofa e nem que o filósofo não faz ciência.
Não é porque o cientista fez um corte na realidade, para melhor compreendê-la,
que ele não vislumbrou o todo.
A separação entre juízo de realidade e juízo de valor é outra
dificuldade. Diz-se que a realidade é o que é e o juízo aquilo que dela se
pensa. Acontece, porém, que tanto a ferramenta científica quanto a ferramenta
filosófica estão relacionadas com o mesmo fato observado, e nem sempre é fácil
separar uma análise da outra. Observe, por exemplo, a seguinte sentença: o copo
de leite está quente. Nele há um juízo de realidade e um juízo de valor.
Pode-se entender que o leite está quente, e não deve ser tomado, ou que o leite
está quente, não frio, factível de ser tomado.
Há diferença entre o observador e a coisa observada? Krishnamurti,
filósofo indiano, acha que o observador e a coisa observada é uma e única
coisa, pois não podemos separar aquele que olha do objeto visto. Quando
reclamamos de nossas ações, dá-se impressão que a ação não foi cometida por
nós, mas por um elemento transcendente a nós mesmos. Dentro desse raciocínio,
acabamos achando que sempre estamos com a razão e o outro em erro. É ele que
nos perturba, e não nós que o aborrecemos. Onde está a verdade?
Como vemos, cada vez mais os valores científicos, filosóficos e
religiosos se comprimem no sentido de nos fazer aproximar, o mais possível, à
verdadeira realidade, aquela realidade que nos liberta do erro.
Fonte de Consulta
AGATTI, Antonio Paschoal Rodolpho. Os Valores e os Fatos: o Desafio em Ciências Humanas. São
Paulo: Ibrasa, 1977. (Biblioteca Psicológica e Educação, 87)
Um comentário:
Seguindo sua linha de raciocínio, onde estão o juízo de valor e o de realidade na seguinte afirmação: "Ela está usando uma saia curtíssima."?
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