Os sociólogos preferem se concentrar nos "fracassos" e não nos
"sucessos". Em termos sociais, os pobres, as pessoas que dormem
debaixo da ponte e os favelados são classificados como fracassos. Os
bem-sucedidos, ou seja, aqueles que encontraram a sua carreira, casaram-se e
tiveram filhos são classificados como sucessos. Como, portanto, tratar do sucesso,
ou melhor, daquilo que vem depois de obter o sucesso? Foi o que fez Ray Pahl,
em seu livro, Depois do Sucesso, pela editora Unesp.
O sucesso, na antiguidade grega, era um termo
carregado de culpa e de medo. Não tanto pela aquisição de riqueza, mas pela ultrapassagem
de seus limites. Aludiam ao termo koros. A palavra koros era
usada para descrever o comportamento do ser humano que ultrapassava os limites
da ganância. Esse homem agarra mais do que lhe é necessário, como o glutão que
continua a empanturrar-se quando já não tem mais fome. Hesíodo, Sólon e Teógnis
achavam que a cobiça e a corrupção dos governantes eram o pior dos males de seu
tempo.
Na sociedade moderna, especificamente depois da
Revolução Industrial, na Inglaterra, e do surgimento do Capitalismo, nos
Estados unidos, o sucesso passa a ser visto como a aquisição de uma profissão,
de uma carreira. Keneth E. Boulding, autor de vários livros de economia,
chama-nos a atenção para a escolha de uma profissão. Ele nos alerta para os
desvios de cérebros vigorosos, que poderiam ter dado uma enorme contribuição na
ciência, voltarem-se para o Direito, onde poderiam se tornar juiz e, com isso,
alcançar um status bem mais elevado do que um simples
cientista.
A procura por cargo e status trouxe,
às modernas sociedades, um fato novo: a ansiedade e o estresse. Pergunta-se:
por que o homem trabalha tanto, mesmo depois de ter obtido o sucesso? É que a
riqueza, por mais paradoxal que pareça, clama por mais riqueza. A
insaciabilidade humana difunde-se na acumulação de bens. Com isso, muitos seres
humanos, que obtiveram o sucesso, acabam se julgando fracassados. Faltou-lhes o
cultivo da alma, a parte mais importante do seu ser.
Paralelamente ao sucesso, acrescentamos o
surgimento dos meios de comunicação de massa e os avanços da informática,
principalmente pelos infinitos usos proporcionados pela Internet. A
globalização tende a padronizar usos costumes: um filme, rodado na Coréia do
Sul, tem o mesmo teor sanguinário e violento dos filmes americanos. Hoje, o
incentivo ao consumo pelo cartão eletrônico, é sem limite. A mídia nos diz: "Consuma,
consuma e será feliz". Vamos ao Supermercado e não temos nenhum receio de
fazer a compra do mês, para pagá-la em trinta ou sessenta dias.
Obter o equilíbrio psíquico, físico e espiritual
não é tarefa fácil. Urge voltarmos aos clássicos, a fim de aprendermos, com
eles, a impor limites às nossas necessidades. A falta de dinheiro é, muitas
vezes, o verdadeiro estímulo ao nosso progresso moral e espiritual. Quem sabe
se o seu excesso não estaria prejudicando a nossa felicidade?
Fonte de Consulta
PAHL, Ray. Depois do Sucesso: ansiedade
e identidade fin-de-siècle. Tradução de Gilson Cesar Cardoso de
Sousa. São Paulo: Unesp, 1997. (Biblioteca básica)
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