08 junho 2023

Intuição

Garcia Morente, no capítulo terceiro do livro “Fundamentos da Filosofia”, faz um estudo detalhado sobre a intuição como método da filosofia. Eis um pequeno resumo.

A intuição é um meio de se chegar ao conhecimento de algo, e se contrapõe ao conhecimento discursivo. Num único ato do espírito, lança-se sobre o objeto, apreende-o, fixa-o, determina-o. Quanto ao método discursivo, podemos dizer que discorrer e discurso dão a ideia de uma série de atos, de uma série de esforços sucessivos para captar a essência ou realidade do objeto.

Esclarece-nos que não há apenas uma intuição, mas intuições, as quais denomina de intuição sensível, espiritual, intuição real, intuição intelectual, intuição emotiva, intuição volitiva. Posteriormente, enumera os filósofos defensores de cada uma dessas intuições. Estudemos cada uma dessas intuições.

Intuição sensível é a intuição que todos praticamos a cada momento. Quando com um só olhar percebemos um objeto, um copo, uma árvore, uma mesa. Esta intuição sensível não é a mesma de que fala os filósofos. As razões: 1) O filósofo precisa de tomar como termo do seu esforço objetos não sensíveis; 2) Os dados sensíveis não oferecem conhecimento. Precisa de um dado universal.

Situemos a intuição espiritual. Suponhamos a seguinte afirmação: “Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo.” O princípio de contradição, como o chamam os lógicos, é, pois, intuído por uma visão direta do espírito, é uma intuição.

Útil se nos torna diferenciar intuição formal da intuição real. A intuição formal descreve o objeto. A intuição real penetra no fundo da coisa, que chega a captar sua essência, sua existência, sua consistência.

Continuando nosso estudo. A intuição intelectual é um esforço para captar diretamente, mediante um ato direto do espírito, a essência, ou seja, aquilo que o objeto é. A intuição emotiva mostra-nos não a essência do objeto, mas o valor do objeto, aquilo que o objeto vale. Intuição volitiva. Não se refere nem à essência, como a intuição intelectual, nem ao valor, como a intuição emotiva. Refere-se à existência, à realidade existencial do objeto.

Os representantes dessas intuições. A intuição intelectual pura encontramo-la na Antiguidade, em Platão; na época moderna, em Descartes e nos filósofos idealistas alemães, sobretudo em Schelling e Schopenhauer. A intuição emotiva encontramo-la em Plotino, Santo Agostinho, São Tomadas de Aquino, Spinoza (Sentimus experimur que nos esse aeternos.” Que quer dizer: “Nós sentimos e experimentamos que somos eternos.”). A intuição volitiva está em Fichte que faz depender a realidade do universo e a própria realidade do eu de uma afirmação voluntária do eu. O eu voluntariamente se afirma a si mesmo; cria-se, por assim dizer, a si mesmo

É preciso considerar que estas três classes de intuição que repartem em grandes linhas o campo metódico filosófico contemporâneo têm, cada uma delas, sua justificação num lugar do conjunto do ser. O erro consiste em querer aplicar uniformemente uma só delas a todos os planos e a todas as camadas do ser.

Fonte de Consulta

GARCIA MORENTE, M. Fundamentos de Filosofia - Lições Preliminares. 4. ed. São Paulo: Mestre Jou, 1970. [Lição III — A intuição como método da filosofia]

Compilaçãohttps://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/intui%C3%A7%C3%A3o

&&&

Intuição e Inteligência Artificial

A inteligência artificial pode ser entendida como um enorme banco de dados que, por meio de associações e análises combinatórias, oferece informações sobre os dados que possui. Não é uma inteligência propriamente dita, pois a raiz da palavra inteligência pressupõe uma escolha do indivíduo. A inteligência artificial não tem essa capacidade de escolha, limita-se a oferecer o que já tem guardado em sua memória virtual.  

A intuição, tanto quanto a imaginação e outras representações simbólicas, pressupõe uma relação vertical com o mundo das ideias, como nos ensinou Platão no Mito da Caverna, com um plano espiritual, um plano mental. No caso da inteligência artificial, a relação é horizontal. Mostra apenas o que tem, não cria algo. Observe a diferença entre o símbolo e o logotipo. No símbolo, há um relação vertical, que une dois planos: o material e o espiritual. No logotipo, há somente o plano material, que é a relação da empresa com os seus consumidores. 

A ciência valoriza muito a razão, mas utiliza sobremaneira a intuição.

Fonte: "Visão Simbólica X Inteligência Artificial" — Professora Lúcia Helena Galvão [Nova Acrópole].

Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=HW0xqoTDEw8&t=2364s