Na história da
filosofia, a sofística sempre entrou como parte da retórica ou da literatura,
mas não da filosofia. Presentemente, há uma retomada das pesquisas sobre esse
tema. Na Europa, do século XX, cunharam o termo "logologia" (por
oposição à ontologia), que é uma reflexão sobre o logos. Em linhas
gerais, trata-se do modo como construímos o nosso modo de falar. Nos Estados
Unidos, alguns autores falam da "neo-sofística", movimento que
revaloriza a retórica, principalmente o papel das emoções e das circunstâncias
na construção das falas.
A ideia que fazemos
dos sofistas foi nos transmitida por Platão. Até então havia muita confusão
sobre o que é ser sábio, sofista e filósofo. Para Platão, os sofistas são os
personagens que dialogam com Sócrates, servindo de contraponto para que este
defina o que é o filósofo. Platão dizia que os sofistas eram "imitadores
de sábios", pois apenas aparentavam sabedoria. Eles, além de cobrarem pela
educação, preocupavam-se apenas em ensinar a manipulação das palavras como
forma de persuadir e ganhar um debate, seja de que forma fosse.
Estudos recentes
sobre os pré-socráticos e a publicação do Dicionário dos Filósofos
Antigos, que está sendo elaborado por diversos estudiosos europeus e
publicada aos poucos (o quarto volume, publicado em 2005, vai até a letra O)
podem mudar o status quo platônico sobre os sofistas. Nesses estudos
pré-socráticos, cita-se As Nuvens, comédia escrita por Aristófanes
em que Sócrates é caricaturado como intelectual. Para Aristófanes, Sócrates é
ao mesmo tempo um pesquisador da natureza e um manipulador de discursos, pois tinha
como objetivo principal o êxito nos seus negócios
A força da antilogia na
compreensão da sofistica. Antilogia quer dizer contraposição de argumentos, um
discurso formulado contra outro. Os discursos duplos exploram a indeterminação
relativa das circunstâncias. Diógenes de Laércio nos diz que Protágoras foi o
primeiro filósofo a levantar a questão de que tudo pode ser sempre visto sob
dois aspectos opostos. Conforme a circunstância, o justo pode ser injusto; o
injusto, justo. É justo mentir tanto ao inimigo quanto ao amigo. Suponha que um
familiar precise tomar um remédio e não o queira. É justo colocá-lo na comida,
sem que ele o saiba? Sim. Nesse caso, evitou-se um mal maior, ou seja, a sua
morte.
A sofística ocupa-se
da antropologia. Os sofistas querem pensar as coisas humanas como
um conjunto de relações, a partir de exigências sociais e políticas, para além
das teorias sobre o ser ou sobre a natureza. Os costumes, os hábitos e as leis
de uma comunidade são os seus temas principais. Questionam o modo como os
governos estão fazendo as leis, como estão se inserindo numa guerra ou mesmo
numa ação de solidariedade para com as pessoas de sua comunidade.
A retórica é
um de seus pontos centrais. A retórica pode ser entendida tanto como uma
técnica do discurso como uma reflexão sobre o mesmo. A invenção da política, na
antiguidade, muito contribui para a sua propagação, pois as pessoas tinham que
usar a sua palavra para persuadir e convencer os seus oponentes. Acontece que a
arte da persuasão não se reteve apenas à política. Ela se popularizou e era
necessária em qualquer circunstância em que fosse necessário o uso da palavra,
inclusive em discussões triviais que as pessoas tivessem que defender uma
opinião ou mesmo um ponto de vista.
Justo e injusto são a
mesma coisa. Depende tanto da circunstância quanto da visão do observador. Este
é o aprendizado que extraímos desse estudo sobre a sofística e os sofistas.
Fonte de Consulta
MARQUES, Marcelo P. Os Sofistas: o Saber em Questão. In: FIGUEIREDO, Vinicius (org.). Filósofos na Sala de Aula. São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2007, vol.
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