Fundamento é uma palavra que comporta vários significados: origem,
princípio, razão de ser, finalidade etc. Os diferentes sentidos estão
consubstanciados em muitas expressões de uso corrente: fundamento da fé,
fundamento de uma atitude, fundamento da ciência etc. Cabe-nos verificar se,
nessas diferentes expressões, a palavra alude ou não a um conteúdo comum que se
poderia determinar como "essência" do fundamento.
Aristóteles, a propósito do fundamento entendido como
princípio, ou causa, estabeleceu uma classificação que se tornou clássica na
história da filosofia. 1º) causa significa a matéria,
imanente, de que uma coisa é feita: o bronze da estátua; a prata da jarra
etc. 2º) causa é a forma, o paradigma, a definição da
essência: a forma do jarro. 3º) causa significa, também, o primeiro princípio
da mudança ou do repouso: o pai do filho; o escultor da estátua etc. 4º) causa
como finalidade, razão de ser, telos, em grego: a saúde é a causa
final do remédio.
Leibniz, no século XVIII, entende por fundamento o
"princípio de razão suficiente", baseando-se na fórmula nihil
est sine ratione, nada é sem razão. Para Hegel, o problema do
fundamento está implicitamente contido na questão da dialética, cuja categoria
primordial é o da totalidade. Quer dizer, todos os seres, com exceção do
absoluto, são relativos, isto é, dependentes, pois não têm em si mesmos a
razão, o "fundamento" de sua existência. Para Marx, o
fundamento não se apresenta em termos metafísicos ou epistemológicos, mas em
termos sociais e históricos. Para ele, ser radical é tomar as coisas pela raiz
e, para o homem, a raiz, o fundamento é o próprio homem.
O elemento comum a
todas essas análises, no sentido restrito da ciência, é que o fundamento como
princípio, axioma, postulado, definição deve ser aceito sem discussão e do qual
se parte para demonstrar teorias, hipóteses e teoremas. O movimento na Física,
por exemplo, é um princípio aceito pelos físicos sem discussão. A crítica
compete à filosofia que, por sua natureza, busca as causas primeiras.
Assim, a filosofia, criticando os
"fundamentos" das ciências particulares que, à luz de tal crítica não
se revelam últimos ou remotos, mas próximos ou imediatos, a filosofia tem
procurado o fundamento último da essência, da existência e do conhecimento, o
princípio além do qual não seja possível remontar.
Esse pequeno estudo do
"fundamento" leva-nos a refletir na quantidade de palavras que
escrevemos e pronunciamos diariamente sem alcançar-lhe a profundidade do
entendimento. É preciso muito esforço e muita dedicação para obter as luzes do
conhecimento verdadeiro.
Fonte de Consulta
CORBISIER, R. Enciclopédia
Filosófica. 2. ed., Civilização Brasileira, 1987.
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