01 novembro 2016

Teosofia

Teosofia. Etimologicamente, vem do grego theosophia. Significa comunicação com Deus, conhecimento de Deus ou ciência das coisas divinas. Foi usada em diversos sentidos, tanto na cabala quanto no neoplatonismo. O mais comum é remontar ao panteísmo emanantista inspirado no budismo e no hinduísmo, pregado inicialmente pela teosofista russa Helena Petrovina Blavatsky (1831-1891); depois pela inglesa Annie Wood Besant (1847-1933).

A Sociedade Teosófica foi fundada por Helena Blavatsky e H. S. Olcoott em 1875. Ao longo do tempo, houve algumas dissidências, principalmente após a morte de Blavatsky. Em termos práticos, somente aos iniciados é facultado o conhecimento secreto. Acreditam na reencarnação e na lei do karma. Depois da morte física, o espírito passa pelo purgatório, onde sofre modificações que o fazem penetrar no Devakhan, uma espécie de paraíso. É do paraíso que se dá a reencarnação em um novo corpo.

O êxito de Blavatsky e, concomitantemente da Sociedade Teosófica, foi o de adaptar o seu ocultismo às necessidades dos seres humanos, pois o Iluminismo e a ciência tinham desviado as pessoas da religião e de Deus. A teosofia despertava a esperança num mundo melhor. Observe que os autores teosóficos,  além de aceitarem o conhecimento intuitivo (ou místico) de Deus, mas sem revelação, acreditavam também que todas as crenças têm um fundo comum, que se consubstancia na compaixão e na fraternidade universal.

De acordo com Alfredo Nieva, em sua Enciclopédia de Conhecimentos Esotéricos, "A teosofia não é nem uma seita, nem uma religião, nem uma filosofia, nem um partido, nem tem cor política determinada, senão um reflexo da Sabedoria Divina, da Sabedoria de Deus (que é o significado etimológico da palavra Teosofia e não a sabedoria dos deuses), se sobressai acima de todas as religiões, escolas, partidos, filosofias e ciências, para do ápice do discernimento sinalar os pontos de contato e coincidência e conciliar as discrepâncias entre as manifestações do pensamento humano, a fim de encontrar uma unidade na aparente diversidade".

A sociedade teosófica admite representantes de qualquer crença religiosa. O seu objetivo é enaltecer a verdade e combater a superstição, a perseguição, a falsa ciência, o fanatismo. Proclama que, por mais divergentes que possam ser as crenças, todas elas se assentam em uma única verdade, ou princípio fundamental, que é a Sabedoria Divina dos grandes instrutores do mundo, contida na Bíblia Cristã, nos Vedas, em Pitágoras, em Sócrates



13 setembro 2016

Cegueira do Real

A peça "Boubouroche" (1893) de Georges Courteline, reportada no livro O Real e seu Duplo, de Rosset, é um exemplo da cegueira do real, da ilusão. 

Resumo da peça: Boubouroche instalou a sua amante, Adèle, em um pequeno apartamento. Um vizinho de andar de Adèle previne caridosamente da traição quotidiana de que é vítima este último: Adèle partilha o seu apartamento com um jovem namorado que se esconde num armário toda vez que Boubouroche visita sua amante. Louco de raiva Boubouroche irrompe numa hora inabitual e descobre o amante no armário. Cólera de Boubouroche, à qual Adèle responde com um silêncio desgostoso e indignado: "Você é tão vulgar", declara ao seu protetor, "que não merece nem a mais simples explicação que logo teria dado a outro, se ele tivesse sido menos grosseiro. É melhor nos separarmos". Boubouroche admite os seus erros e perdoa Adèle. Moral da história: Boubouroche, mesmo desfrutando de uma visão correta dos acontecimentos, mesmo tendo surpreendido o seu rival no esconderijo, continua a acreditar na inocência da sua amante.

Reflexão de Rosset:

Imaginemo-nos apressados num volante, quando surge o sinal vermelho. Ao esperarmos o sinal verde, estamos aceitando o real. Por outro lado, podemos ignorar o sinal vermelho e continuarmos o nosso caminho. Este ato assemelha-se ao Édipo furando os próprios olhos. Isso também pode causar dano à nossa consciência, levando-nos ao suicídio. Há, ainda, um outro modo de atuar: percebemos que o sinal está vermelho, mas concluímos que é a nossa vez de passar.

O raciocínio que tranquiliza pode ser expresso da seguinte forma: "Há um rapaz no armário — logo Adèle é inocente, e eu não sou cornudo". Esta é, na verdade, a estrutura fundamental da ilusão: uma arte de perceber com exatidão, mas de ignorar a consequência. 

A técnica geral da ilusão é transformar uma coisa em duas, exatamente como a técnica do ilusionista, que conta com o mesmo efeito de deslocamento e da duplicação da parte do espectador: enquanto ocupa com a coisa, dirige o seu olhar para outro lugar, para lá onde nada acontece. Como Adèle para Boubouroche: "É bem verdade que há um homem no armário — mas olhe para o lado, ali, como amo você". 

Diz-nos que aceitamos o real, mas quando o nível de tolerância é suspenso, já não o queremos mais ver. Daí partirmos para uma recusa do real.

ROSSET, Clément. O Real e seu Duplo: Ensaio sobre a Ilusão. Tradução de José Thomaz Brum. Porto Alegre, RS: L&PM, 1976. 

 


12 setembro 2016

Filosofia para Iniciantes CD

NOTAS EXTRAÍDAS DO CD "Filosofia para Iniciantes", em que Sílvia Sibalde entrevista Wesley Dourado, professor e coordenador do Curso de Filosofia da Universidade Metodista de São Paulo.

O ato de filosofar é debruçar-se sobre a realidade no intuito de procurar aquilo que não está imediatamente dado à nossa percepção. É ir além daquilo que aparece à superfície. 

A filosofia não busca a verdade, mas verdades. Seria como descobrir as verdades de uma dada comunidade. 

O ser humano é questionador por natureza. Observe as crianças: estão sempre fazendo perguntas que podem deixar os mais velhos sem respostas. A realidade que nos cerca faz-nos questionar a todo o momento: política, religião, relacionamentos. Não convivemos muito bem com o mistério.  

As questões são sempre as mesmas ou mudam ao longo do tempo? Algumas questões permanecem, tais como a ética, a existência, o ser. As perguntas são as mesmas, mas as circunstâncias em que as respondemos são outras.  

A função da filosofia é preparar a pessoa para viver bem em sociedade. É o espaço para a crítica e criatividade, onde os indivíduos pensam o seu lugar no mundo. 

A filosofia se torna muitas vezes incompreensível porque deixa de lado o momento presente e preocupa-se com sua história, com os escritos de filósofos famosos. Hoje, há uma tendência de olhar a filosofia como uma tarefa do pensar e não propriamente uma volta ao passado. São os problemas do nosso momento, do nosso lugar que provocam o diálogo. 

A filosofia contribui para a felicidade quando mostra que a pobreza, a velhice, a exploração infantil são problemas e que precisamos debruçar sobre eles.  

A princípio não há incompatibilidade entre fé e filosofia. Tanto Santo Agostinho quanto São Tomás já haviam demonstrado. Há, contudo, uma incompatibilidade com a fé televisiva, aquela que se vende como produto de supermercado. 

O filosofar deve começar pelo próprio indivíduo, verificando quais são as suas dúvidas, as suas questões, tanto como indivíduo como alguém que se reconhece parte de uma sociedade. Depois, procurar na filosofia alguém que possa conversar sobre isso. Há textos na Internet que podem ajudar nesse trabalho.  

A filosofia surgiu no século VI a.C. Entre as diversas explicações sobre a origem da filosofia, cita três razões: 1) gosto pela associação; b) gosto pela opinião; c) sentido de pertença. Para tanto, faz referência ao Banquete de Platão. Antes disso, havia o mito. O mito explica a realidade como sendo consequência das forças e dos poderes divinos. 

Os pré-socráticos, chamados de sábios, estão num processo transição entre o mito e a nova forma de fazer filosofia. A pergunta é a mesma da mitologia, ou seja, queriam saber a origem das coisas. Só que buscam a resposta não nos deuses, mas no uso da razão.  

Diz-se que a profissionalização da filosofia surgiu com os sofistas, que cobravam por seus ensinamentos. Não é verdade. A profissionalização é dos nossos dias. Na época, os sofistas ensinavam retórica, que é a arte do convencimento, aos jovens e, para tanto, recebiam em troca dinheiro. Sócrates ensinava, mas não cobrava.  

Só sei que nada sei" é uma frase-chave no pensamento filosófico. O aparecimento de Sócrates implica o rompimento com os sofistas, com os políticos que tinham um pensamento muito raso e com os naturalistas, que estavam preocupados com a origem das coisas. Esta frase mostra que só Deus sabe e o sábio é aquele que reconhece que não sabe. A grande contribuição de Sócrates foi mudar a pergunta sobre a origem das coisas para o que é o ser humano. Ao se debruçar sobre essa questão vai se enverando pela politica, pela ética que são elementos da convivência humana.  

Na obra de Sócrates, há o termo "espanto", não apenas com relação à filosofia, mas as coisas de um modo geral. O ensino da filosofia se dá quando há o espanto, a admiração, que se poderia chamar de provocação. O aprendizado e o ensino da filosofia é provocar o espanto; depois, tentar decifrá-lo.  

A importância de Aristóteles nos dias atuais está na permanência dos problemas que ele enfrentou, porém em outra dimensão: ética, política, formas de governo etc.  

São Tomás Aquino retoma o pensamento de Aristóteles, mas precisamente na ética. A ética de Aristóteles fundamenta-se na felicidade, que é o bem maior. Não é qualquer felicidade, mas aquela que se alcança com a atividade racional, que ele chama de eudemonismo, cuja raiz está na justa medida. São Tomás também se baseia nesse eudemonismo. Só que a felicidade deve estar em consonância com o divino e, no caso, o Deus cristão. 

Maquiavel, em O Príncipe, diz que sua obra é um pensar, um cogitar sobre o modo de governar. Primeiramente, rompe com o pensamento da Igreja, esclarecendo que o poder não é divino. Observando os príncipes, anota alguns parâmetros para que os príncipes consigam governar com êxito. Em certo momento, diz que não é possível o exercício do poder sem alguma violência. Não que ele defenda a violência.  

Pouco valorizado em vida, o tempo para a obra filosófica de Friedrich Nietzsche estava ainda por chegar. O motivo é simples: a Igreja e a racionalidade filosófica tinham grande influência na época. Para ele, viver a vida é dar espaço para os instintos, os desejos, a subjetividade.  

O existir em Descartes não é o mesmo que o existir em Jean-Paul Sartre. Para René Descartes, o existir estava atrelado ao pensar: Cogito ergo sum. Para Sartre, primeiro nós existimos; depois nos definimos. A existência é uma construção humana que não está restrita ao pensar. Estamos condenados à liberdade. Escolhemos o rumo do nosso existir. 

 






10 setembro 2016

Filosofia: As Chaves do Pensar CD

NOTAS EXTRAÍDAS DO CD "Filosofia: As Chaves do Pensar — Questões Filosóficas Essenciais que Estimulam a Mente e Enriquecem o Espírito", em que Sílvia Sibalde entrevista o filósofo Carlos Matheus, professor e doutor em filosofia.

A filosofia nasceu aproximadamente em 600 a.C., na área oriental da Grécia, que antigamente era chamada de Ásia Menor (hoje Turquia), na região de Mileto. Os primeiros filósofos foram Tales de Mileto, Anaximandro e Anaxímenes. 

A filosofia nasce de um saber sobre o mundo, não necessariamente de uma insatisfação. Já havia muitas explicações sobre o mundo: cosmogonias, religiões, fábulas, mitos etc. Esses primeiros filósofos foram também cientistas pois procuravam refletir sobre a origem das coisas e do mundo. Tales, por exemplo, procurava o elemento primordial, aquilo que originava tudo o mais. Para ele, esse elemento seria a água. 

Tales, Anaximandro e Anaxímenes são os iniciadores do processo de reflexão racional sobre a origem das coisas. Além desses, destacam-se Heráclito (ênfase no movimento), Parmênides (ênfase no fixo, representando um contraponto a Heráclito), Empédocles (atração e repulsa, ou seja, as forças se atraem ou se repelem) e Anáxagoras (razão universal — noumeno). 

A Grécia dedicou-se à pedagogia, ou seja, produzir e transmitir conhecimentos. Esta era a função dos sábios, chamados de sofistas, cujo ofício era uma profissão, pois cobravam pelas suas aulas. Sócrates se contrapõe à profissão dos sofistas, pois tinha esse ofício como missão. Os sofistas que se destacaram foram Górgias e Protágoras.

Sócrates, Platão e Aristóteles sobreviveram. Os trabalhos dos filósofos anteriores se perderam (inundação, incêndio...). Embora Sócrates não escrevera nada, o seu pensamento foi levado adiante por seu discípulo Platão. Saliente-se, também, o fato de Platão ter um lugar fixo para os seus estudos: a Academia (Jardim de Academus). Aristóteles, embora discípulo de Platão, representa um contraponto ao seu mestre. Por divergências com a Academia, funda a sua própria escola, chamada de Liceu.  

Idade Média começa em 453, com a última invasão romana, e termina em 1453, com a tomada de Constantinopla pelos turcos. É um período sombrio, intermediário entre o mundo greco-romano e o mundo moderno. Pode-se dizer que os medievais não sabiam que eram medievais. O começo da Idade Média deu-se sob a influência de Santo Agostinho (354-430), que captou o cristianismo e a filosofia platônica. Na Alta Idade Média, o pensamento de Aristóteles passou a ser conhecido. Santo Tomás de Aquino (1225-1274) faz uma síntese perfeita entre Agostinho e Aristóteles. Para Tomás de Aquino, Aristóteles era "o filósofo". 

Com o surgimento de Nicolau Copérnico e Galileu, a filosofia toma outro rumo. Até então o mundo era finito. A partir daí, concebe-se um universo infinito, que se move por si mesmo, ocasionando um choque com a tese cristã. A ciência busca uma autonomia, rompendo com a Igreja. 

Os filósofos pré-socráticos eram sábios, ou seja, cientistas. Sócrates rompe essa postura dizendo-se filósofo, isto é, não o que sabe, mas o amante do saber. A partir daí, ciência e filosofia acabam indo para caminhos opostos. 

A filosofia parece hermética. É que na filosofia há palavras técnicas para descrever o pensamento. Hegel lembra-nos: quem tiver dificuldade de entender os textos filosóficos, leia-os duas ou três vezes. 

A filosofia deve sempre situar-se entre o ceticismo e o dogmatismo.

Todo o ser humano é potencialmente filósofo. A dúvida sobre a morte, sobre a vida, sobre o relacionamento é uma forma de filosofar.

De onde viemos e para onde vamos é a questão angustiante da filosofia de hoje e de sempre.

Vivemos entre a busca da verdade e a impossibilidade de alcançá-la na sua totalidade.

A filosofia assemelha-se a um edifício, que deve ser construído e reconstruído. Os problemas são permanentes, mas podemos vê-los sob uma nova ótica.

A filosofia caminha em direção ao ser humano, na reflexão entre o que somos e o que queremos ser. 

 



08 setembro 2016

Suicídio e Filosofia

O problema central: Se a vida não nos pertence, se não escolhemos o momento de nascer, o que nos autorizaria então a deixá-la quando assim deliberássemos?

O que é o suicídio? Por que algumas pessoas são levadas a este ato extremo? Como surgiu esta palavra? O que a filosofia tem a dizer? E a filosofia espírita? Com estas simples questões, iniciamos a nossa reflexão sobre este assunto que, na acepção de Albert Camus é o único problema filosófico verdadeiramente sério.

O termo suicidium surgiu no século XVII. Esta palavra leva-nos a fazer uma associação entre matar a si mesmo e o homicídio. Agostinho, por exemplo, analisa esta palavra em termos do sexto mandamento: "não matarás". Nas lucubrações genealógicas, procura-se distinguir o matar a si do sacrifício (ou martírio). Os primeiros cristãos buscavam o martírio. Seria um caso de suicídio ou de martírio? E a morte de Sócrates, guiada por seu daimon? 

Na Antiguidade havia argumentos pró e contra a morte de si. Sócrates dizia que viver é aprender a morrer. Os jovens podem supor que isso é um convite a evadir-se da vida. Aristóteles atrela a morte de si à cidade. Quem assim procedesse, não deveria ter enterro digno, e os corpos ficariam insepultos. A posição hedonista de Epicuro sobre a morte voluntária está assentada na sua doutrina da indiferença: o sábio não deve nem rejeitar a vida nem temer a morte.

Na Idade Média, marcada pelo predomínio da escolástica e dos dogmas religiosos, assiste-se a uma grande interdição da morte. As ideias do fogo do inferno para quem desobedecesse a normas da Igreja pesavam muito nas atitudes e comportamentos dos fiéis. Como dissemos acima, Agostinho referia-se ao sexto mandamento: "não matarás". Tomás de Aquino, por seu turno, reúne argumentos gregos (Platão e Aristóteles) e cristãos (Agostinho) para refutar enfaticamente a morte de si mesmo.

Passada a fase obscura da Idade Média, novas ideias surgem, principalmente aquelas estimuladas pelo Iluminismo, ou a Idade da Razão, cujo objetivo é combater as ideias centralizadoras da Igreja. Nietzsche, no discurso de Zaratustra sobre a morte livre, diz: Muitos morrem demasiadamente tarde e outros demasiadamente cedo. Ainda soa estranha a doutrina:'morra no tempo certo!'. Morra no tempo certo: assim ensinava Zaratustra."

Qual a posição espírita ante o suicídio? De acordo com a Lei Natural, Deus nos concedeu a vida e não podemos tirá-la por nós mesmos. De qualquer modo, temos o livre-arbítrio, o que pode nos levar a cometer o suicídio. Mesmo contrariando a Lei de Deus, no suicídio há que se considerar os atenuantes e os agravantes, ou seja, o ato de tirar a própria vida tem várias dimensões: há que se considerar o motivo, as influências dos amigos, os revezes que poderiam ser evitados, entre outros. 

Em síntese, os argumentos a favor e contra a morte de si devem ser analisados à luz da nossa consciência. No Espiritismo, a certeza da vida futura nos dá condições de saber que seremos menos ou mais feliz de acordo com a resignação que tivermos suportado os sofrimentos aqui na Terra.

Fonte de Consulta

PUENTE, Fernando Rey (Org.). Os Filósofos e o Suicídio. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2008.

 


10 agosto 2016

Antroposofia

Antroposofia. Corpo da doutrina espiritualista estabelecido pelo austríaco Rudolfo Steiner (1861-1925). Steiner foi filósofo, educador, artista e esoterista. Ex-secretário da seção teosófica alemã, repensou, a partir de 1913, o sistema esotérico de Miss Blavatsky e Annie Besant.

Rudolf Lanz, em Noções Básicas de Antroposofia, diz que a antroposofia é ciência, mas uma ciência que ultrapassa os limites com os quais até agora esbarrou a ciência “comum”. Usa o método científico, ou seja, observa, descreve e interpreta os fatos, mas acrescenta o supra-sensível.

Algumas observações a respeito de sua doutrina.

Finalidade. Tinha em mente libertar gradativamente o ser humano da “personalidade contingente” e torná-lo capaz de fruir da clarividência e de outras experiências interiores.

Ponto de partida. Segundo Steiner, a humanidade primitiva estabelecia contato direto com mundos espirituais por visão imediata supra-sensível. Ao longo do tempo, porém, deixou atrofiar esse dom, adquirindo a capacidade lógica.

Problema prático. Recuperar esses valores espirituais perdidos, indicando os caminhos a seguir, os exercícios a realizar e a técnica necessária para atingir o objetivo.

Ascética católica. Simultaneamente à ascética católica, recorre a práticas de inspiração oriental e budista, como a de concentrar o pensamento num determinado ponto, o qual desperta insuspeitas energias.

Funcionamento do sistema. Para Steiner, o Cosmos, cujo “espírito central é Cristo, é regido por leis "divinas", por "necessidades eternas" e pelo jugo do Karma. A evolução do espírito se dá através de várias existências.

O ser humano. No homem, distingue o corpo físico, o etéreo ou vital, o astral, o "eu espiritual", o "eu vital" e o homem-espírito. O "eu inferior", fundamento da sua existência atual, não é mais do que uma forma do "eu superior", não passando o "eu pessoal" de mera ilusão.

Momento da morte. Durante o sono, o eu e o corpo astral abandonam o corpo físico, deixando dentro deste apenas o corpo etérico; em consequência disso, o corpo físico permanece vivo. No momento da morte, o eu, o corpo astral e o corpo etérico separam-se do envoltório físico. O corpo torna-se cadáver.

Crítica à antroposofia. Diz-se que, apesar de se professar espiritualista, os fenômenos não vão além de experiências sensíveis. Na sua teodiceia, por exemplo, a natureza da divindade não transcende a das realidades contingentes, que dela emanam e a ela tornam. 

Fonte de Consulta

ENCICLOPÉDIA LUSO-BRASILEIRA DE CULTURA. Lisboa: Verbo, [s. d. p.] 

GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Lisboa/Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia, [s.d. p.]. 

LANZ, Rudolf. Noções Básicas de Antroposofia. 4. ed., São Paulo: Antroposófica, 1997. 




13 maio 2016

Albert Einstein

“Todo aquele que se dedica ao estudo da ciência chega a convencer-se de que nas leis do Universo se manifesta um Espírito sumamente superior ao do homem, e perante o qual nós, com os nossos poderes limitados, devemos humilhar-nos.” (Albert Einstein)

Albert Einstein (1879-1955) é considerado o maior cientista do século XX. Nele se consolidou a teoria da relatividade. Na Física, a teoria da relatividade foi proposta por Albert Einstein e teve como incumbência a ampliação dos conceitos de tempo, espaço e movimento, revolucionando a física clássica. Sinteticamente: de Galileu a Newton, a física clássica considerava o movimento como relação determinada por sua referência a parâmetros julgados absolutos, o espaço e o tempo. Para Einstein, ao contrário, o espaço e o tempo se concebem em função do movimento, que se torna, assim, o absoluto. 

As consequências da teoria da relatividade podem ser resumidas: a) em termos de espaço-tempo, alteração radical das noções de distância e duração; b) quanto à concepção da matéria, a física declara que esta constitui uma cadeia de entidades, sujeitas a uma determinada duração de modo algum absoluta; c) quanto à generalização da teoria, a força de gravidade, que unifica todo o sistema newtoniano, fica reduzida a um movimento particular de um corpo num espaço determinado por massas de matéria.

A importância de Einstein no campo da filosofia. Em seu livro Como Vejo o Mundo, Einstein inaugura uma espécie de metafísica do cientista. Achava que os sentidos constituem a fonte do conhecimento. Contudo, "as noções presentes em nosso pensamento e em nossas expressões da linguagem são todas, do ponto de vista lógico, criações livres do pensamento e não podem ser obtidas das experiências sensíveis por via indutiva".

Algumas notas extraídas do livro Como Vejo o Mundo:

Recusava-se a crer na liberdade. Não se achava livre, mas constrangido por pressões estranhas a ele mesmo, outras vezes por convicções íntimas. Para tanto, gostava de citar Schopenhauer: "O homem pode, é certo, fazer o que quer, mas não pode querer o que quer".

Em se tratando do sentido da vida. Aquele que considera sua vida e a dos outros sem qualquer sentido é fundamentalmente infeliz, pois não tem motivo algum para viver.

O julgamento do ser humano. Einstein determinava o autêntico valor de um homem com uma única pergunta: em que grau e com que finalidade o homem se liberta de seu Eu?

Acerca das crenças de Einstein. Acha que construir o pensamento somente pela reflexão pode nos levar à ilusão e ao preconceito. A experimentação também nos fornece informações filosóficas muito importantes.

Opinando sobre o judaísmo e o cristianismo. Se se separa o judaísmo dos profetas, e o cristianismo tal como foi ensinado por Jesus Cristo de todos os acréscimos posteriores, em particular aqueles dos padres, subsiste uma doutrina capaz de curar a humanidade de todas as moléstias sociais.

Alguns pensamentos de Einstein. "Aprendo a tolerar aquilo que me faz sofrer". "A violência fascina os seres moralmente mais fracos". "Estou em Princeton apenas para a pesquisa científica e não para a pedagogia". "Recuso-me a permanecer em um país onde a liberdade política, a tolerância e a igualdade não são garantidas pela lei". "O espírito científico, fortemente armado com seu método, não existe sem a religiosidade cósmica". "Há muitas cátedras, mas poucos professores prudentes". "Não basta ensinar ao homem uma especialidade. Porque se tornará assim uma máquina utilizável, mas não uma personalidade".

Fonte de Consulta

EINSTEIN, Albert. Como Vejo o Mundo.

TEMÁTICA BARSA — FILOSOFIA.




06 abril 2016

O Iluminismo

iluminismo tem origem na Inglaterra, por volta de 1688, e se expande para França, Alemanha e demais países europeus. É um período histórico (1688-1789) que aspira à emancipação do ser humano por intermédio das luzes da razão. Até então o indivíduo vivia sob as forças da irracionalidade. A razão torna-se a nova divindade e, segundo o enciclopedista D'Alembert, teve a incumbência de destruir, analisar e mexer em tudo. 

No iluminismo francês, Voltaire e Montesquieu são os seus principais representantes. O que há em comum entre eles? Confiança na razão e repúdio à religião. Voltaire fundamenta-se nos ideais da tolerância religiosa e da liberdade política, tais como se verificavam na monarquia inglesa. Montesquieu desenvolve o seu pensamento político segundo o constitucionalismo inglês. É dele a famosa divisão dos poderes: o poder legislativo, o poder executivo e o poder judiciário devem ser independentes uns dos outros, mas equilibrados entre si. 

No iluminismo francês, podemos distinguir duas posições: 1) Voltaire e Montesquieu; 2) Diderot e os enciclopedistas. A primeira geração é deísta e defende a religião natural; a segunda, considera que a matéria e o movimento são eternos. Jean-Jacques Rousseau é o expoente mais radical do iluminismo francês. Ele acredita na bondade natural do ser humano, que foi pervertida pela sociedade. No Contrato Social, escreve: "O homem nasce livre e por toda parte se encontra acorrentado."

No iluminismo alemão, Immanuel Kant (1724-1804) é o seu representante máximo. Dizia: "O iluminismo é a saída do homem do estado de minoridade devido a eles mesmos. Minoridade é a incapacidade de utilizar o próprio intelecto sem a orientação de outro. 'Sapere aude!' Tem coragem de usar o teu intelecto" é o lema do iluminismo. Em Fundamentação da metafísica dos costumes, afirma: "Aja somente de acordo com um princípio que desejaria que fosse ao mesmo tempo uma lei universal."

As ideias científicas do iluminismo culminam com o nascimento da química racional e o aparecimento da economia científica. O impulso dado à revolução industrial provocará profundas transformações das sociedades ocidentais. A revolução científica, iniciada no Renascimento, foi uma revolução do saber; a revolução industrial, iniciada no século XVIII, foi uma revolução da energia. Em termos econômicos, Adam Smith (1723-1790) escreveu Uma investigação sobre a natureza e causas da riqueza das nações (1776). Nessa obra, considerou que o interesse pessoal, motor básico da economia, conciliava-se harmonicamente com os interesses coletivos em virtude da oferta e da procura do mercado.

Fonte de Consulta

Temática Barsa - Filosofia. Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005.

Compilaçãohttps://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/iluminismo




09 março 2016

O Empirismo e seus Representantes

Para o empirismo, todo conhecimento é baseado na experiência que provém dos sentidos.  É uma corrente filosófica para o qual a experiência é critério ou norma de verdade. Em geral, essa corrente caracteriza-se: 1) negação do caráter absoluto da verdade; 2) reconhecimento de que toda verdade pode e deve ser posta à prova, no sentido de corrigi-la ou abandoná-la. Nesse caso, o empirismo não se opõe à razão, a não ser a cega. (Abbagnano, 1970)

John Locke (1632-1704) foi quem formulou os fundamentos dessa filosofia. Ele dizia que "[...] nosso conhecimento nunca pode ir mais longe do que nossas ideias". Para Locke, “A mente limita-se a reelaborar sob forma de abstração crescente dados e observações que recebe do exterior, segundo a fórmula empirista nada existe no intelecto que não tenha antes passado pela percepção”. Resumo do seu pensamentoOs racionalistas acreditam que nascemos com algumas ideias e conceitos: os que são "inatos". ==> Mas isso não é confirmado pelo fato... ==> ... de que não há verdades encontradas em todos nós no nascimento. ==> ... de que não há ideias universais encontradas em pessoas de todas as culturas, em todos os tempos. ==> Tudo o que sabemos é adquirido a partir da experiência.

George Berkeley (1685-1753) é considerado idealista e se baseia numa filosofia imaterialista. Para ele, o conhecimento empírico não assegura que fora de nossas percepções exista uma realidade material. "Os objetos existem na medida em que os percebemos, mas não possuem qualidades independentes dessa percepção". Resumo do seu pensamento: Todo conhecimento vem da percepção. ==> O que percebemos são ideias, não coisas em si. ==> Uma coisa em si deve estar fora da experiência. ==> Então o mundo consiste apenas em ideias... ==> ... e mentes que percebem essas ideias. ==> Uma coisa só existe na medida em que ela percebe ou é percebida.

David Hume (1711-1776) vai mais longe em sua radicalização do empirismo e aproxima-se do ceticismo, pois critica os objetivos das relações de causa e efeito. "Essas relações derivam do costume e o conhecimento empírico não pode garantir no fundo a existência do mundo exterior, embora estejamos obrigados a acreditar nele". Resumo de seu pensamentoVejo o sol nascer toda manhã. ==> Adquiro o hábito de esperar o sol nascer toda manhã. ==> Aprimoro isso no julgamento "o sol nasce toda manhã". ==> Esse julgamento não pode ser uma verdade de lógica, pois é concebível que o sol não nasça (ainda que altamente improvável). ==> O julgamento não pode ser empírico porque não posso observar o nascer futuro do sol. ==> Não tenho fundamento racional para minha crença, mas o hábito me diz que ela é provável. ==> O hábito é o grande guia da vida.

Thomas Hobbes (1588-1679) defende que a origem do conhecimento está na experiência. Sua teoria sobre a origem do estado baseia-se no contrato social e não no direito divino. Seu pensamento não é apenas político; tem também uma vertente lógica e gnosiológica que dá sustentação à ciência moderna. A filosofia política de Hobbes tornou-se famosa pela sua obra Leviatã, ou a matéria, a forma e o poder de um estado eclesiástico e civil (1651). Enquanto na Bíblia, o Leviatã é um monstro que convém não despertar, na obra de Hobbes, o Leviatã é o estado, o "deus mortal" que evita a guerra civil. Resumo de seu pensamentoNada sem substância pode existir. ==> Então tudo no universo é físico. ==> Um ser humano é, portanto, inteiramente físico. ==> O homem é uma máquina.

Bibliografia Consultada

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1970.

Temática Barsa - Filosofia. Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005.

VÁRIOS COLABORADORES. O Livro da Filosofia. Tradução de Rosemarie Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011.



O Racionalismo

Racionalismo. Doutrina que privilegia a razão como fundamento de todo conhecimento possível. Segundo Hegel: "Aquilo que é racional é real, e o que é real é racional". Contrário ao empirismo, que valoriza a experiência, e ao fideísmo, que valoriza a revelação religiosa. Filosoficamente, pode ser uma visão de mundo quando afirma o acordo entre o racional e a realidade do universo quanto uma ética que afirma que as ações dos seres humanos são racionais em seu princípio, em sua conduta e em sua finalidade.

O racionalismo começa com Descartes (1596-1650). Será desenvolvido mais tarde por Spinoza e Leibniz. Descartes ficou famoso pelo "penso, logo, existo", conclusão sintética da aplicação do seu método, denominado dúvida hiperbólica. Primeiramente, nega qualquer conhecimento anterior (tradição). Depois, fazendo uso de sua razão, busca alguma coisa fora da tradição, qualquer coisa que resista a todas as dúvidas. Quer assentar o seu método numa verdade contra a qual nenhuma dúvida, a mínima que seja, possa pairar.

Baruch Spinoza (1632-1677) dá prosseguimento ao racionalismo. Partindo do dualismo da mente e da matéria concebido por Descartes, formula o seu panteísmo pelo qual se postula uma única ordem racional, uma identificação entre o ser de Deus e o ser do mundo. Resumo do seu pensamento: Há apenas uma única substância. ==> Tudo que existe é constituído dessa substância única. ==> Essa substância é "Deus" ou "natureza". ==> Ela fornece tudo em nosso Universo com seu... ==> ... processo de formação. ==> ... seu propósito. ==> ... sua forma. ==> ... e sua matéria. ==> Desses quatro modos, Deus é a "causa" de tudo.

Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) é outro representante do racionalismo. Em carta a Samuel Clark, ele diz: "Nada acontece sem que haja uma razão suficiente para ser assim e não de outro modo". É dele a teoria da mônadas, substâncias sem extensão. De acordo com o seu pensamento, "não há dualismo da mente e da matéria, mas antes uma escala (quase evolutiva) entre os seres da natureza, coroada por Deus, mônada das mônadas, no padrão de uma harmonia preestabelecida". Resumo do seu pensamentoToda coisa no mundo tem uma noção distinta. ==> Essa noção contém toda verdade sobre essa coisa, incluindo sua conexão com outras coisas. ==> Podemos analisar essas conexões por meio da reflexão racional. ==> Quando a análise é finita, podemos alcançar a verdade final. ==> Essas são as verdades da razão. ==> Quando a análise é infinita, não podemos alcançar a verdade final pela razão, somente pela experiência. ==> Essas são as de fato.

Blaise Pascal (1623-1662) é também arrolado dentro do racionalismo. No entanto, ele diz: "O coração tem razões que a razão desconhece". Pascal contesta a tese de que a razão filosófica possa alcançar uma certeza total. Segundo seu ponto de vista, "Há dois excessos: excluir a razão, não admitir mais do que razão". Resumo do seu pensamento: A imaginação é uma força poderosa no ser humano. ==> Ela pode ultrapassar nossa razão. ==> Mas pode levar a verdades ou falsidades. ==> Podemos ver beleza, justiça ou felicidade onde elas não existem realmente. ==> A imaginação nos desvia do caminho.

A razão deve sempre ser ativada, pois sem ela seríamos marionetes nas mãos dos outros. Convém, contudo, colocá-la dentro dos seus estritos limites, para não cairmos nos desmandos da inteligência.  

Fonte de Consulta

Temática Barsa - Filosofia. Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005.

VÁRIOS COLABORADORES. O Livro da Filosofia. Tradução de Rosemarie Ziegelmaier. São Paulo: Globo, 2011.


02 março 2016

O Renascimento

Renascimento é o período da história que vem depois da Idade Média. É uma tentativa de voltar aos clássicos da Antiguidade, ou seja, a Sócrates, Platão, Aristóteles e outros. O humanismo, um dos fenômenos mais importantes desse novo pensamento, significa uma rebelião contra a escolástica e a tudo o que era ensinado nas universidades da época. Esse movimento intelectual visou essencialmente à reforma da teologia e da religião cristã. Quanto ao ser humano, desprezaram o sobrenatural e deram ênfase ao natural.

A vinda do Renascimento recobrou a filosofia platônica, mas de um Platão reinterpretado de modo diferente daquele que era feito pela tradição agostiniana e neoplatônica da Idade Média. Os pensadores dessa época querem conciliar a filosofia platônica e o cristianismo, mas essa conciliação se torna ambígua, pois o cristianismo depende de uma revelação, em que o homem é um ser corrompido que necessita de redenção da graça para se libertar de sua natureza abjeta. Como fazê-lo somente pela razão? Além disso, "os platônicos do Renascimento exaltam também a natureza como uma fonte de conhecimento autêntico de Deus. Esse anseio contemplativo, no entanto, está mais próximo do misticismo teosófico do que da filosofia natural ou da ciência da natureza que se desenvolverá posteriormente".

Erasmo de Rotterdam (1460-1536), o humanista de maior prestígio em toda a Europa, diante dos grandes descobrimento geográficos e os notáveis avanços técnico-científicos, exprime, em 1517, o seguinte pensamento: "vejo uma idade de ouro no futuro próximo". Quer dizer, os referidos avanços promoveriam os ideais de tolerância e concórdia entre todos os seres humanos autônomos. Este sonho não se torna real, pois o que se vê são as frequentes guerras entre os adeptos da várias religiões.

Franscesco Petrarca (1304-1374), considerado o pai do "iluminismo", que proclama o conhecimento rigoroso como um ideal, Thomas More (1478-1535), que pede uma volta à cristandade, Erasmo de Rotterdam (1469-1536), com o seu sonho da idade de ouro, Martinho Lutero (1483-1546), João Calvino (1509-1564) e Ulrich Zwingli (1484-1531), que separam definitivamente os âmbitos da razão e da fé e Montaigne (1533-1592), com o seu "que sais-je?" ("o que é que eu sei?") são alguns dos representantes do período renascentista.

O humanismo, que considera o homem um ser autônomo, faz uma crítica ao duplo poder temporal e espiritual do papado. Quem melhor compreende e teoriza esse estado de coisas é Maquiavel que, no seu livro O Príncipe, descreve as várias atuações dos governantes. Daí, o termo pejorativo "maquiavélico", aquele que está sempre disposto a levar vantagem em tudo o que faz, não importando por quais meios. Resumindo: O sucesso de um Estado ou de uma nação é o fim supremo. ==> Quem quer que governe o Estado ou nação deve lutar para assegurar ==> sua própria glória ==> e o sucesso do Estado. ==> A fim de realizar isso, ele não pode ser limitado pela moralidade. ==> Os fins justificam os meios.

Renascimento foi, nada mais nada menos, do que o desabrochar de uma cultura que estava incubada, a cultura greco-romana.

Fonte de Consulta

Temática Barsa - Filosofia. Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005.

 



28 fevereiro 2016

Filosofia Clássica e o Helenismo

"A vida sem reflexão não vale a pena ser vivida." Citado por Platão, em Apologia a Sócrates

No século V a.C., a democracia triunfou na Grécia e trouxe como consequência uma maior participação das pessoas na polis. Surge, então, os sofistas (Protágoras, Górgias, Hípias...) um conjunto de pensadores que tinham em comum o fato de serem os primeiros educadores profissionais, pois cobravam por suas aulas. Ensinavam fundamentalmente retórica e humanismo, como moral e política. No princípio, sofista significava "sábio" (sophos); depois, pejorativamente, ganhou o sentido de hábil enganador. 

Quando falamos em filosofia clássica grega, lembramo-nos imediatamente de Sócrates, Platão e Aristóteles. Cabe destacar que as suas teses, em grande parte, tinham por objetivo demonstrar o erro dos sofistas, que eram considerados perigosos. Sócrates ficou famoso pelo "conhece-te a ti mesmo"; Platão, pela "Teoria das Ideias"; Aristóteles, pela "elaboração da lógica". Para Sócrates, por exemplo, a Filosofia era uma missão sagrada, que deve ser cumprida com risco da própria vida. Com essa atitude, opunha-se aos sofistas, para quem a educação era puramente uma arte, uma função utilitária.

Quando falamos da filosofia clássica grega, reportamo-nos a Platão e Aristóteles. Na época helenística, quando Alexandre, o Grande,  chega ao Poder (336 a.C.), outras escolas filosóficas surgiram: o epicurismo, o estoicismo e o ceticismo. O que essas escolas tinham em comum? Um sistema ético centrado no individualismo. Consequência: busca-se a felicidade a todo custo. "O indivíduo perde sua capacidade de intervenção na vida política e se retrai a uma esfera privada, na qual aspira apenas a cultivar a si mesmo".

Como dissemos anteriormente, os sofistas surgiram na Atenas do século V a.C., cuja filosofia cética enfatiza o espírito trágico, o qual é fundamentado na experiência universal dos seres humanos, isto é, na morte, na dor e no sofrimento. Observe a experiência da culpa: diante de qualquer conflito, a situação é ambígua. Isto é exemplificado nos personagens das tragédias: são culpados e inocentes ao mesmo tempo; agiram mal, mas provavelmente não teriam como agir diferente.

A ciência grega surgiu a partir de 600 a.C., mas inseparável do pensamento filosófico. Os gregos distinguiam dois tipos de saber: conhecimento puro e conhecimento que leva à transformação da natureza, próprio da ciência aplicada. O mais importante é o conhecimento puro; o fazer é secundário. Essa distinção explica a ausência do termo "científico" no mundo grego. Embora tivesse o termo episteme para se referir à ciência, este se referia ao conhecimento acima de qualquer dúvida, totalizante, que se adquire na filosofia.

Como vemos, os sofistas tiveram um papel relevante na história da filosofia, pois a todo momento estavam criando problemas para serem pensados.  

Fonte de Consulta

TEMÁTICA BARSA (Filosofia). Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005. 

 

25 fevereiro 2016

O Advento do Cristianismo

"Dai-me castidade e continência, mas não agora." Confissões

O pensamento grego e o cristianismo são fundamentais na formação da civilização ocidental. Sem o cristianismo, não teríamos condições de compreender os aspectos relevantes da cultura europeia. A relação do cristianismo com a cultura grega inclui uma oposição, ou seja, a verdade revelada perante a verdade racional, e um esforço de sintetizar razão e fé, que são duas opostas de se propor a compreensão do mundo.

A cultura grega é uma cultura politeísta, adora muitos deuses; a cultura cristã é monoteísta, adora um único Deus. A imagem de Deus no cristianismo é a de um único Deus, criador do mundo, onipotente, infinitamente bom e justo, transcendente (está fora do mundo). Por ser infinitamente superior, a divindade forma uma realidade totalmente distinta da criatura, que lhe é inferior. Os antropomórficos deuses gregos não estão fora do mundo, nem encarnam o absoluto e o infinito. 

Desde o começo da era cristão, o pensamento filosófico tenta solucionar o problema do Bem e do Mal, cuja unidade grega entre o cosmos e Deus se rompeu, e que se polariza na antítese Deus e Mundo. O Mal se identifica com a matéria do mundo provém da experiência da dor, da doença e da morte. A gnose, daí gnosticismo, é o tipo de conhecimento que pode levar à compreensão da união desses dois extremos separados pela matéria. 

Um dos fatos marcantes ocorridos no início da história do pensamento ocidental é o uso que o cristianismo faz da filosofia grega. O resultado é o aparecimento da patrística, ou seja, o esforço dos padres da igreja para elaborar uma doutrina que estabelecesse a continuidade com o mundo antigo pela via da razão e com o mundo cristão pela via da revelação. 

O grande representante da patrística é, sem dúvida, santo Agostinho (354-430) que, em Confissões, diz: "Dai-me castidade e continência, mas não agora". Para ele, como as verdades não podem nascer na alma, que é mutável, só podem se explicar por iluminação divina. Como saberíamos, não fosse a iluminação divina, o que é justo e o que é injusto? Se o sabemos é porque daquela verdade se "copia" toda lei justa. As duas principais obras deixadas por santo Agostinho são: Confissões e Cidade de Deus.

Deixou formulado indicando o caminho para a sua solução – o problema das relações entre a Razão e Fé, que será o problema fundamental da escolástica medieval. Ao mesmo tempo demonstra claramente sua vocação filosófica na medida em que, ao lado da fé na revelação, deseja ardentemente penetrar e compreender com a razão o conteúdo da mesma. Entretanto, defronta-se com um primeiro obstáculo no caminho da verdade: a dúvida cética, largamente explorada pelos acadêmicos. Como a superação dessa dúvida é condição fundamental para o estabelecimento de bases sólidas para o conhecimento racional, Santo Agostinho, antecipando o cogito cartesiano, apelará para as evidências primeiras do sujeito que existe, vive, pensa e duvida.

Bibliografia Consultada

TEMÁTICA BARSA — Filosofia. Rio de Janeiro: Barsa Planeta, 2005.