27 setembro 2009

Maquiavel

"Tendo o príncipe necessidade de saber usar bem a natureza do animal, deve escolher a raposa e o leão, pois o leão não sabe se defender das armadilhas e a raposa não sabe se defender da força bruta dos lobos. Portanto é preciso ser raposa, para conhecer as armadilhas e leão, para aterrorizar os lobos." (Maquiavel)

Nicolau Maquiavel, Nicollò Machiavelli, (1469-1527) foi político, historiador e escritor italiano. Nasceu e morreu em Florença. Foi chanceler e secretário das Relações Exteriores da República de Florença, cargos modestos, apesar dos títulos, limitando-se as funções à redação de documentos oficiais. Maquiavel é mundialmente conhecido pelo livro "O Príncipe". Deixou, porém, outros escritos, tais como, Comentários sobre a Primeira Década de Tito LívioA MandrágoraHistória de Florença, além de inúmeros tratados histórico-político, poemas e sua correspondência particular, organizada pelos descendentes.

Antes de Maquiavel, o governante de um país era comparado ao piloto de um navio, que tinha por objetivo conduzi-lo ao porto, sem que afundasse. Analogamente, o governante de uma República deveria conduzir o povo, sem dispersá-lo, para a prática da virtude. Maquiavel, em O Príncipe, aceita conduzir o povo sem avarias, porém faz silêncio sobre a condução do povo à virtude. Tem dúvidas quanto ao realizar a justiça. O Príncipe retrata o descontentamento do seu autor por ter sido banido da vida pública. O que está por detrás do livro é a aparência do bom e do virtuoso que o condutor do povo deve ter. Não importa se o ser humano é virtuoso, mais vale parecer virtuoso.

Maquiavel não é considerado um educador em termos do adestramento para a aquisição de conhecimentos e habilidades específicas, mas fundamentalmente, um educador da cidadania, que é a formação do ser humano, para que ele faça parte ativa de uma cidade. Em linhas gerais, Maquiavel trata de investigar se é possível encontrar uma solução pacífica em meio aos desejos ambiciosos e egoístas que predispõem os indivíduos à desagregação e ao conflito.

Maquiavel distingue uma moral do indivíduo, que visa à obtenção de virtudes, e outra para o estado, que visa a obter o bem comum, nem que para isso seja necessário o emprego do constrangimento, da coação e da persuasão. Maquiavel afirma que todo o julgamento moral deve ser secundário na conquista, consolidação e manutenção do poder. Ele diz: "Todos concordam que é muito louvável um príncipe respeitar a sua palavra e viver com integridade, sem astúcias nem embustes. Contudo, a experiência do nosso tempo mostra-nos que se tornaram grandes príncipes que não ligaram muita importância à fé dada e que souberam cativar, pela manha, o espírito dos homens e, no fim, ultrapassar aqueles que se basearam na lealdade".

Maquiavel inaugurou a astúcia inescrupulosa como método de governo. É a partir dele que o termo maquiavélico, como atitude amoral, passou a frequentar, injustamente, o vocabulário político.

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Nicolau Maquiavel é muito mais falado do que lido, mais confundido do que compreendido, pintado como autor que afirmou que os fins justificam os meios — frase que não se encontra em nenhum de seus textos. 

A pecha do "fins justificam os meios" é proveniente de sua recusa por tratar a política como questões éticas. A sua obra é preconizadora do maquiavelismo, sistema político caracterizado pelo princípio amoralista de que os fins justificam os meios. (O Melhor de Maquiavel, por Cláudio Blanc, pela Idea Editora. Bauru, 2012.)

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Maquiavel rompe com o idealismo político e traça diversos conselhos (duros) a um príncipe governante.

Segundo todas as aparências, o livro de Maquiavel sustentava que o sucesso político sobrepuja a moral, que a força faz o direito, e que os fins justificam os meios.

"O Príncipe, com sua separação da ética em relação à política, fez de Maquiavel o pensador político mais difamado desde o Trasímaco da República de Platão. No entanto, é discutível se o próprio Maquiavel aprovava e defendia as doutrinas que ele descreveu, ou se ele meramente relatou que elas refletiam a prática real".

"O livro de Maquiavel foi apresentado criticamente ao longo dos séculos seguintes no conflito contínuo entre o utopismo político e a realpolitik (política realista). E até hoje a questão de se um árbitro político deveria deixar sua moralidade pessoal em casa ao ir para o escritório continua a ser um assunto de vivo debate". (RESCHER, Nicholas. Uma Viagem pela Filosofia: em 101 Casos Anedóticos. Tradução André Oídes. São Paulo: Ideias e Letras, 2018.)

 




02 setembro 2009

Símbolo e Simbologia

“Um sinal é uma parte do mundo físico do ser (being), um símbolo é uma parte do mundo humano da significação (meaning)”. E. Cassirer, An Essay mon Man, p. 32.

Há duas maneiras de representar o mundo. Uma direta, em que objeto se apresenta à nossa frente; outra indireta, quando por qualquer razão o objeto não pode se apresentar em “carne e osso”. A forma indireta representa o símbolo, que pode ser usado indiferentemente como “imagem”, “figura”, “ícone”, “ídolo”, “signo”, “emblema”, “parábola”, “mito” etc.

Símbolo é um sinal particular, que pode ser expresso com figuras, imagens, palavras e gestos. Do gr. symbolon, neutro, vem de symbolé‚ que significa aproximação, ajustamento, encaixamento, cuja origem etimológica é indicada pelo prefixo syn, com e bolé, donde vem o nosso termo bola, roda, círculo. Referia-se, deste modo, à moeda usada como sinal. O símbolo é, pois, tudo quanto está em lugar de outro.

Filosoficamente, o símbolo pode ser assim conceituado. Ao o passo que um sinal de um objeto de percepção é uma parte do objeto que evoca o todo ou a porção do todo que mais interessa ao sujeito, um símbolo é algo que evoca, não o objeto de percepção, mas a concepção que temos do objeto. Este poder de compreender e interpretar símbolos diz respeito à mentalidade humana. Os animais, por exemplo, não têm essa capacidade. Diz-se que o cão pode se impressionar com a vista de um gato, mas não sente reação alguma ao ver um desenho que represente o gato.

Todo símbolo é sinal, mas nem todo sinal é símbolo. O símbolo é a espécie e o sinal o gênero. Para que o sinal seja símbolo ele tem que estar no lugar de outro. O sinal pode ser apenas convencional, arbitrário. O símbolo, não. Este deve repetir, analogicamente, algo do simbolizado. Além disso, o símbolo é meio de acesso às realidades pessoais, misteriosas e inacessíveis a uma observação direta e imediata. Por exemplo: o signo bandeira simboliza os vários graus de heroísmo.

O ser humano, praticamente, não dispõe de um símbolo mais privilegiado para a comunicação do que a palavra. Imagine um indivíduo feito uma estátua. Nessa circunstância, é difícil sondar-lhe o pensamento e o sentimento. Porém, ao se expressar, torna-se logo conhecido. Além da transmissão de conteúdo, a palavra é muito mais um instrumento de comunicação espiritual: faculta ao ouvinte a elaboração de novas ideias sobre o discurso proferido.

A parábola, por definição, é uma narrativa alegórica na qual o conjunto de elementos evoca, por comparação, outras realidades de ordem superior. Jesus falava por parábolas no sentido de despertar a curiosidade dos ouvintes para, depois, dar as explicações necessárias. Na realidade, as parábolas são verdadeiros conjuntos simbólicos do Reino de Deus e os simples exemplos morais.

A importância do símbolo é tamanha que a filosofia tem uma matéria chamada simbólica, cujo objetivo é estudar a gênese, o desenvolvimento, a vida, a morte e a ressurreição dos símbolos.