18 novembro 2009

Autodefesa Intelectual

“O verdadeiro pensador crítico admite o que pouca gente está disposta a reconhecer: que não deveríamos confiar comumente em nossas percepções e memória”. (James E. Alcock)

Diariamente, lemos e ouvimos os noticiários dos jornais. As notícias pululam velozmente. Conforme for a aceitação do público, elas continuam na mídia; depois de algum tempo, caem no esquecimento. Por detrás de uma informação, há o interesse político e o da mídia de um modo geral, de sorte que a verdade nem sempre está à vista. Normand Baillargeon, em seu livro Pensamento Crítico: Um Curso Completo de Autodefesa Intelectual, discorre sobre este assunto.

Joseph Goebbels, ministro nazista de Informação e Propaganda do governo do III Reich, disse: “À custa de repetições e da ajuda de um bom conhecimento do psiquismo das pessoas envolvidas, deveria ser possível provar que um quadrado é de fato um círculo. Porque afinal o que são “círculo” e “quadrado”? Simples palavras e as palavras podem ser usadas até tornarem irreconhecíveis as ideias que veiculam”.

Para fazer uma crítica, não basta pegar a definição dada pelo dicionário, pois o dicionário fornece convenções de uma sociedade relativas ao uso das palavras, convenções explicitadas com o uso de sinônimos. A etimologia da palavra também não ajuda muito, pois o seu significado muda com o tempo. Importa mais procurar uma definição conceitual.

Os números e os gráficos também podem deformar a verdade; basta apresentá-los segundo um dado interesse. Observe a frase de Benjamin Dereca: “Existem três tipos de pessoas: as que sabem contar e as que não sabem”. Qual o enigma dessa frase? Benjamin Dereca está querendo nos mostrar que alguém não sabe contar, pois começa afirmando que há três tipos de pessoas, mas só cita dois.

Argumentar não é discutir. Discussão envolve opiniões. Argumentar é buscar a lógica da verdade.

Fonte de Consulta

BAILLARGEON, Normand. Pensamento Crítico: Um Curso Completo de Autodefesa Intelectual. Tradução de Patrícia Sá. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

 

11 novembro 2009

Ensaios (Montaigne)

Michel Eyquem de Montaigne (1533-1592) nasceu e morreu na França. Seu pai era um rico comerciante de vinho, o qual teve oportunidade de proporcionar-lhe educação esmerada, sendo que, aos 13 anos de idade, sabia mais latim do que francês. Montaigne ficou famoso pelos seus Ensaios, dividido em três livros, escritos de 1580 a 1588. Muitos usufruíram de suas lições. Na lápide de Auguste Collignon, morto em 1830, aos setenta e oito anos, havia a seguinte inscrição: “vivera para fazer o bem, tendo haurido suas virtudes nos Ensaios de Montaigne”.

Toda a filosofia de Montaigne está condensada no lema socrático: Que sais-je? ("O que é que eu sei?"), que ele mesmo mandou cunhar numa moeda. Este lema explica-se pelo ceticismo. Trata a filosofia como um saber presunçoso. "A presunção é nossa doença natural e original", e a filosofia em seus altos voos metafísicos, é apenas um produto da vaidade humana. A razão, pensa Montaigne, não pode alcançar certeza alguma, mas o homem tem de se acostumar a viver na incerteza, e suportá-la estoicamente.

O objetivo dos Ensaios era deixar com amigos e conhecidos um retrato mental dele próprio, inclusive com os seus defeitos, sem método de classificação dos assuntos. Ele dizia: “Não pinto o ser, pinto a passagem, não a passagem de uma idade a outra, de sete em sete anos, como diz o povo, mas dia a dia, minuto a minuto”. Partia de si mesmo, tentando uma generalização do ser humano. Aproveitava o ensejo para combater o egoísmo e o preconceito que grassava na sociedade.

As suas ideias eram fundamentadas nos grandes escritores do passado, principalmente Plutarco. Os pensadores estoicos influenciaram-no sobremaneira. As suas inspirações vinham deles. A sua tese educativa visava a formação do juízo (particular e moral) mais do que a do juízo científico. Para Montaigne, a filosofia é a arte de conhecer para aprender a “viver bem” e a “morrer bem”.

Alguns pensamentos extraídos dos Ensaios: “Duvidar, negar mesmo, não é deixar de aprender”; “Por diversos meios chega-se ao mesmo fim”; “As ações julgam-se pelas intenções”; “Nas terras ociosas, embora ricas e férteis, pululam as ervas selvagens e daninhas, e para aproveitá-las cumpre trabalhá-las e semeá-las a fim de que nos sejam úteis”; “Uma mesma linha de conduta pode levar a resultados diversos”; “O homem não cede a outrem a glória que conquistou”.

Segundo a crítica, Montaigne é um naturalista sem pretensão, que se compraz nas observações de cada dia. Longe de ser um estado doloroso da alma, a dúvida é, para ele, o seu estado ordinário, uma espécie de crepúsculo psicológico cheio de uma forma indecisa, e que gosta de prolongar porque se sente à vontade, independente e desligado. Quando suspendia o juízo não era para desanimar as boas vontades: reservava o seu juízo para momento mais propício, pois nada lhe custava ficar na incerteza.

Cada pessoa é única. Montaigne, por exemplo, foi o primeiro filósofo a inaugurar os ensaios, sem classificação alguma. A sua única preocupação era a de registrar a tensão formada em seu ser em seu pensamento.