A lógica é boa nos raciocínios, mas nem
sempre útil à compreensão da vida. A China, por exemplo, o país mais antigo e
mais populoso da Terra, dá pouco valor à lógica. Seus pensadores preferem se
dedicar à importância de viver. A filosofia de vida chinesa é desenvolvida em
cima de epigramas – poesias breves e satíricas –, levando-se em conta o
desperdício de tempo e de energia vital. A natureza, o rio e a planície servem
de estímulo à captação desses pensamentos.
Por que a lógica é nociva à vida?
Porque ela dá importância exagerada ao raciocínio, ao uso de palavras. Isso
traz como consequência a especialização, que tira do indivíduo a noção de todo,
isto é, a interpenetração de todos os conhecimentos. A especialização torna a
nossa mente muito estreita, distanciando-a muito das conotações filosóficas. A
crítica e a reflexão, próprias do filosofar, ficam para segundo plano, quando
não esquecidas. Por isso os chineses tratam muito mais de viver do que bem
raciocinar.
O sentido positivo da ciência, ou seja,
a busca de provas na realidade objetiva, acaba por nos induzir ao erro: achamos
verdadeiro somente aquilo que é proveniente dos fatos concretos. As inspirações
e as intuições, frutos da percepção extra-sensorial, são deslocadas para o
campo do misticismo. O físico vienense Herbert Pietschamann, ao tratar das
coisas da matéria e das coisas da alma, diz: a via das ciências naturais
levaria ao conhecimento do exato; a via das ciências do espírito
levaria ao conhecimento do verdadeiro.
Alguns escritores ocidentais
renunciaram definir tudo o que escrevem. Entre eles, citamos William James e
Shakespeare. Tanto um quanto o outro procurou desenvolver os seus pensamentos
de forma corrente sem se preocupar muito com o significado implícito de cada
palavra empregada. Isto porque a busca frenética pelo significado de uma
palavra leva à procura do significado da outra, e assim sucessivamente. O
método socrático de definir tudo o que se fala deixou rastros ao longo do
tempo.
Enquanto o pensamento ocidental segue
o cogito ergo sum de Descartes, os chineses seguem as
ponderações de Walt Whitman: "Basta-me que eu exista". O senso de
razoabilidade frente aos acontecimentos da vida tem mais valor do que a
pretensa profundidade em ciência. Tenhamos em conta que somos um ser global.
Para isso, precisamos tanto da lógica ocidental quanto da cultura oriental.
Manter a ideia fixa em um dos dois sistemas é ser preconceituoso.
A união do pensamento oriental com o do
ocidental é factível e mostra que a lei divina é única. Assim, para que
possamos alcançar um grau maior de compreensão da vida, saibamos facear todo o
conhecimento com a luz da ciência e da intuição espiritual.
Fonte de Consulta
YUTANG, Lin. A Importância de
Viver. Trad. Maria Quintana. Porto Alegre, Rio de Janeiro: Globo, 1986.
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